Novo exoplaneta é o mais pequeno a ser medido com precisão
Impressão de artista do telescópio espacial Kepler da NASA, que
obteve dados que os cientistas usaram para descobrir um novo pequeno exoplaneta
numa estranha configuração. Crédito: NASA
Os terráqueos há muito que
sonham com planetas distantes, mas só recentemente os cientistas conseguiram
identificar milhares de novos exoplanetas - e aprender cada vez mais sobre o
seu aspeto.
O mais recente: um novo
exoplaneta descoberto pelo telescópio espacial Kepler da NASA na direção da
constelação de Caranguejo. Graças a um momento oportuno e ao estranho padrão
orbital do planeta, os cientistas da Universidade de Chicago conseguiram
calcular a sua massa com mais precisão do que qualquer outro planeta tão
pequeno até hoje.
"Foi totalmente
inesperado - a princípio pensámos que havia algo errado com os dados, mas
quando olhámos com cuidado, ficou superclaro," disse o estudante Aaron
Hamann, primeiro autor do artigo. "Existem dois planetas a orbitar esta
estrela, e estão a agir fortemente um sob o outro, o que nos permite calcular
as suas massas com uma precisão recorde."
Lançada em março de 2009, a
missão Kepler foi construída especificamente para procurar exoplanetas -
planetas que orbitam estrelas em sistemas distantes, alguns dos quais podem
abrigar vida. Os cientistas vasculham os seus dados, procurando anomalias em
torno de estrelas distantes que possam indicar planetas.
Esta foi a missão de
um grupo de cientistas da Universidade de Chicago que trabalha o professor
Daniel Fabrycky, um caçador de exoplanetas estranhos - entre outros, ele pesou
planetas em sistemas complexos contendo cinco a sete planetas e determinou as
interações gravitacionais de quatro planetas trancados numa órbita mais íntima
do que em qualquer outro sistema.
Os planetas distantes são
demasiado pequenos para serem vistos com telescópios, de modo que o método
principal que os caçadores de exoplanetas usam para os encontrar é notando uma
pequena diminuição na luz de uma estrela à medida que um planeta passa à sua
frente.
Quando o Kepler olhou pela primeira vez para a estrela fria de nome
K2-146, localizada a cerca de 258 anos-luz de distância, os cientistas viram um
planeta que fazia um padrão de escurecimento irregular. Mas, analisando os
dados da segunda e terceira passagens do Kepler, anos depois, a equipa
confirmou que a irregularidade era provocada por um segundo planeta.
Este segundo exoplaneta, mais
pequeno, puxa a órbita do primeiro planeta. À medida que os dois exoplanetas
passam um pelo outro, aceleram um pouco: "Um mini-efeito de fisga,"
salientou Hamann. (Há um paralelo no nosso próprio Sistema Solar. Neptuno foi
descoberto da mesma maneira, disse Fabrycky: os cientistas notaram que Úrano
orbitava de forma estranha e inferiram que um novo planeta era o responsável -
levando à descoberta direta de Neptuno.)
Mas os planetas de K2-146 são
extremos entre os exoplanetas conhecidos, disseram os cientistas. Ambos os
planetas completam uma órbita em torno da estrela em questão de dias: 3,99 dias
para o maior, 2,66 para o mais pequeno, em média. "Como têm períodos
orbitais curtos e os efeitos gravitacionais são fortes, a órbita muda
drasticamente à medida que a observamos," explicou Fabrycky.
"Para se ter uma ideia,
o nosso ano tem sempre 365 dias, mas estes planetas terão anos
significativamente mais curtos ou mais longos," explicou Hamann.
"Seria como se o seu aniversário chegasse por vezes um mês antes ou depois
da data correta."
Eles não tinham visto o
segundo planeta claramente na primeira passagem, dado que não estava em frente
da estrela no momento certo, mas na segunda e na terceira passagem, a dança dos
dois planetas fê-los mudar de tal modo que ambos ficaram claramente visíveis.
A professora assistente
Leslie Rogers, especialista em descodificar a composição dos exoplanetas,
ajudou-os a supor que os planetas podem ter um núcleo rochoso com uma atmosfera
substancial de gás, suficientemente espessa para bloquear a luz solar.
Normalmente, planetas tão próximos das suas estrelas teriam a sua atmosfera
removida por fotões. (Nenhum dos planetas é habitável, disseram os cientistas:
as temperaturas provavelmente rondam os 300º C).
Ajudando ainda mais à boa
sorte dos cientistas, o Kepler estava a olhar para o sistema em pontos-chave
durante os trânsitos. "Nós apanhámo-lo no momento perfeito, para que
pudéssemos medi-lo com uma precisão de 3%, mesmo tendo-o observado por um
período relativamente curto de tempo," disse Hamann.
"Nós precisamos da massa
de um planeta para compreender a sua gravidade, de modo que com um valor muito
preciso da massa ajuda-nos a interpretar como deverá ser a atmosfera,"
disse o coautor Benjamin Montet, também da Universidade de Chicago.
Os cientistas disseram que a
descoberta tem implicações sobre como direcionar buscas por futuros
exoplanetas, como a missão TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite) da
NASA, atualmente em órbita.
"Esta é uma boa
lembrança de que, especialmente no decorrer da missão do TESS, voltarmos ao
sistema dois anos depois, podemos aprender bastante," comentou Fabrycky.
"Existem muitos outros planetas escondidos desta maneira."
Fonte: Ccvalg.pt
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