Gemini North detecta vários elementos formadores de rochas na atmosfera de um exoplaneta escaldante
Astrónomos,
recorrendo ao telescópio Gemini North, uma metade do Observatório Internacional
Gemini operado pelo NOIRLab (National Optical-Infrared Astronomy Research
Laboratory) da NSF (National Science Foundation), detetaram múltiplos elementos
formadores de rocha na atmosfera de um exoplaneta do tamanho de Júpiter,
WASP-76b.
Esta impressão artística ilustra como astrônomos usando o telescópio Gemini North, metade do Observatório Internacional Gemini operado pelo NOIRLab da NSF, fizeram várias detecções de elementos formadores de rochas na atmosfera de um exoplaneta do tamanho de Júpiter, WASP-76b. O chamado "Júpiter quente" está perigosamente perto de sua estrela hospedeira, que está aquecendo a atmosfera do planeta a temperaturas surpreendentes e vaporizando elementos formadores de rochas, como magnésio, cálcio e ferro, fornecendo informações sobre como nosso próprio Sistema Solar se formou. Crédito: Observatório Internacional de Gêmeos/NOIRLab/NSF/AURA/J. da Silva/Spaceengine/M. Zamani
O
planeta está tão perigosamente perto da sua estrela hospedeira que os elementos
formadores de rocha - como o magnésio, o cálcio e o níquel - são vaporizados e
dispersos pela sua atmosfera abrasadora. Este perfil químico intrigante fornece
novos conhecimentos sobre a formação de sistemas planetários, incluindo o
nosso.
WASP-76b
é um mundo estranho. Localizado a 634 anos-luz da Terra, na direção da
constelação de Peixes, o exoplaneta semelhante a Júpiter orbita a sua estrela
hospedeira a uma distância excecionalmente íntima - cerca de 12 vezes mais
perto do que Mercúrio está do Sol - o que aquece a sua atmosfera a uns
abrasadores 2000° C. Estas temperaturas extremas "incharam" o
planeta, aumentando o seu volume para quase seis vezes o de Júpiter.
A
temperaturas tão extremas, os elementos formadores de minerais e rochas, que de
outra forma permaneceriam escondidos na atmosfera de um planeta gigante gasoso
mais frio, podem revelar-se.
Utilizando
o telescópio Gemini North, uma metade do Observatório Internacional Gemini
operado pelo NOIRLab da NSF, uma equipa internacional de astrónomos detetou 11
destes elementos formadores de rocha na atmosfera de WASP-76b. A presença e as
quantidades relativas destes elementos podem fornecer informações fundamentais
sobre a forma exata como os planetas gigantes gasosos se formam - algo que
permanece incerto mesmo no nosso próprio Sistema Solar. Os resultados foram
publicados na revista Nature.
Desde
a sua descoberta em 2013, durante o levantamento WASP (Wide Angle Search for
Planets), que muitos astrónomos têm vindo a estudar o enigmático WASP-76b.
Estes estudos levaram à identificação de vários elementos presentes na
atmosfera do exoplaneta quente. Nomeadamente, num estudo publicado em março de
2020, uma equipa concluiu que poderia haver chuva de ferro no planeta.
Ciente
destes estudos existentes, Stefan Pelletier, estudante de doutoramento do
Instituto Trottier para Investigação Exoplanetária da Universidade de Montréal
e autor principal do artigo científico, foi inspirado a explorar os mistérios
deste estranho exoplaneta e a química da sua atmosfera escaldante.
Em
2020 e 2021, usando o instrumento MAROON-X do Gemini North (um novo instrumento
especialmente concebido para detetar e estudar exoplanetas), Pelletier e a sua
equipa observaram o planeta à medida que este passava em frente da estrela
hospedeira em três ocasiões distintas.
Estas
novas observações revelaram uma série de elementos formadores de rocha na
atmosfera de WASP-76b, incluindo sódio, potássio, lítio, níquel, manganês,
crómio, magnésio, vanádio, bário, cálcio e, tal como detetado anteriormente,
ferro.
Devido
às temperaturas extremas da atmosfera de WASP-76b, os elementos detetados pelos
investigadores, que normalmente formariam rochas aqui na Terra, são, ao invés,
vaporizados e, portanto, presentes na atmosfera nas suas formas gasosas. Embora
estes elementos contribuam para a composição dos gigantes gasosos do nosso
Sistema Solar, esses planetas são demasiado frios para que os elementos se
vaporizem na atmosfera, tornando-os praticamente indetetáveis.
"São
verdadeiramente raras as vezes em que um exoplaneta a centenas de anos-luz de
distância nos pode ensinar algo que, de outra forma, seria impossível saber
sobre o nosso próprio Sistema Solar", disse Pelletier. "É esse o caso
com estudo".
A
abundância de muitos destes elementos coincide de perto com as abundâncias
encontradas tanto no nosso Sol como na estrela hospedeira do exoplaneta. Isto
pode não ser coincidência e fornece mais evidências de que os planetas gigantes
gasosos, como Júpiter e Saturno, são formados de modo mais parecido com as
estrelas - coalescendo a partir do gás e da poeira de um disco protoplanetário
- em vez da gradual acreção e colisão de poeira, rochas e planetesimais, que
vão formar planetas rochosos, como Mercúrio, Vénus e a Terra.
Outro
resultado notável do estudo é a primeira deteção inequívoca de óxido de vanádio
num exoplaneta. "Esta molécula é de grande interesse para os astrónomos
porque pode ter um grande impacto na estrutura atmosférica dos planetas
gigantes quentes", diz Pelletier. "Esta molécula desempenha um papel
semelhante ao do ozono, sendo extremamente eficiente no aquecimento da
atmosfera superior da Terra."
Pelletier
e a sua equipa estão motivados para aprender mais sobre WASP-76b e outros
planetas ultraquentes. Esperam também que outros investigadores aproveitem o
que aprenderam com este exoplaneta gigante e o apliquem para compreender melhor
os nossos próprios planetas do Sistema Solar e a forma como surgiram.
"Disponível
para os astrónomos de todo o mundo, o Observatório Internacional Gemini
continua a fornecer novos conhecimentos que contribuem para a nossa compreensão
da estrutura física e química de outros mundos. Através destes programas de
observação, estamos a desenvolver uma imagem mais clara do Universo em geral e
do nosso lugar nele", disse o diretor do programa do Observatório Gemini
da NSF, Martin Still.
"Gerações
de investigadores utilizaram as medições das abundâncias de hidrogénio e hélio
de Júpiter, Saturno, Úrano e Neptuno para avaliar as teorias de formação de
planetas gasosos", afirma Björn Benneke, professor da Universidade de
Montréal e coautor do estudo. "Da mesma forma, as medições de elementos
mais pesados como o cálcio ou o magnésio em WASP-76b ajudarão a compreender
melhor a formação de planetas gasosos."
Fonte: noirlab.edu
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