Telescópio vai procurar anãs marrons e planetas fugitivos
Os cientistas vão usar o Webb para investigar o berçário estelar próximo NGC 1333 em busca dos seus residentes mais pequenos e ténues. É um local ideal para procurar objetos "fugitivos" e muito fracos, incluindo aqueles com massas planetárias. Crédito: NASA/JPL-Caltech/R. A. Gutermuth (Harvard-Smithsonian CfA)
Quão pequenos são os objetos
celestes mais pequenos que se formam como estrelas, mas que não produzem a sua
própria luz? Quão comuns são em comparação com estrelas de pleno direito? E que
dizer dos "planetas fugitivos", que se formam em torno de estrelas antes
de serem lançados para o espaço interestelar? Quando o Telescópio Espacial
James Webb da NASA for lançado em 2021, lançará luz sobre estas questões.
A sua resposta vai definir um
limite entre objetos que se formam como estrelas, que nascem de nuvens de gás e
poeira em colapso gravitacional e aqueles que se formam como planetas, criados
quando o gás e a poeira se aglomeram num disco em torno de uma estrela jovem.
Também vai distinguir, entre ideias concorrentes, as origens das anãs
castanhas, objetos com massas entre 1% e 8% a massa do Sol que não conseguem
sustentar a fusão de hidrogénio nos seus núcleos.
Num estudo liderado por Aleks
Scholz da Universidade de St. Andrews no Reino Unido, investigadores vão usar o
Webb para descobrir os residentes mais pequenos e ténues de um berçário estelar
próximo chamado NGC 1333. Localizado a cerca de 1000 anos-luz de distância na
direção da constelação de Perseu, o enxame NGC 1333 está relativamente perto em
termos astronómicos. Também é muito compacto e contém muitas estrelas jovens.
Estes três fatores tornam-no no local ideal para estudar a formação estelar em
ação, particularmente para aqueles interessados em objetos muito fracos e
flutuantes.
"As anãs castanhas menos
massivas identificadas até agora têm apenas cinco a dez vezes a massa do
planeta Júpiter," explicou Scholz. "Ainda não sabemos se objetos
ainda mais leves se formam nos berçários estelares. Com o Webb, esperamos
identificar pela primeira vez membros do enxame tão pequenos quanto Júpiter. Os
seus números, em relação às mais massivas anãs castanhas e estrelas, vão lançar
luz sobre as suas origens e também fornecer pistas importantes sobre o processo
mais amplo de formação estelar."
Um
limite difuso
Objetos de massa muito baixa
são frios, o que significa que emitem a maior parte da sua luz em comprimentos
de onda infravermelhos. A observação da radiação infravermelha com telescópios
terrestres é complexa por causa da interferência da atmosfera da Terra. Devido
ao seu tamanho e à capacidade de ver a radiação infravermelha com uma
sensibilidade sem precedentes, o Webb é ideal para encontrar e caracterizar
objetos fugitivos (ou flutuantes) com massas inferiores a cinco vezes a massa
de Júpiter.
A distinção entre as anãs
castanhas e os planetas gigantes é imprecisa.
"Existem alguns objetos
com massas abaixo da marca dos 10 Júpiteres que flutuam livremente pelo enxame.
Dado que não orbitam nenhuma estrela em particular, podemos chamá-los de anãs
castanhas, ou objetos de massa planetária, pois não os conhecemos melhor,"
disse Koraljka Muzic da Universidade de Lisboa em Portugal. "Por outro
lado, alguns planetas gigantes e massivos podem ter reações de fusão. E algumas
anãs castanhas podem formar-se num disco."
Há também a questão dos
planetas "fugitivos" - objetos que se formam como planetas e mais
tarde são expelidos dos seus sistemas solares. Estes corpos flutuantes estão
condenados a vaguear para sempre entre as estrelas.
Dúzias
de uma só vez
A equipe irá usar o
instrumento NIRISS (Near Infrared Imager and Slitless Spectrograph) do Webb
para estudar estes vários objetos de baixa massa. Um espectrógrafo divide a luz
de uma única fonte nas suas cores componentes, da mesma maneira que um prisma
divide a luz branca num arco-íris. Esta luz transporta impressões digitais
produzidas quando o material emite ou interage com a luz. Os espectrógrafos
permitem que os investigadores analisem essas impressões digitais e descubram
propriedades como a temperatura e composição.
O NIRISS vai fornecer à
equipa informações simultâneas para dúzias de objetos. "Isto é
fundamental. Para uma confirmação inequívoca de uma anã castanha ou de um
planeta flutuante, precisamos de ver as assinaturas de absorção de moléculas -
água ou metano, principalmente - no espectro," explicou o membro da equipa
Ray Jayawardhana da Universidade de Cornell. "A espectroscopia é demorada,
e ser capaz de observar muitos objetos simultaneamente ajuda muito. A
alternativa é capturar imagens primeiro, medir cores, selecionar candidatos e,
em seguida, recolher espectros, o que leva muito mais tempo e baseia-se em
suposições."
O Telescópio Espacial James
Webb será o principal observatório científico espacial do mundo quando for
lançado em 2021. Vai resolver mistérios do nosso Sistema Solar, olhar para
mundos distantes em torno de outras estrelas e investigar as misteriosas
estruturas e origens do nosso Universo e o nosso lugar nele. O Webb é um
projeto internacional liderado pela NASA e pelos seus parceiros, a ESA e a
Agência Espacial Canadiana.
Fonte: ccvalg.pt
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