Pulsares, o GPS do Cosmos

A navegação por pulsares é ideal para naves que viajem para lá do nosso Sistema Solar. A Voyager 1, na imagem, está agora a mais de 18 mil milhões de quilómetros do Sol e entrando no espaço interestelar.
Crédito: NASA/Astro0
 
Cientistas da agência científica australiana CSIRO (Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation) escreveram um software que pode guiar naves espaciais até Alpha Centauro, mostrar que o planeta Nibiru não existe... e provar que a Terra gira em torno do Sol. O Dr. George Hobbs e colegas estudam pulsares - pequenas estrelas em rotação com "blips" ou "pulsos" regulares de ondas de rádio e, às vezes, raios-X. Normalmente, os astrónomos estão interessados em medir, com muita precisão, quando os pulsos chegam ao Sistema Solar. Ligeiros desvios nos tempos de chegada esperados podem dar pistas sobre o comportamento do próprio pulsar, ou se orbita outra estrela, por exemplo.
 
"Mas também podemos trabalhar para trás," afirma Hobbs. "Nós podemos usar as informações dos pulsares para determinar com grande precisão a posição dos nossos telescópios. Se os telescópios estivessem a bordo de uma nave espacial, podíamos obter a posição da nave. Seriam necessárias observações de pelo menos quatro pulsares a cada sete dias. "Cada pulsar teria que ser observado durante cerca de uma hora," afirma o Dr. Hobbs. "Conseguir fazer as observações todas ao mesmo tempo ou separadamente depende das suas posições e do tipo de detector usado. "
 
Um artigo que descreve em detalhe como o sistema funciona foi aceite para publicação pela revista Advances in Space Research. As sondas e naves espaciais dentro do Sistema Solar são geralmente acompanhadas e guiadas a partir do solo: este é o papel do Complexo de Comunicações "Deep Space" do CSIRO em Canberra, por exemplo. Mas quanto mais longe está a nave, menos precisamente podemos medir a sua localização. Para viagens para lá do Sistema Solar, as naves espaciais precisariam de ter um sistema de bordo autónomo para navegação. Os giroscópios e acelerómetros são ferramentas úteis, mas as informações de posição que dão tornam-se menos precisas ao longo do tempo.
 
"A navegação com o auxílio de pulsares evita esses problemas," afirma Deng Xinping, estudante de doutoramento do Centro Nacional de Ciência Espacial em Pequim, China, que é o primeiro autor do artigo que descreve o sistema. Os cientistas propuseram a navegação por pulsares em 1974. Só recentemente é que a aplicação prática do método surgiu, com o desenvolvimento de detectores de raios-X relativamente pequenos, que podem receber os pulsos em raios-X que alguns pulsares emitem. A NASA está também a explorar esta técnica.
 
"Para a navegação no espaço profundo, podíamos usar os pulsares já observados durante muitos anos com radiotelescópios, cujos pulsos já sejam muito bem medidos," realça o Dr. Dick Manchester, também do CSIRO e membro da equipa de pesquisa. "A bordo da nave, usaríamos um telescópio de raios-X, que é muito mais pequeno e leve. Hobbs e colegas fizeram uma simulação muito detalhada de uma nave espacial com navegação autónoma até Marte usando esta combinação de tecnologias e o seu software TEMPO2.
 
"A nave pode determinar a sua posição até 20 km, e a sua velocidade até 10 cm por segundo," afirma o Dr. Hobbs. "Que tenhamos conhecimento, esta é a melhor precisão alguma vez demonstrada. Ao contrário dos trabalhos anteriores, tivemos em conta que os pulsares reais não são completamente perfeitos, que têm falhas nos tempos e assim por diante. O mesmo software que usa pulsares pode ser usado para determinar a massa de objectos no Sistema Solar. Em 2010, o Dr. Hobbs e colegas usaram uma versão anterior para "pesar" os planetas até Saturno - até seis casas decimais.
 
A Terra viaja em redor do Sol, e este movimento afecta o timing exacto da chegada dos sinais dos pulsares. Para remover este efeito, os astrónomos calculam quando os pulsos chegam ao centro de massa do Sistema Solar, em torno do qual todos os planetas orbitam. "Se os sinais de pulsares parecem chegar à hora errada, sabemos que as massas dos planetas que usamos nas equações devem estar erradas, e podemos corrigir isso," afirma Hobbs.
 
A nova versão do software permite com que os astrónomos descartem massas ocultas, incluindo quaisquer planetas supostamente não descobertos, como o notório Nibiru. "Mesmo que um planeta seja difícil de ver, não há nenhuma maneira de disfarçar a sua atracção gravitacional," afirma o Dr. Hobbs. "Se não detectarmos o puxo gravitacional, então não há nenhum planeta."
 
E o que dizer acerca da demonstração que a Terra gira em torno do Sol? Sim, o software também consegue fazer isso. "Esta dúvida foi esclarecida há um par de centenas de anos," conclui Hobbs. "Mas se ainda precisa de provas, nós temo-las."
Fonte: Astronomia On-Line

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