97% do Universo é inalcançável por nós
Mais um ano vai embora e leva
com ele uma parte do nosso Universo que nós jamais veremos de volta. Parece
trágico, mas é só a natureza seguindo seu rumo. Nas partes mais distantes do
Universo conhecido, galáxias inteiras – e todas as estrelas, planetas e tudo
mais que elas podem conter – estão desaparecendo. Mas calma: estes objetos não
estão simplesmente evaporando. Eles estão sendo empurrados para fora do
Universo conhecido, forçados a uma expansão misteriosa para uma região
conhecida como o
“Universo inobservável”.
Uma matéria publicada no
portal Science Alert explica porque isso está acontecendo. Para entender este
desaparecimento espacial, precisamos voltar um pouco na história. Por milênios,
o tamanho e a idade do Universo confundiram os pesquisadores. Dúvidas sobre a
eternidade ou o início do universo sempre estiveram presentes nas mentes dos
cientistas. Em 1687, Isaac Newton inspirou uma nova maneira de entender o
cosmos em seu livro Principia, que propunha a lei revolucionária universal da
gravitação.
Em sua formulação mais
básica, a lei explicava que toda massa no Universo é atraída para todas as
outras massas do Universo. Embora a ideia pareça bastante simples, as
implicações na época foram surpreendentes. O trabalho de Newton revelou que, se
o nosso Universo fosse finito, as forças atrativas de todos os objetos no
cosmos deveriam ter feito tudo desabar. Como continuamos aqui, logicamente isso
significava que o Universo deveria ser infinito.
O paradoxo de Olbers se opõe
a esta ideia. No início do século 19, Wilhelm Olbers propôs um paradoxo
argumentando que a escuridão encontrada no céu noturno entra em conflito com a
conclusão de que o cosmos é infinito. Sabemos que o tamanho aparente de uma
estrela diminui à medida que a distância dela para nós aumenta. Mas mesmo que
as estrelas distantes sejam menores e mais fracas, veríamos mais delas. Em um
céu atemporal, sem limites, não veríamos nada além de luz das estrelas. Como há
manchas escuras no céu noturno, o Universo não pode ser infinito.
Expansão
As ideias de Newton e Olbers
não podiam coexistir. As coisas só começaram a mudar em 1913, quando o
astrônomo americano Vesto Slipher analisou as linhas espectrais de galáxias
distantes e descobriu que a luz que elas emitiam era transferida para a
extremidade vermelha do espectro de luz. Slipher entendeu esse desvio para o
vermelho como evidência de que as galáxias estão se afastando de nós, já que a
luz se estende até o final vermelho do espectro quando os objetos estão
retrocedendo.
Com base no trabalho de
Slipher, Edwin Hubble mediu os desvios para o vermelho das galáxias e depois os
comparou com sua distância relativa, e finalmente descobriu que o Universo está
se expandindo. Sabendo dessa expansão, sabemos também que o Universo deve ter
sido menor no passado e, consequentemente, se voltarmos o suficiente no tempo,
todo o Universo teria convergido em um único ponto. Este ponto, que agora
chamamos de Big Bang, foi o começo do Universo.
Usando vários modelos e
estimativas para a taxa de expansão, como a constante de Hubble, os cientistas
estimaram a idade do Universo em 13,799 bilhões de anos.
Nas últimas décadas do século
XX, duas equipes de cientistas começaram a medir a desaceleração cósmica – ou
seja, o quanto a expansão do Universo estaria diminuindo.
Eles procuraram supernovas
Tipo 1a, mediram suas distâncias e calcularam a velocidade com que estão se
afastando de nós. As equipes descobriram que, ao contrário de suas suposições,
a expansão não estava diminuindo – pelo contrário, as galáxias mais distantes
parecem estar voando para longe de nós cada vez mais depressa à medida que a
sua distância da Terra aumenta.
Isso levou a uma conclusão
irrefutável: a expansão do Universo está se acelerando.
Cada porção do espaço está se
alongando. Enquanto a luz e a matéria têm uma velocidade máxima, o tecido do
espaço-tempo em si não. Volumes do Universo podem se expandir mais rapidamente
que a própria luz; os objetos mais distantes de nós estão se afastando de nós
mais rápido, pois há mais espaço entre nós que está se alongando.
Novos cálculos, que levamram
em conta a expansão acelerada do Universo, permitem aos cientistas determinar
que o Universo observável tem um raio de pelo menos 46 bilhões de anos-luz.
Porém, o universo observável
é apenas uma parte do Universo total. E é aí que entra o Universo inobservável.
Além do alcance
O Universo observável é a
região esférica que abrange tudo o que atualmente pode ser detectado da Terra.
Tudo o que existe além dos limites da detecção é chamado de Universo
inobservável – a luz que se encontra lá ainda está por chegar na Terra, graças
à vasta distância que ela precisa cobrir. Como a luz tem uma velocidade máxima,
a luz de objetos a uma distância suficiente poderia, teoricamente, ainda estar
a caminho, ainda a ser vista. Se a expansão do Universo não estivesse
acelerando, dado tempo suficiente, nós finalmente seríamos capazes de ver tudo
no cosmos. Mas esse não é o caso.
Por causa da expansão
acelerada, regiões do espaço que estão suficientemente distantes da Terra estão
se afastando de nós mais rápido que a velocidade da luz. Isso não parece muito
alarmante, até que você pare e perceba que a luz dessas regiões do cosmos nunca
será capaz de nos alcançar.
Se um fóton deixasse nosso
planeta e começasse a viajar para o cosmos, ele nunca seria capaz de alcançar
qualquer área do espaço que estivesse a mais de 15 bilhões de anos-luz de
distância, pois o espaço além deste ponto está se expandindo mais rápido do que
a velocidade da luz. Isso significa que, mesmo se saíssemos hoje e estivéssemos
viajando na velocidade da luz, seríamos capazes de alcançar apenas meros 3% do
número total de galáxias em nosso Universo observável. Os outros 97% estão para
sempre além do nosso alcance.
Como a expansão do Universo
está continuamente acelerando, a cada ano, mais e mais regiões do espaço passam
além do nosso horizonte cósmico e entram no universo inobservável. Esta expansão tem algumas implicações
sombrias para o destino final do Universo. Assumindo que a expansão continua
indefinidamente, o horizonte do Universo visível irá gradualmente diminuir. Com
o tempo, todas as galáxias que não estão ligadas gravitacionalmente a nós – um
punhado de cerca de 70 galáxias – desaparecerão no abismo negro do Universo
inobservável e não há nada que possamos para evitar.
Fonte: hypescience.com
[Science
Alert]
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