A ‘lagarta’ espacial
Crédito da imagem: Divulgação/NASA e ESA
Estrelas se formam de nuvens de gás no espaço. Essas nuvens se contraem e se fragmentam em pequenos núcleos sob a influência externa. Essa influência externa pode ser uma onda de choque decorrente da explosão de uma supernova, ou mesmo os fortes ventos emitidos por estrelas com muita massa. Seguinte à contração da nuvem, é formado um disco de acreção, onde a matéria se acumula e espirala em direção à estrela em formação. Em determinado momento a estrela inicia a “queima” do hidrogênio e entra em equilíbrio hidrostático, quando a pressão do gás quente contrabalança a força de gravidade. Depois de formada, a nebulosa que envolvia a estrela vai sendo dissipada aos poucos. Eventualmente, um sistema planetário acaba se formando dessa sobra.
O mecanismo descrito acima consegue explicar o processo de formação de estrelas, desde as anãs vermelhas, com alguns décimos da massa do Sol, até estrelas quentes com centenas de massas solares. De uma maneira geral, não existem grandes diferenças para se formar as estrelas, a despeito da grande variação de massa. O curioso, quase irônico, é a presença das estrelas massivas – OK, já andaram reclamando que massiva não existe. Por um lado é verdade, é um anglicanismo, mas como a língua é dinâmica em aceitar estrangeirismos, esse foi mais um, então existe. Em tempo, o termo apropriado em português é “massudo”.
Voltando, a presença de estrelas massivas em aglomerados desencadeia a formação de outras estrelas, promovendo a fragmentação e a contração descritos acima. Mas aí vem o curioso: as estrelas massivas também interrompem a formação de novas estrelas! Os mesmos ventos, capazes de desencadear o nascimento de novas estrelas, acabam por remover o gás da nebulosa que abastece o disco de acreção. Por vezes, esse vento é tão intenso que destrói o disco. Como consequência, as protoestrelas interrompem o processo de acúmulo de matéria e acabam se formando com menos massa do que poderiam ter. Ou pior, nem tendo a oportunidade de se formar, se um núcleo pré estelar estiver muito perto de uma estrela massiva.
Esse processo de “varrer” o gás e a poeira que formariam uma estrela pode ser visto na imagem acima, obtida pelo Hubble em 2006 e divulgada ontem. Ela mostra um desses núcleos com uma protoestrela em processo de formação. Entretanto, esse núcleo está em um dos aglomerados mais ricos em estrelas massivas, chamado Cygnus OB2. Esse aglomerado contém 65 das estrelas mais massivas, quentes e brilhantes que se conhece até hoje em nossa Galáxia, de um total que não chega a 400!
Dentro desse casulo, está uma protoestrela em processo de crescimento, chamada de IRAS 20324+4057, ganhando matéria rapidamente. Só que esse bebê está a apenas 15 anos luz de distância do aglomerado de Cygnus com mais outras 500 estrelas menos massivas mas também muito brilhantes, à direita mas fora da imagem. O efeito disso é essa “lagarta” cósmica, como resultado do processo de erosão da nuvem progenitora pelos ventos dessas estrelas. Em algum momento, o processo de acreção de gás deve ser interrompido e a estrela vai parar de engordar. Se ela será mais um peso pesado ou um peso leve como o Sol, só saberemos daqui a alguns milhões de anos.
Fonte: Observatório - Cássio Leandro Dal Ri Barbosa
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