Levantamento mapeia locais onde as estrelas nascem
Uma equipe de astrónomos liderada por Yancy Shirley do Observatório Steward da Universidade do Arizona completou o maior levantamento de sempre de densas nuvens de gás na Via Láctea - zonas de gás e poeira onde novas estrelas estão a nascer. Catalogando e mapeando mais de 6000 nuvens de gás, o estudo permite com que os astrónomos compreendam melhor as primeiras fases da formação estelar. Quando observamos a Via Láctea numa clara noite de Verão, apercebemo-nos que não é uma corrente contínua de estrelas," afirma Shirley. "Ao invés, notamos todas aquelas pequenas manchas escuras onde parece não existir estrelas. Mas essas regiões não estão desprovidas de estrelas - são nuvens escuras que contêm gás e poeira, a matéria-prima a partir da qual as estrelas e planetas se formam na Via Láctea. De acordo com Shirley, o estudo é um importante passo em frente na Astronomia porque permite com que os astrónomos estudem as fases iniciais da formação estelar, quando o gás e poeira nas nuvens estelares estavam começando a coalescer, antes de dar origem a aglomerados de estrelas. Ele explicou que grande parte da pesquisa ao longo dos últimos 30 a 40 anos tem sido muito direccionada para regiões onde potenciais estrelas, as chamadas proto-estrelas, já começaram a tomar forma.
"Todas as grandes e famosas regiões de formação estelar na nossa Galáxia têm sido estudadas em grande detalhe," realça Shirley. "Mas sabemos muito pouco sobre o que acontece naqueles aglomerados sem estrelas, antes do nascimento das proto-estrelas, e onde. O levantamento fornece o primeiro mapa imparcial da Galáxia, que mostra onde todas essas regiões estão, em diferentes ambientes galácticos e em diferentes estágios evolutivos. Isto ajuda os astrónomos a melhor entender como as propriedades destas regiões mudam com o avançar da formação estelar.
"Os aglomerados sem estrelas só foram detectados, até à data, em pequenos números," afirma Shirley. "Agora, pela primeira vez, vimos esta primeira fase de formação estelar, antes da formação do enxame, em grandes números e de forma imparcial. De acordo com o astrónomo, a taxa de formação estelar na Via Láctea era maior no passado, e actualmente as estrelas formam-se a um ritmo de uma massa solar por ano. Quanto tempo é preciso para uma se tornar "adulta"?
Impressão de artista da Via Láctea, sobreposta com os resultados do levantamento de nuvens de formação estelar nas fases iniciais. Cada ponto representa uma densa nuvem escura de gás e poeira no processo de colapsar para dar origem a um futuro enxame de estrelas. A maioria destas regiões encontram-se nos braços espirais da Galáxia.Crédito: Renderização R. Hurt: NASA/JPL-Caltech/SSC
"Isto é algo que nós esperamos ser capazes de calcular, comparando o número de fontes naquela fase inicial, com o número de fontes numa fase posterior," explicou Shirley. "A relação entre os dois diz-nos quanto tempo dura cada fase. No nosso levantamento parecem haver menos regiões que ainda não começaram a formar estrelas do que aquelas que já começaram, o que nos diz que a fase inicial deve ser mais curta. Se essa fase durasse mais tempo, deviam existir em maior número. Dado que as densas acumulações de poeira são impermeáveis à luz no espectro visível, os astrónomos não podem observá-las com telescópios ópticos.
"Para aqueles de nós que querem estudar a formação das estrelas, isto constitui um problema real, porque se queremos observar uma estrela jovem ou um aglomerado de estrelas que se forma nessas nuvens escuras, toda a poeira fica no caminho," afirma Shirley. No entanto, verifica-se que a mesma poeira que bloqueia a luz visível, brilha em comprimentos de onda longos, especificamente no rádio, que são cerca de um milhão de vezes maiores do que a luz visível. O calor que emana dos jovens enxames estelares que se formam dentro das nuvens, combinado com a radiação ambiente e até mesmo a luz estelar da galáxia circundante, tudo isso aquece esses grãos de poeira um pouco acima do zero absoluto," afirma Shirley. "Como resultado, brilham, permitindo-nos espreitar o interior das nuvens com um radiotelescópio em comprimentos de onda longos.
Para o seu estudo, que cobre todas as partes do plano galáctico visível a partir do Hemisfério Norte, o grupo usou o Telescópio Sub-Milimétrico do Observatório Rádio do Arizona, equipado com um novo receptor sensível. Shirley acrescenta que foi a proximidade e acessibilidade do telescópio operado pela sua universidade que tornou este projecto possível. O estudo foi publicado na revista The Astrophysical Journal.
Fonte: Astronomia On-Line
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