Um telescópio na Lua para observar a Terra
Telescópio para observar a Terra
O anúncio de propostas para construir dois supertelescópios na Lua,
feito no mês passado, trouxe à tona outras ideias para levar a astronomia para
além da órbita terrestre.
Acontece que o acoplamento entre o vento solar e a magnetosfera
terrestre, que nos protege dessa radiação solar e dos raios cósmicos, é um
processo dinâmico ainda pouco entendido, mas que é crucial para o clima
espacial. Para entender essa dinâmica, é necessário entender os processos em
escala global, o que envolve o transporte de massa e energia e o acoplamento
entre as diferentes regiões do entorno da Terra.
No entanto, confiar em medições feitas localmente - mesmo que feitas em
diversos pontos por amostragem - não é suficiente para compreender esses
efeitos globais conforme eles se desenrolam de forma variável, dependendo dos
níveis de radiação solar que chegam ao nosso planeta.
Por isso, pesquisadores chineses estão propondo usar a Lua como uma
plataforma para obter uma visão global da magnetosfera da Terra, através do
desenvolvimento de um observatório que Yihong Guo e seus colegas chamam de LSXI
(Lunar-based Soft X-ray Imager, ou Imageador de Raios X Moles Baseado na Lua) -
raios X são divididos em moles e duros de acordo com sua energia.
Telescópio de raios X
O LSXI é um telescópio de raios X moles - até 5.000 elétron-Volts - de
amplo campo de visão, que pode obter imagens da magnetosfera terrestre com base
na emissão de raios X gerada quando os íons da radiação solar impactam átomos
neutros ou moléculas na atmosfera terrestre, um fenômeno só recentemente
descoberto, chamado troca de cargas.
Hoje, a maior parte do nosso conhecimento sobre a resposta da
magnetosfera às atividades solares vem de medições pontuais de satélites e das
análises de modelos teóricos. Missões, como a Cluster e Double Star, forneceram
informações importantes sobre o plasma local. No entanto, devido aos pontos de
observação limitados, é difícil compreender as interações gerais do vento solar
com a magnetosfera no nível do sistema como um todo, e menos ainda ser capaz de
prever sua dinâmica global.
Recentemente foi desenvolvida uma nova técnica para gerar imagens
desses raios X moles, inspirada na estrutura dos olhos das lagostas. O novo
telescópio de raios X moles foi então criado a partir dessa tecnologia de
imageamento e da detecção da troca de cargas do vento solar.
Foram estes dois avanços que viabilizaram a ideia do telescópio lunar
para observar como a Terra reage ao vento solar. Para tornar tudo ainda melhor,
os pesquisadores adicionaram um amplo campo de visão e capacidades
espectroscópicas.
Vantagens de um telescópio na Lua
Em comparação com outros esquemas de observação, uma plataforma lunar
tem muitas vantagens. Em primeiro lugar, a Lua está em rotação sincronizada com
a Terra e, portanto, irá sempre captar imagens do mesmo lado da Terra. Com
isto, a Lua se torna um excelente local para uma observação contínua das
interações vento solar-magnetosfera.
Em segundo lugar, a Lua está a cerca de 60 raios terrestres de
distância da Terra, de modo que o LSXI poderia cobrir toda a região da
magnetopausa do lado do dia, incluindo o arco de choque, a magnetopausa e as
cúspides. Isso permitirá fazer o monitoramento global do processo dinâmico
durante as interações vento solar-magnetosfera.
Finalmente, a Lua é uma plataforma de observação permanente e estável, com
o ciclo de vida do observatório não sendo tão limitado quanto o dos satélites,
podendo cobrir um ou mais ciclos solares.
Depois de executar com sucesso as fases iniciais do projeto, a equipe
chinesa agora está propondo planos para o prosseguimento dos estudos, incluindo
a participação de outras equipes e a elaboração dos projetos para a construção
dos equipamentos.
Fonte: Site Inovação Tecnológica
Comentários
Postar um comentário
Se você achou interessante essa postagem deixe seu comentario!