Pela primeira vez, astrônomos flagram momentos finais de remanescentes planetários
Astrônomos da Universidade de Warwick, no Reino Unido, afirmam ter
observado o exato momento em que restos de planetas destruídos impactam a
superfície de uma estrela anã branca. Um artigo publicado nesta quarta-feira
(9), na revista Nature, descreve os resultados do que pode ser a primeira
medição direta do acréscimo de material rochoso em uma anã branca, confirmando
décadas de evidências indiretas de adição em mais de mil estrelas até agora.
Segundo os autores do estudo, o evento observado ocorreu bilhões de
anos após a formação do sistema planetário analisado, e foi detectado por meio
de raios-X.
O destino da maioria das estrelas, como o nosso Sol, é se tornar uma
anã branca. Mais de 300 mil anãs brancas foram descobertas em nossa galáxia, e
acredita-se que muitas estão acumulando os detritos de planetas e outros
objetos que já as orbitaram.
Por décadas, cientistas usaram espectroscopia em comprimentos de onda
ópticos e ultravioletas para medir as abundâncias de elementos na superfície
das estrelas e descobrir a partir disso a composição do objeto de onde esses
elementos vieram. Assim, os astrônomos têm evidências indiretas de que esses
objetos estão ativamente se acumulando. As observações espectroscópicas mostram
entre 25% e 50% das anãs brancas com elementos pesados como ferro, cálcio e
magnésio poluindo suas atmosferas. Até agora, no entanto, eles não tinham visto
o material sendo atraído para a estrela.
“Finalmente, vimos material entrando na atmosfera da estrela”, declarou
Tim Cunningham, professor do Departamento de Física da Universidade de Warwick
e autor principal do estudo. “É a primeira vez que conseguimos obter uma taxa
de acreção que não depende de modelos detalhados da atmosfera da anã branca. O
que é bastante notável é que ele concorda extremamente bem com o que foi feito
antes”.
De acordo com Cunningham, anteriormente, as medidas das taxas de
acreção que utilizavam espectroscopia dependiam de modelos de anã branca.
“Estes são modelos numéricos que calculam a rapidez com que um elemento se
afunda da atmosfera para dentro da estrela, e isso lhe diz o quanto está caindo
na atmosfera como uma taxa de acreção. Você pode então trabalhar para trás e
descobrir o quanto de um elemento estava no corpo original, seja um planeta, lua
ou asteroide”.
Uma anã branca é uma estrela que queimou todo o seu combustível e
expeliu suas camadas externas, potencialmente destruindo ou perturbando
quaisquer corpos orbitais no processo.
À medida que o material desses corpos é atraído para dentro da estrela
a uma taxa alta o suficiente, ele bate em sua superfície, formando um plasma
aquecido por choque. Esse plasma, com uma temperatura entre 100 mil e um milhão
de graus kelvin, então, se instala na superfície, e à medida que esfria, emite
raios-X que podem ser detectados.
Astrônomos usaram dados do
Observatório de Raios-X Chandra
Raios-X são semelhantes à luz que nossos olhos podem ver, mas têm muito
mais energia. Eles são criados por elétrons muito rápidos (as conchas externas
dos átomos, que compõem toda a matéria ao nosso redor). Comumente conhecido por
seu uso na medicina, os raios-X, na astronomia, são a impressão digital chave
do material que chove em objetos exóticos, como buracos negros e estrelas de
nêutrons.
Usando dados do Observatório de Raios-X Chandra, normalmente usado para
detectar raios-X de buracos negros e estrelas de nêutrons que estão se
acumulando, os astrônomos puderam para analisar a anã branca próxima G29-38.
Com a melhor resolução angular de Chandra sobre outros telescópios,
eles puderam isolar a estrela alvo de outras fontes de raios-X e visualizaram,
pela primeira vez, raios-X de uma anã branca isolada.
“O que é realmente emocionante sobre esse resultado é que estamos trabalhando em um comprimento de onda diferente, raios-X, e isso nos permite sondar um tipo completamente diferente de física”, disse Cunningham. “Essa detecção fornece a primeira evidência direta de que as anãs brancas estão atualmente acumulando os remanescentes de antigos sistemas planetários. Sondar o acréscimo dessa forma fornece uma nova técnica pela qual podemos estudar esses sistemas, oferecendo um vislumbre do provável destino dos milhares de sistemas exoplanetários conhecidos, incluindo nosso próprio sistema solar”.
Fonte: Olhar Digital
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