Gliese 486 b: uma Pedra de Roseta para o estudo exoplanetário
Uma equipe internacional, com a participação do IAC (Instituto de
Astrofísica de Canarias), mediu a massa e o raio de um exoplaneta do tipo Terra
com uma precisão sem precedentes. A análise detalhada permite fazer previsões
robustas sobre a estrutura e composição do seu interior e atmosfera. O estudo
foi publicado na revista Astronomy & Astrophysics.
Desde que o primeiro exoplaneta em torno de uma estrela do tipo solar,
51 Pegasi b, foi descoberto em 1995, a comunidade astronómica tem vindo a
encontrar novos exoplanetas cada vez menos massivos, cada vez mais próximos e
cada vez mais semelhantes à Terra.
Uma investigação recente, liderada pelo CAB (Centro de Astrobiologia,
na Espanha), foi capaz de modelar o interior e estimar as dimensões relativas
do núcleo (metálico) e do manto (rochoso) do exoplaneta Gliese 486 b, uma
super-Terra quente descoberta em 2021 em órbita da estrela anã vermelha próxima
Gliese 486, a apenas 26 anos-luz do Sol.
Ilustração artística da hipotética atmosfera e estrutura interna do exoplaneta Gliese 486 b.Crédito: RenderArea
Graças a dados cuidadosamente obtidos com um conjunto de instrumentos e telescópios espaciais, tais como o CHARA, CHEOPS, o Telescópio Espacial Hubble, MAROON-X, TESS e CARMENES, a equipa também fez previsões sobre a composição da atmosfera do planeta e a sua detetabilidade com o Telescópio Espacial James Webb, que em breve apontará o seu espelho segmentado para o sistema planetário. Gliese 486 b tornou-se a Pedra de Roseta da exoplanetologia", explica José A. Caballero, investigador do CAB que liderou a investigação. "No Sistema Solar, temos os planetas terrestres Mercúrio, Vénus, Terra e Marte. Agora, o quinto planeta terrestre mais bem estudado do Universo é Gliese 486 b."
Para a equipe científica, os resultados mais importantes por detrás
deste trabalho não são os valores em si, mas as oportunidades que eles oferecem
a estudos futuros. Estes incluem os relacionados com a formação de campos
magnéticos planetários no núcleo externo metálico líquido, porque Gliese 486 b
parece ter um como a nossa Terra. Estes campos magnéticos podem atuar como um
escudo contra as tempestades originadas na hospedeira estelar e prevenir a
erosão da atmosfera.
Embora Gliese 486 b pareça ser demasiado quente para ser habitável,
devido à sua caracterização precisa, pode tornar-se o primeiro (e único, de
momento) planeta onde podemos formular questões relevantes, tais como se tem
uma atmosfera primitiva feita de hidrogénio e hélio, ou se é composta de
dióxido de carbono e vapor de água de erupções vulcânicas, ou até se tem
tectónica de placas.
Muitos dos dados utilizados no estudo foram obtidos com o espectrógrafo
CARMENES, acoplado no telescópio de 3,5 m em Calar Alto, Almeria, Espanha. O
consórcio deste instrumento compreende onze instituições de investigação na
Espanha e na Alemanha. O seu objetivo é a monitorização de cerca de 350 anãs vermelhas
em busca de sinais de planetas de baixa massa.
Os cientistas também obtiveram observações espectroscópicas com o
MAROON-X no telescópio Gemini North de 8,1 m (EUA) e com o instrumento STIS, a
bordo do Telescópio Espacial Hubble. As observações fotométricas para derivar o
tamanho do planeta provêm do CHEOPS (CHaracterising ExOPlanets Satellite) e do
TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite) da NASA.
O raio da estrela foi medido com a rede CHARA (Center for High Angular Resolution Astronomy) em Mount Wilson, Califórnia. Uma bateria de telescópios mais pequenos, incluindo telescópios amadores, foi utilizada para determinar o período de rotação da estrela.
Fonte: Astronomia OnLine
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