A primeira supernova observada pelo satélite TESS
Quando
o TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite) da NASA foi lançado para o
espaço em abril de 2018, o seu objetivo era específico: procurar novos planetas
no Universo.
Mas
numa investigação publicada recentemente, uma equipe de astrónomos da
Universidade Estatal do Ohio mostrou que o levantamento, apelidado TESS, também
pode ser usado para monitorizar um tipo específico de supernova, dando aos
cientistas mais pistas sobre o que faz com que as anãs brancas expludam - e
sobre os elementos que essas explosões deixam para trás.
"Nós
sabemos há anos que estas estrelas explodem, mas temos ideias terríveis do
porquê," disse Patrick Vallely, autor principal do estudo e estudante de
astronomia da mesma universidade. "A coisa mais importante aqui é que
somos capazes de mostrar que esta supernova não é consistente com uma anã
branca que retira massa diretamente de uma companheira estelar - o tipo de
ideia padrão que levou as pessoas a tentar encontrar assinaturas de hidrogénio
em primeiro lugar. Isto porque a curva de luz do TESS não mostra nenhuma
evidência de uma companheira, e tendo em conta que as assinaturas do hidrogénio
nos espectros SALT não evoluem como os outros elementos, podemos descartar o
modelo padrão."
A
sua pesquisa, publicada na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical
Society, representa as primeiras descobertas publicadas sobre uma supernova
observada com o TESS e acrescenta novas informações às teorias de longa data
sobre os elementos deixados para trás depois que uma estrela anã branca explode
como supernova.
Esses
elementos há muito que incomodam os astrónomos.
Os
astrónomos pensam que uma anã branca explode num tipo específico de supernova,
Tipo Ia, depois de recolher massa de uma estrela companheira próxima e crescer
demasiado para permanecer estável. Mas se isso for verdade, então os astrónomos
teorizaram que a explosão deixaria para trás traços de hidrogénio, um bloco de
construção crucial das estrelas e do Universo inteiro (as anãs brancas, pela
sua natureza, já queimaram todo o seu hidrogénio e, portanto, não seriam uma
fonte de hidrogénio numa supernova).
Mas
até esta observação de uma supernova com o TESS, os astrónomos nunca tinham
visto estes traços de hidrogénio no rescaldo da explosão: esta supernova é a
primeira do seu tipo em que os astrónomos mediram o hidrogénio. Aquele
hidrogénio, relatado pela primeira vez por uma equipa dos Observatórios do
Instituto Carnegie para Ciência, poderá mudar a natureza do que os astrónomos
sabem sobre as supernovas das anãs brancas.
"A
coisa mais interessante sobre esta supernova em particular é o hidrogénio que
vimos nos seus espectros (os elementos que a explosão deixa para trás),"
disse Vallely. "Há anos que procuramos hidrogénio e hélio nos espectros
deste tipo de supernova - esses elementos ajudam-nos a compreender o que
provocou a supernova."
O
hidrogénio poderia significar que a anã branca consumiu uma estrela próxima.
Nesse cenário, a segunda estrela seria uma estrela normal no meio da sua vida
útil - não uma segunda anã branca. Mas quando os astrónomos mediram a curva de
luz desta supernova, a curva indicava que a segunda estrela era, de facto, uma
segunda anã branca. Então, de onde veio o hidrogénio?
O
professor de astronomia Kris Stanek - conselheiro de Vallely e coautor do
artigo, disse que é possível que o hidrogénio tenha vindo de uma estrela
companheira - uma estrela normal - mas ele acha que é mais provável que o
hidrogénio tenha vindo de uma terceira estrela que estava perto da explosão da
anã branca e que foi consumida na supernova por acaso.
"Seria
de pensar que, dado que vemos este hidrogénio, isso significa que a anã branca
consumiu uma segunda estrela e explodiu, mas, com base na curva de luz que
vimos desta supernova, isso pode não ser verdade," disse Stanek.
"Com
base na curva de luz, o evento mais provável, pensamos, é que o hidrogénio pode
estar a vir de uma terceira estrela no sistema," acrescentou Stanek.
"Portanto, o cenário predominante, pelo menos aqui na Universidade, é que
o modo de fabricar uma supernova do Tipo Ia é ter duas estrelas anãs brancas em
interação - até mesmo colidindo. Mas também ter uma terceira estrela que
fornece o hidrogénio."
A
equipe de investigação, Vallely, Stanek e uma equipa de astrónomos de todo o
mundo, combinou dados do TESS com dados do ASAS-SN (All-Sky Automated Survey
for Supernovae). O ASAS-SN é liderado pela mesma instituição de ensino e é
composto por pequenos telescópios espalhados pelo planeta que vigiam o céu em
busca de supernovas em galáxias distantes.
O
TESS, em comparação, foi construído para procurar planetas próximos na nossa
Galáxia - e para fornecer dados muito mais depressa do que os telescópios
espaciais anteriores. Isso significa que a equipa da Universidade do Ohio foi
capaz de usar os dados do TESS para ver o que estava a acontecer em torno da
supernova nos primeiros momentos depois de ter explodido - uma oportunidade sem
precedentes.
A
equipa combinou dados do TESS e do ASAS-SN com dados do SALT (South African
Large Telescope) para avaliar os elementos deixados no rescaldo da explosão de
supernova. Eles encontraram tanto hidrogénio quanto hélio, dois indicadores que
a estrela que explodiu consumiu, de alguma forma, uma estrela companheira
próxima.
"O
que é realmente interessante sobre estes resultados é que, quando combinamos os
dados, podemos aprender coisas novas," disse Stanek. "E esta
supernova é o primeiro caso interessante desta sinergia."
A
supernova que esta equipe observou foi do Tipo Ia, um tipo de supernova que
pode ocorrer quando duas estrelas se orbitam uma à outra - o que os astrónomos
chamam de sistema binário. Nalguns casos de uma supernova do Tipo Ia, uma
dessas estrelas é uma anã branca.
Uma
anã branca queimou todo o seu combustível nuclear, deixando para trás apenas um
núcleo muito quente (a temperatura de uma anã branca excede 100.000 K). A menos
que a estrela cresça roubando energia e matéria de uma estrela próxima, a anã
branca passa os próximos mil milhões de anos a arrefecer antes de se
transformar num pedaço de carbono negro.
Ma
se a anã branca e outra estrela estiverem num sistema binário, a anã branca
lentamente recebe massa da outra estrela até que, eventualmente, a anã branca
explode como supernova.
As
supernovas do Tipo Ia são importantes para a ciência espacial - ajudam os
astrónomos a medir distâncias no espaço e ajudam a calcular a rapidez com que o
Universo está a expandir-se (uma descoberta tão importante que ganhou o Prémio
Nobel da Física em 2011).
"Este
é o tipo mais famoso de supernova - levou à descoberta da energia escura na
década de 1990," disse Vallely. "São responsáveis pela existência de
tantos elementos no Universo. Mas nós não entendemos muito bem a física por
trás delas. E é por isso que gosto tanto da combinação do TESS com o ASAS-SN;
podemos construir estes dados e usá-los para descobrir um pouco mais sobre
estas supernovas."
Os
cientistas, em geral, concordam que a estrela companheira leva à supernova de
uma anã branca, mas o mecanismo dessa explosão, e a composição da estrela
companheira, são pouco conhecidos.
Esta
descoberta, disse Stanek, fornece algumas evidências de que a estrela
companheira neste tipo de supernova é provavelmente outra anã branca.
"Estamos
a ver algo novo nestes dados, e isso ajuda à nossa compreensão do fenómeno das
supernovas do Tipo Ia," acrescentou. "E podemos explicar isto em
termos dos cenários que já temos - precisamos apenas que a terceira estrela,
neste caso, seja a fonte do hidrogénio."
Fonte: ccvalg.pt
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