Modelando o Universo
Renderização da velocidade do gás
numa fina fatia com 100 kiloparsecs de espessura (no sentido da visão) centrada
no segundo enxame de galáxias mais massivo no cálculo TNG100. Onde a imagem é
preta, o gás dificilmente se move, enquanto as regiões mais claras têm
velocidades que excedem 1000 km/s. A imagem contrasta os movimentos de gás nos
filamentos cósmicos contra os rápidos movimentos caóticos desencadeados pelo
profundo e potencial poço gravitacional e pelo buraco negro supermassivo
situado no centro. Crédito: Colaboração IllustrisTNG
Uma simulação do Universo com
supercomputadores produziu novas informações sobre o modo como os buracos
negros influenciam a distribuição da matéria escura, o modo como os elementos
pesados são produzidos e distribuídos em todo o cosmos e sobre a origem dos
campos magnéticos.
Astrofísicos do MIT, da
Universidade de Harvard, do Instituto Heidelberg de Estudos Teóricos, dos
Institutos Max Planck para Astrofísica e Astronomia e do Centro de Astrofísica
Computacional obtiveram novas informações sobre a formação e evolução das
galáxias, desenvolvendo e programando um novo modelo de simulação para o
Universo - "Illustris - The Next Generation" ou IllustrisTNG.
Mark Vogelsberger, professor
assistente de física no MIT e no Instituto Kavli para Astrofísica e
Investigação Espacial do MIT, tem vindo a desenvolver, testar e a analisar as
novas simulações IllustrisTNG. Juntamente com os pós-doutorados Federico
Marinacci e Paul Torrey, Vogelsberger tem usado a simulação IllustrisTNG para
estudar as assinaturas observáveis de campos magnéticos de grande escala que
permeiam o Universo.
Vogelsberger usou o modelo
IllustrisTNG para mostrar que os movimentos turbulentos de gases quentes e
difusos conduzem dínamos magnéticos de pequena escala que podem amplificar
exponencialmente os campos magnéticos nos núcleos de galáxias - e que o modelo
prevê com precisão a força observada desses campos magnéticos.
"A alta resolução do
IllustrisTNG, combinada com o seu sofisticado modelo de formação galáctica,
permitiu-nos explorar estas questões dos campos magnéticos em mais detalhe do
que com qualquer outra simulação cosmológica anterior," comenta
Vogelsberger, autor dos três artigos científicos que divulgam o novo trabalho, publicados
na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.
Modelando um Universo (mais)
realista
O projeto IllustrisTNG é o
sucessor da simulação original Illustris desenvolvida pela mesma equipa de
investigação, mas foi atualizado para incluir alguns dos processos físicos que
desempenham papéis cruciais na formação e evolução das galáxias.
Como o Illustris, o projeto
modela uma peça em forma de cubo do Universo. Desta vez, o projeto seguiu a
formação de milhões de galáxias numa região representativa do Universo com
quase mil milhões de anos-luz de lado (a versão anterior, há quatro anos, media
apenas 350 milhões de anos-luz de lado). A simulação hidrodinâmica IllustrisTNG
é o maior projeto, até à data, do surgimento de estruturas cósmicas, realça
Volker Springel, investigador principal do IllustrisTNG, cientista do Instituto
Heidelberg de Estudos Teóricos da Universidade de Heidelberg e do Instituto Max
Planck para Astrofísica.
A rede cósmica de gás e de
estrelas prevista pelo IllustrisTNG produz galáxias bastante parecidas em forma
e tamanho com as galáxias reais. Pela primeira vez, as simulações
hidrodinâmicas podem calcular diretamente o padrão detalhado de agrupamento de
galáxias no espaço. Em comparação com os dados observacionais, explica
Springel, - incluindo os mais recentes grandes levantamentos galácticos como o
SDSS (Sloan Digitized Sky Survey) - o IllustrisTNG demonstra um elevado grau de
realismo.
Em adição, as simulações preveem
como a teia cósmica muda ao longo do tempo, em particular em relação à
estrutura subjacente da matéria escura do cosmos. "É particularmente
fascinante que possamos prever com precisão a influência de buracos negros
supermassivos na distribuição de matéria até grandes escalas," continua
Springel. "Isto é crucial para interpretar de forma confiável as próximas
medições cosmológicas."
Astrofísica via código e
supercomputadores
Para o projeto, os investigadores
desenvolveram uma versão particularmente poderosa do seu código AREPO de malha
móvel e altamente paralela e usaram-no na máquina "Hazel-Hen" no
Centro de Supercomputação em Estugarda, o supercomputador mais rápido da Alemanha. Para calcular uma das duas
simulações principais, foram usados mais de 24.000 processadores ao longo de
mais de dois meses.
"As novas simulações
produziram mais de 500 terabytes de dados de simulação," diz Springel.
"A análise desta quantidade gigantesca de dados manter-nos-á ocupados nos
próximos anos e promete muitas novas e interessantes ideias no que toca a
diferentes processos astrofísicos."
Buracos negros supermassivos
suprimem formação estelar
Noutro estudo, Dylan Nelson,
investigador do Instituto Max Planck para Astrofísica, foi capaz de demonstrar
o importante impacto dos buracos negros nas galáxias. As galáxias formadoras de
estrelas brilham no azul das suas jovens estrelas até que uma súbita mudança
evolutiva apaga a formação estelar, de modo que a galáxia se torna dominada por
velhas estrelas vermelhas e se junta a um cemitério cheio de galáxias antigas e
moribundas.
"As únicas entidades físicas
capazes de extinguir a formação estelar nas nossas grandes galáxias elípticas
são os buracos negros supermassivos nos seus centros," explica Nelson.
"Os fluxos ultrarrápidos destas armadilhas gravitacionais atingem
velocidades até 10% da velocidade da luz e afetam os sistemas estelares
gigantes milhares de milhões de vezes maiores do que o próprio buraco negro,
que é comparativamente pequeno."
Novas descobertas para a
estrutura das galáxias
A simulação IllustrisTNG também
melhora a compreensão dos investigadores da formação da estrutura hierárquica
das galáxias. Os teóricos argumentam que as galáxias pequenas devem formar-se
primeiro e depois se fundem em objetos cada vez maiores, impulsionados pela
implacável atração da gravidade. As inúmeras colisões galácticas literalmente
quebram galáxias e dispersam as suas estrelas em órbitas largas em torno das
galáxias grandes recém-criadas, o que deveria dar-lhes um ténue brilho estelar
de fundo.
Estes pálidos halos estelares
previstos são muito difíceis de observar devido ao seu baixo brilho
superficial, mas o modelo IllustrisTNG foi capaz de simular exatamente o que os
astrónomos devem procurar. As nossas previsões podem
agora ser sistematicamente verificadas pelos observadores," afirma
Annalisa Pillepich, investigadora do Instituto Max Planck para Astronomia, que
liderou outro estudo do IllustrisTNG. "Isto fornece um teste crítico para
o modelo teórico da formação hierárquica das galáxias."
Fonte: Astronomia OnLine
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