Pesquisa da USP dá novas pistas sobre exoplanetas
Estudo indica que esses corpos
celeste, fora do Sistema Solar, têm ao menos um elemento químico em menor
quantidade, o lítio, em comparação com os demais astros
Imagem artística da formação de um sistema planetário, composto de rochas e metais, inclusive de "ladrões" de elementos químicos - (crédito: NASA/Lynette Cook)
Cientistas
da Universidade de São Paulo (USP) encontraram uma nova forma de estimar a
existência de exoplanetas — aqueles que estão fora do Sistema Solar e, assim
como a Terra, orbitam uma estrela. Segundo o estudo detalhado, na revista
Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, a pista é a pouca presença
do elemento químico lítio nos astros brilhantes. No trabalho, a equipe usou
informações de um equipamento do Observatório de La Silla, no Chile, e avaliou
152 corpos celestes. Os pesquisadores afirmam que a precisão dessa relação é de
99%.
Conforme
o artigo, o equipamento utilizado — um espectrógrafo — age como um prisma,
decompondo a luz da estrela em diferentes frequências. Assim consegue revelar
assinaturas que refletem a composição química do objeto. Seguindo esse
princípio, os pesquisadores determinaram o conteúdo de lítio dos astros, para
comparar a abundância da substância entre 36 estrelas orbitadas por planetas e
156 solitárias.
Para
a comparação, a equipe selecionou estrelas com massas, idades e quantidade de
metais semelhantes. Os resultados encontrados revelaram que aquelas que não têm
planetas conservam aproximadamente o dobro do conteúdo de lítio das associadas
a exoplanetas. Testes estatísticos feitos pelos autores indicaram também que é
improvável que a descoberta tenha sido ao acaso; ou seja, a probabilidade de
que o resultado reflita o comportamento real é alta, cerca de 99%.
Empobrecimento
"A
hipótese que defendemos é que isso ocorre devido ao processo de formação dos
sistemas planetários", explica Anne Rathsam, autora principal do trabalho
e doutoranda da USP. "Os corpos celestes são gerados a partir da mesma
nuvem molecular e, portanto, têm os mesmos elementos disponíveis para sua
formação", acrescenta.
Ainda
segundo Rathsam, os elementos químicos que se condensam com facilidade em altas
temperaturas — chamados de refratários —, como o lítio e o ferro, formam
sólidos e compõem os planetas rochosos. "Acreditamos que o lítio tenha
sido 'roubado' das estrelas pelos planetas que as orbitam durante sua formação,
deixando-as empobrecida dessa substância", observa.
De
acordo com Jorge Meléndez, professor doutor da USP e coautor do artigo, a
descoberta tem muitas aplicações na ciência astronômica e oferece uma
ferramenta mais eficaz para localizar exoplanetas. "A observação do lítio
pode ser feita em apenas uma única data. Já os métodos tradicionais de detecção
de planetas requerem observações em longas escalas de tempo, tipicamente
obtidas ao longo de anos, e em alguns casos não é detectado nenhum
planeta."
Para
o especialista, a abordagem também economiza esforços de pesquisadores. "O
lítio pode poupar muito tempo, pois primeiro pode ser feita apenas uma
observação para caracterizá-lo e, caso a estrela seja promissora, pode ser
feita uma pesquisa específica para a busca por novos exoplanetas."
Cadeirão de
partículas
Na
astronomia, estudar a substância tem relevância fundamental. Sua presença em
estrelas mais antigas ajuda a conhecer um pouco mais sobre o espaço. "Como
o universo está em expansão, isso significa que no passado já foi muito mais
denso e quente. Nos primeiros minutos após o Big Bang, as condições físicas
permitiram que nesse caldeirão de partículas, se formassem hidrogênio, hélio e
lítio, os primeiros elementos da tabela periódica a serem produzidos, logo após
a origem do universo há 13,8 bilhões de anos", narra o professor.
"Os
outros elementos químicos foram formados no interior das estrelas. Embora fosse
produzida apenas uma pequena quantidade de lítio, é o suficiente para ser
observada nas estrelas mais antigas da Via Láctea, que carregam essa informação
'fóssil' do agitado início do nosso universo", completa o Meléndez.
Anne
Rathsam considera que, por ser muito frágil e facilmente destruído sob o calor
do interior estelar, estudar a quantidade de lítio é uma excelente oportunidade
para saber o que ocorre dentro dos objetos brilhantes. "Em particular,
conseguimos muitas informações sobre fenômenos de transporte de material na
estrela, pois, para que o lítio seja destruído, ele deve ser levado a regiões
internas o suficiente, onde as temperaturas são mais altas."
Para
os pesquisadores, entre os desafios para esse tipo de trabalho é conseguir
observações de alta qualidade para determinar o conteúdo do astro com precisão.
"Dependendo das propriedades da estrela, a linha de lítio que observamos
pode ser extremamente fraca, e podem ser necessárias várias horas de observação
para atingir um alto sinal, que permita uma boa detecção do lítio."
Meléndez
conta que o projeto continua sendo ampliado. "Atualmente, estamos
aumentando a nossa amostra com novas estrelas, o que permitirá quantificar
melhor a relação entre exoplanetas e o conteúdo de lítio de suas estrelas
mães." Anne Rathsam acrescenta que novos elementos serão incluídos na
pesquisa.
"Também
estudaremos a abundância de berílio em algumas das nossas estrelas. Assim como
o lítio, o berílio é um elemento refratário. Portanto, se nossa hipótese
estiver correta, as estrelas com planetas também devem ter abundâncias de
berílio mais baixas."
Fonte: CB - Ciência e Saúde
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