Estudo sugere um novo tipo de ligação química em estrela

Todo mundo aprende na escola que átomos podem se ligar de dois modos: cedendo (e recebendo) ou compartilhando elétrons. Agora, um grupo de cientistas faz uma descoberta que obriga a uma revisão dos livros didáticos, ao demonstrar a existência de um terceiro método. Detalhe: isso só acontece em ambientes submetidos a campos magnéticos extremos. Nada que possa se dar na Terra, ou mesmo no Sol, mas só em objetos muito densos, que produzem copiosa intensidade de magnetismo. É o caso das anãs brancas e das estrelas de nêutrons. Ambas são cadáveres estelares, por assim dizer --objetos que um dia foram estrelas convencionais, mas esgotaram seu combustível e tiveram seu núcleo esmagado pela gravidade, compactando sua matéria ao extremo.

Simulando em computador o que aconteceria com átomos nas vizinhanças desses objetos, compondo sua atmosfera, o quarteto liderado pelo norueguês Trygve Helgaker, da Universidade de Oslo, constatou que eles podem se ligar em moléculas. Mas o elo descoberto não se forma nem por ligações covalentes (em que átomos compartilham elétrons) nem por ligações iônicas (em que um átomo doa elétrons a outro). No caso, quando os átomos estão posicionados perpendicularmente à direção do supercampo magnético, isso faz com que se liguem.


PARAMAGNÉTICA
A reação, chamada de ligação paramagnética, é uma novidade no mundo da química e pode produzir moléculas improváveis, como hélio molecular (He2). O "gás nobre" hélio não costuma se combinar em moléculas --daí o apelido de "nobre".   "Claramente essa ligação magnética não tem papel na química do cotidiano", disse Helgaker à Folha. "Mas ainda assim é interessante saber que uma ligação pode ser criada por forças magnéticas, embora ela só possa ter um papel sob condições astrofísicas extremas."

Até agora, as simulações de computador do grupo de Helgaker trabalharam só com átomos de hidrogênio e hélio --os menores e mais simples.  "Nosso programa pode ser usado para átomos mais pesados, mas então temos de aplicar um modelo computacional mais simples, menos preciso", explica o pesquisador, revelando que a equipe pretende continuar explorando o campo, analisando reações e moléculas mais complexas que podem nascer de ligações paramagnéticas. Por ora, contudo, todos os resultados estão restritos à teoria. Não existem métodos capazes de produzir na Terra, nem por um instante, campos magnéticos tão intensos.

Contudo, Peter Schmelcher, cientista da Universidade de Hamburgo (Alemanha) que não participou da pesquisa, pede que não se perca a esperança para o futuro. "A energia dos campos disponíveis está crescendo paulatinamente, em particular para campos magnéticos pulsados no regime [faixa] dos mili ou microssegundos", comentou, em artigo publicado na mesma edição em que saíram os resultados de Helgaker, na revista especializada americana "Science".
Fonte: Folha.com

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