Potenciais novos mundos "resgatados" por voluntários de ciência cidadã
Astrónomos de
"bancada" fizeram quase de certeza uma série de descobertas
excitantes, incluindo dois possíveis exoplanetas do tamanho de Júpiter -
planetas para lá do nosso Sistema Solar - num projeto internacional de ciência
cidadã.
Impressão de artista do exoplaneta Tau Boötis b, um dos primeiros exoplanetas a ser descoberto, em 1996. Crédito: ESO
O projeto Planet Hunters NGTS
(Next-Generation Transit Survey) foi criado em 2021 na esperança de descobrir
novos exoplanetas, envolvendo voluntários para examinar os dados dos
telescópios NGTS no Chile. Os telescópios NGTS observam o céu noturno, monitorizando
o brilho de milhares de estrelas para procurar quaisquer quedas na sua luz que
possam ser causadas pela passagem de um exoplaneta em frente da estrela
hospedeira.
O primeiro exoplaneta foi
descoberto em 1992. Atualmente, os astrónomos encontraram quase 6000 mundos a
orbitar estrelas distantes dentro da nossa Galáxia, a Via Láctea. Cada novo
exoplaneta fornece informações valiosas sobre a forma como os planetas se formam
e evoluem e sobre como sistemas solares muito diferentes do nosso funcionam.
Um artigo científico publicado na
revista The Astronomical Journal descreve as descobertas mais promissoras do
projeto Planet Hunters NGTS até à data, com a ajuda de quase 15.000 voluntários
de todo o mundo. O artigo foi liderado por Sean O'Brien, estudante de
doutoramento na Escola de Matemática e Física da Queen's University em Belfast,
Irlanda do Norte.
"Há muitas coisas no
universo que podem imitar os sinais dos exoplanetas que estamos a procurar. É
preciso muito trabalho para passar de candidato a planeta a planeta confirmado.
Estamos a trabalhar arduamente para confirmar e caracterizar estes candidatos a
planeta", disse O'Brien.
"É muito emocionante porque
estes achados não foram detetados inicialmente pelos astrónomos da rede NGTS,
mas foram salvos pelos voluntários do Planet Hunters NGTS que 'vasculharam'
pelos dados".
Achado raro
A descoberta mais importante até
agora é a deteção de um candidato a exoplaneta, com cerca do tamanho de
Júpiter, em órbita de uma estrela anã vermelha, uma estrela mais pequena do que
o nosso Sol. Trata-se de uma descoberta rara dos voluntários, uma vez que
apenas foram descobertos cerca de uma dúzia de planetas gigantes em órbita de
estrelas anãs M, e coloca questões interessantes sobre a forma como estes
sistemas se podem formar.
O'Brien e os colaboradores usaram
o Observatório Gemini, também no Chile, e o seu instrumento Zorro para obter
uma visão mais clara das estrelas que hospedam os candidatos a planeta. O
instrumento Zorro utiliza uma técnica chamada "speckle imaging", que
permite aos telescópios terrestres ultrapassar grande parte do efeito de
desfocagem da atmosfera da Terra e, assim, obter imagens de muito maior
resolução.
Descoberta surpreendente
As observações do Zorro
revelaram, no avistamento de um segundo potencial exoplaneta, que o que
inicialmente se pensava ser uma estrela individual que albergava um candidato a
exoplaneta era, de facto, duas estrelas. A segunda estrela orbita a estrela primária
à mesma distância que Úrano orbita o Sol no nosso Sistema Solar. Isto sugere
que podemos estar a ver um exoplaneta a orbitar uma das duas estrelas deste
sistema binário - o que seria outra configuração rara.
A Dra. Meg Schwamb, coautora do
artigo científico, também da mesma universidade, disse que o Planet Hunters
NGTS estava a dar resultados "para além do que esperávamos". E
acrescentou:
"Este projeto foi uma aposta
ao início. Não sabíamos se havia algo escondido nos dados de arquivo do NGTS e
acabámos por encontrar não apenas um, mas dois potenciais exoplanetas
interessantes que temos de analisar mais de perto. Os resultados até agora são
entusiasmantes".
A equipa recebeu mais tempo de
telescópio para estudar alguns destes achados em maior detalhe, na esperança de
confirmar a sua natureza planetária.
"A quantidade de entusiasmo
demonstrada pelos voluntários que fizeram deste projeto o que ele é tem sido
espantosa", acrescentou O'Brien. "Temos mais dados recentemente
obtidos pelos telescópios para analisar com o projeto e estou confiante de que,
com a ajuda do público, podemos fazer descobertas ainda mais notáveis de
possíveis exoplanetas."
Participe
Os voluntários podem ter qualquer
idade, ser de qualquer parte do mundo e não é necessária qualquer formação;
tudo o que precisamos é de um navegador web para começar a procurar
exoplanetas.
Fonte: Astronomia OnLine
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