Brilhando com a luz de milhões de sóis
Na década de 1980, os cientistas
começaram a descobrir uma nova classe de fontes extremamente brilhantes de
raios-X em galáxias. Estas fontes foram uma surpresa, pois estavam claramente
localizadas longe dos buracos negros supermassivos situados no centro das
galáxias. Ao início, os investigadores acharam que muitas destas fontes
ultraluminosas de raios-X, ou ULXs ("ultraluminous X-ray sources" em
inglês), eram buracos negros que continham massas entre 100 e 100.000 vezes a
do Sol. Trabalhos posteriores mostraram que algumas delas podiam ser buracos
negros de massa estelar, contendo até algumas dezenas de vezes a massa do Sol. Em 2014, observações com o NuSTAR
(Nuclear Spectroscopic Telescope Array) e com o Observatório de raios-X Chandra
da NASA mostraram que algumas ULXs, que em raios-X tinham uma luminosidade
equivalente à produzida por vários milhões de sóis em todos os comprimentos de
onda, eram objetos ainda menos massivos chamados estrelas de neutrões. Estas
são os núcleos gastos de estrelas massivas que explodiram. As estrelas de
neutrões normalmente contêm apenas cerca de 1,5 vezes a massa do Sol.
Três
destas ULXs foram identificadas como estrelas de neutrões nos últimos anos. Os
cientistas descobriram variações regulares, ou "pulsações", na
emissão de raios-X das ULXs, um comportamento que é exibido por estrelas de
neutrões, mas não por buracos negros. Agora, cientistas usando dados do
Observatório de raios-X Chandra da NASA identificaram uma quarta ULX como sendo
uma estrela de neutrões e encontraram novas pistas sobre como estes objetos
podem brilhar tão intensamente. Esta recém-caracterizada ULX está localizada na
Galáxia do Redemoinho, também conhecida como M51. A imagem composta de M51
contém raios-X do Chandra (roxo) e dados óticos do Telescópio Espacial hubble
(vermelho, verde e azul). A ULX está assinalada no círculo.
As estrelas de neutrões são
objetos extremamente densos - uma colher de chá do seu material teria uma massa
superior a mil milhões de toneladas, tanto quanto uma montanha. A intensa
gravidade das estrelas de neutrões retira material a estrelas companheiras e
enquanto este material cai em direção à estrela de neutrões, aquece e brilha em
raios-X. À medida que mais e mais matéria cai sobre a estrela de neutrões,
chega um ponto em que a pressão dos raios-X resultantes se torna tão intensa
que afasta a matéria. Os astrónomos chamam a este ponto - quando os objetos
tipicamente não conseguem acumular matéria mais depressa e libertar ainda mais
raios-X - limite de Eddington. O novo resultado mostra que esta ULX está a
ultrapassar o limite de Eddington para uma estrela de neutrões.
Os cientistas analisaram dados de
arquivo recolhidos pelo Chandra e descobriram uma queda invulgar no espectro de
raios-X da ULX, que é a intensidade de raios-X medidos em diferentes
comprimentos de onda. Depois de excluírem outras possibilidades, concluíram que
a queda foi provavelmente de um processo chamado dispersão de ressonância do
ciclotrão, que ocorre quando as partículas carregadas - ou protões carregados
positivamente ou eletrões carregados negativamente - circulam num campo
magnético.
O tamanho da queda no espectro de raios-X, chamado linha do
ciclotrão, implica forças de campo magnético que são pelo menos 10.000 vezes
maiores do que as associadas com a matéria que espirala para um buraco negro de
massa estelar, mas estão dentro do intervalo observado para as estrelas de
neutrões. Isto fornece fortes evidências de que esta ULX é uma estrela de
neutrões em vez de um buraco negro e é a primeira identificação do género que
não envolveu a deteção de pulsações de raios-X.
A determinação precisa da
intensidade do campo magnético depende do conhecimento da causa da linha do
ciclotrão, protões ou eletrões. Se a linha for da circulação de protões, então
os campos magnéticos em torno da estrela de neutrões são extremamente fortes,
comparáveis aos campos magnéticos mais fortes produzidos pelas estrelas de
neutrões e podem de facto ajudar a quebrar o limite de Eddington. Estes fortes
campos magnéticos podem reduzir a pressão dos raios-X de uma ULX - a pressão
que normalmente afasta a matéria - permitindo que a estrela de neutrões consuma
mais matéria do que o esperado.
Se a linha do ciclotrão for da
circulação de eletrões, em contraste, então a força do campo magnético em torno
da estrela de neutrões será aproximadamente 10.000 vezes mais fraco e,
portanto, não é suficientemente poderosa para o fluxo sobre esta estrela de
neutrões superar o limite de Eddington. Atualmente, os cientistas não têm
um espectro da nova ULX com detalhes suficientes para determinar a origem da
linha do ciclotrão. Para resolver este mistério, os investigadores planeiam
obter mais dados de raios-X da ULX em M51 e procurar linhas do ciclotrão
noutras ULXs.
O artigo científico que descreve
esta investigação, liderado por Murray Brightman do Instituto de Tecnologia da
Califórnia, foi publicado na edição mais recente da revista Nature Astronomy.
Fonte: Astronomia OnLine
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