5 Fatos impressionantes que aprendemos um ano após a visita a Plutão

Pouco mais de um ano atrás, a humanidade teve a oportunidade de olhar pela primeira vez mais atentamente para um mundo que conseguiu comandar as paixões dos terráqueos a muitos anos-luz de distância. Em 14 de julho de 2015, a sonda New Horizons da Nasa fez uma varredura de perto de Plutão, nos dando o nosso primeiro olhar mais atento sobre o pequeno planeta gelado desde a sua descoberta, em 1930.  A nave espacial levou três minutos para a cruzar a face do planeta anão, mas passou muito mais tempo navegando através de todo o sistema e olhando para Plutão, a sua enorme lua Caronte, e as quatro pequenas luas Estige, Nix, Cérbero e Hidra. Os dados reunidos durante esse encontro fugaz continuam a surpreender e intrigar os cientistas, assim como Plutão continua sendo um favorito do público. “Há algo sobre o azarão Plutão que inspira e interessa as pessoas, mais do que eu já vi em qualquer um dos objetos de estudo em que já trabalhei”, conta Carly Howett, membro da equipe da New Horizons e do Southwest Research Institute, no Colorado, Estados Unidos, ao National Geographic. À medida que os dados da sonda continuam chegando às mãos ávidas dos cientistas, a NetGeo lista algumas das surpresas reveladas pela missão New Horizons.

5. Plutão é geologicamente vivo
Algumas das características de Plutão estão entre as mais estranhas no sistema solar, incluindo um vasto campo de gelo de metano laminado agora conhecido como “terreno de pele de cobra”. No entanto, em sua essência, Plutão é mais do que uma mera esquisitice planetária: ele está basicamente revendo ideias sobre como mundos gelados funcionam. Antes da New Horizons passar voando, os cientistas pensavam que não haveria muita atividade geológica acontecendo por lá, onde as temperaturas são abissais e materiais tendem a congelar. Observações feitas na Terra davam a entender que gelos poderiam deslizar sazonalmente pela superfície de Plutão, mas a equipe não estava preparada para o que a New Horizons revelou: Plutão é, ou foi no passado muito recente, geologicamente vivo. Materiais sobre a superfície estão sendo reabastecidos num processo alimentado pelo calor no interior do planeta.

“Fiquei bastante surpreso ao ver a atividade em Plutão, devido à sua grande distância do Sol”, conta Cathy Olkin, integrante da equipe e do Southwest Research Institute, apontando para o campo de gelo de 1.200 km de largura, conhecido como Sputnik Planum. O campo liso e congelado é dividido em células poligonais que sugerem convecção, uma espécie de borbulhar em câmera lenta, está ocorrendo abaixo delas. E o campo também é surpreendentemente jovem, recebendo uma nova camada de gelo a cada 500 mil a um milhão de anos ou mais. Nós estávamos esperando alguma atividade relacionada às interações entre a superfície e a atmosfera de Plutão à medida que ele orbita o Sol, mas nada como uma massa de gelo de nitrogênio em estado de convecção do tamanho de vários estados!”, diz Oliver White, membro da equipe do Centro de Pesquisa Ames da NASA, na Califórnia.

4. Plutão tem geleiras de nitrogênio e montanhas flutuantes
Fluindo para o Sputnik Planum estão geleiras feitas de gelo de nitrogênio que, um pouco estranhamente, se comportam da mesma maneira que as geleiras da Terra. Enquanto se movem, estas geleiras exóticas passam perto de enormes montanhas flutuantes feitas água congelada, transportam pedaços de detritos gelados e esculpem canais na superfície de Plutão. De acordo com o pesquisador Will Grundy, membro da equipe da New Horizons e do do Lowell Observatory, ainda não se sabe se líquidos também esculpiram canais na superfície de Plutão e o “encanamento” subterrâneo, que poderia incluir um oceano enterrado, permanece um mistério. Outro enigma persistente são as duas grandes montanhas com poços sugestivos em seus cumes. Se os cientistas estiverem certos, estas montanhas – chamadas de Wright Mons e Piccard Mons – são vulcões de gelo que emitem lava feita de misturas geladas em vez de magma ardente sobre Plutão.  Toda vez que você olha alguma coisa de perto pela primeira vez, isso gera maneira mais mistérios do que respostas”, opina Grundy.

3. Caronte é vermelha, mas não está exatamente morta

 Seria fácil para parar com Plutão e considerar a missão um sucesso. Mas ele não era o único na mira da New Horizons – sua grande lua Caronte, por exemplo, também acabou sendo incrivelmente estranha. Grande o suficiente para ser considerada um planeta binário, além de uma lua, Caronte não é apenas cheia de crateras como muitos cientistas imaginavam. Sim, existem crateras, mas enquanto Caronte definitivamente tem mais delas do que Plutão, não são tantas quanto esperado. No geral, ela é muito mais escura do que Plutão e tem um pólo vermelho escuro chamado Mordor Macula, que acredita-se ser manchado por moléculas flutuando por cima de Plutão. Caronte também é dividida com abismos que os cientistas ainda não conseguem explicar, mas que poderiam ter se formado quando um oceano enterrado congelou, expandiu-se e rompeu a superfície. E, como Plutão, ela também tem algumas superfícies aparentemente jovens e surpreendentemente regular.  Talvez [a lua] tenha levado mais tempo para esfriar de sua formação do que esperávamos. Ou talvez a nossa compreensão das coisas que podem bater em Caronte seja errada, então ela é jovem, mas talvez não tão jovem quanto acreditávamos”.

2. As luas pequenas são estranhamente brilhantes
À medida que os cientistas pesquisam Caronte, eles também estão procurando dicas sobre como o sistema do planeta binário se formou. Por enquanto, suspeita-se que ele nasceu de uma colisão gigante similar a que formou a Lua da Terra. Pistas sobre este antigo evento catastrófico estão escondidas não só em Plutão e Caronte, mas também nas luas menores: Estige, Nix, Cérbero e Hidra. De acordo com a história em vigor, essas quatro pequenas luas foram estilhaços lançados no espaço pela colisão que formou Caronte, diz Simon Porter, membro da equipe e do Southwest Research Institute, em San Antonio, Estados Unidos. O problema é que as quatro pequenas luas não têm se encaixado tão bem nesta versão dos acontecimentos.

“As órbitas das pequenas luas são ainda mais estranhas do que pensávamos”, diz à NatGeo Kelsi Singer, integrante da equipe e também do Southwest Research Institute. Algumas das luas giram rapidamente e de forma assíncrona e estão em órbitas inclinadas. Eles também não têm exatamente as cores certas, sendo uniformemente mais brilhantes do que Caronte. Nix tem uma cratera avermelhada, enquanto Hidra parece ter vindo de dois pedaços de detritos que colidiram e grudaram um no outro, formando um corpo de dois lóbulos não muito diferente do cometa 67P / Churyumov-Gerasimenko. Tudo isso faz delas uma coleção bastante heterogênea de pequenos satélites. “Elas eram um desafio para qualquer um tentando compreender a sua origem mesmo antes dos voos de varredura [da New Horizons] e todas as observações que coletamos em muitos aspectos só serviram para aprofundar o mistério”, diz Alex Parker, do Southwest Research Institute.

1. Plutão inchou 
Depois da passagem da New Horizons através do sistema de Plutão, ela capturou a silhueta de Plutão e Caronte. E quando a imagem de Plutão chegou à Terra, ela surpreendeu os cientistas. Iluminado por trás pelo sol, o planeta estava cercada por um azul brilhante e estranho. Além disso, este “revestimento” é dividido em várias camadas de neblina que os cientistas estão apenas começando a entender. A atmosfera de nitrogênio de Plutão foi descoberta em 1988, quando a luz de uma estrela distante brilhou através de suas camadas. Muitas vezes mais volumosa que a da Terra, a atmosfera de Plutão tem sido um enigma por menos duas décadas. Os cientistas tinham assumido que, à medida que o planeta se movesse para mais longe do Sol, sua atmosfera iria congelar e entrar em colapso, chovendo sobre a superfície do planeta. Mas isso não aconteceu – vista da Terra, ela ficou ainda inchada.

Até o sobrevoo da New Horizons, décadas de observações de Terra sugeriam que grandes quantidades de moléculas estavam escapando da gravidade de Plutão e flutuando no espaço. Porém, como a missão revelou, não só a atmosfera está menos inchada do que o esperado, também estava basicamente tudo no lugar. Agora, os cientistas suspeitam que algo “desconhecido e imprevisível” está ajudando a manter o ambiente fresco e relativamente estável.  Embora possa parecer frustrante ter décadas de dados questionados em apenas alguns minutos, este é exatamente o tipo de coisa que os cientistas gostam. “O sobrevoo realmente destacou o quão dinâmico Plutão deve ser. Por exemplo, as neblinas estruturadas na atmosfera ou a estrutura celular e suave nas planícies de Sputnik Planum”, explica Parker, acrescentando que os intervalos de tempo em que as mudanças de Plutão acontecem ainda são desconhecidos. “Nós realmente só temos esse único registro no tempo [como base]”.

Olhando para o futuro
No momento, a New Horizons navega para o seu próximo destino, um corpo no cinturão de Kuiper chamado provisoriamente de KBO-2014 MU69, e ela continua a transmitir dados para a Terra. Talvez esses dados respondam a algumas das dúvidas persistentes ao longo dos próximos anos, mas há bastante mistérios plutonianos para manter os cientistas entretidos e desejando mais uma visita ao planeta anão – talvez por uma sonda que entre em órbita. Plutão tem se revelado um enigma fascinante no Sistema Solar, alguns aspectos dos quais achamos que podemos explicar com um bom controle, ao passo que outros aspectos são ainda bastante variáveis”, garante White.  Para começar, ainda que a sonda tenha tido uma pequena amostra de alguns cenários espetaculares quando se aproximava Plutão, ele só poderia gravar um hemisfério em alta resolução. Ou seja, metade do planeta ainda está envolto em mistério.

O que realmente fica no hemisfério do não-encontro de Plutão, menos ainda no hemisfério sul envolto em escuridão polar?”, pergunta o membro da equipe Bill McKinnon, da Universidade de Washington em St. Louis, EUA, referindo-se às áreas que passaram longe da sonda. Missões futuras também pode nos ajudar a entender a atividade de Plutão ao longo do tempo, o que falaria do passado do planeta, incluindo os dias primordiais do sistema solar, quando o pequeno mundo provavelmente orbitava mais perto do sol. “Como Plutão era quando orbitava mais perto do sol?”, questiona McKinnon. “Existe algum registro preservado desses ‘tempos de outrora’ em sua superfície? E, se não, o que conta para a evidência de um passado extraordinariamente geologicamente ativo?”
Sozinho novamente depois da passagem da New Horizons, Plutão é um mistério ainda maior para astrônomos do mundo todo.
Fonte: HypeScience.com
 [National Geographic, APOD]


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