JWST vai procurar atmosferas em exoplanetas potencialmente habitáveis
Esta impressão de artista mostra o sete exoplanetas rochosos do
sistema TRAPPIST-1, localizado a 40 anos-luz da Terra. Os astrónomos vão
observar estes mundos com o Webb num esforço de detetar a primeira atmosfera
num planeta do tamanho da Terra para lá do nosso Sistema Solar.Crédito: NASA e
JPL/Caltech
Este mês marca o terceiro
aniversário da descoberta de um sistema notável com sete planetas conhecido
como TRAPPIST-1. Estes sete mundos rochosos do tamanho da Terra orbitam uma
estrela fria a 39 anos-luz do Sistema Solar. Três desses planetas estão na zona
habitável, o que significa que estão à distância orbital ideal para serem
quentes o suficiente para que a água líquida exista à superfície. Após o seu
lançamento em 2021, o Telescópio Espacial James Webb da NASA irá observar esses
mundos com o objetivo de fazer o primeiro estudo detalhado no infravermelho
próximo da atmosfera de um planeta na zona habitável.
Para encontrar sinais de uma
atmosfera, os astrónomos vão usar uma técnica chamada espectroscopia de
transmissão. Observam a estrela hospedeira enquanto o planeta cruza a sua face,
um evento conhecido como trânsito. A luz da estrela é filtrada pela atmosfera
do planeta, que absorve parte desta luz e deixa impressões digitais reveladores
no espectro da estrela.
Encontrar uma atmosfera em
torno de um exoplaneta rochoso - a palavra que os cientistas usam para planetas
para lá do nosso Sistema Solar - não será fácil. As suas atmosferas são mais
compactas do que as dos gigantes gasosos, enquanto o seu tamanho menor
significa que intercetam menos luz estelar. TRAPPIST-1 é um dos melhores alvos
disponíveis para o Webb, já que a própria estrela também é bastante pequena, o
que significa que o tamanho dos planetas, em relação à estrela, é maior.
"As atmosferas são mais
difíceis de detetar, mas a recompensa é maior. Seria muito emocionante fazer a
primeira deteção de uma atmosfera num planeta do tamanho da Terra," disse
David Lafrenière da Universidade de Montreal, investigador principal de uma das
equipas que examinam TRAPPIST-1.
Estrelas anãs vermelhas como
TRAPPIST-1 tendem a ter surtos violentos que podem tornar os seus planetas
inóspitos. Mas determinar se têm atmosferas e, em caso afirmativo, do que são
feitos, é o próximo passo para descobrir se a vida como a conhecemos poderia
sobreviver nestes mundos distantes.
Um
esforço coordenado
Mais de uma equipa de
astrónomos vai estudar o sistema TRAPPIST-1 com o Webb. Planeiam usar uma
variedade de instrumentos e modos de observação para obter o máximo de detalhes
possíveis para cada planeta no sistema.
"É um esforço coordenado
porque nenhuma equipa pode fazer tudo o que queremos com o sistema TRAPPIST-1.
O nível de cooperação tem sido realmente espetacular," explicou Nikole
Lewis da Universidade de Cornell, a investigadora principal de uma das equipas.
"Com sete planetas para
escolher, cada um de nós pode 'comer um pedaço do bolo'," acrescentou
Lafrenière.
O programa de Lafrenière terá
como alvo TRAPPIST-1d e -1f, num esforço de não apenas detetar uma atmosfera,
mas determinar a sua composição básica. Eles esperam ser capazes de distinguir
entre uma atmosfera dominada por vapor de água, ou uma composta principalmente
de azoto (como a Terra) ou dióxido de carbono (como Marte e Vénus).
O programa de Lewis vai
observar TRAPPIST-1e com objetivos semelhantes. TRAPPIST-1e é um dos
exoplanetas que mais tem em comum com a Terra em termos de densidade e
quantidade de radiação que recebe da sua estrela. Isto torna-o um ótimo
candidato à habitabilidade - mas os cientistas precisam de saber mais para ter
a certeza.
Uma
ampla variedade de planetas
Embora os planetas de
TRAPPIST-1 tenham apelo particular do ponto de vista de potencial
habitabilidade, o programa de Lafrenière terá como alvo uma variedade de
planetas - desde rochosos a mini-Neptunos a gigantes de gás do tamanho de
Júpiter - a uma variedade de distâncias das suas estrelas. O objetivo é
aprender mais sobre como e onde estes planetas se formam.
Em particular, os astrónomos
continuam a debater como os planetas gasosos podem ser encontrados tão perto
das suas estrelas. Muitos acreditam que este planeta deve ter-se formado mais
longe no disco protoplanetário - o disco em torno de uma estrela onde nascem os
planetas -, pois o material está disponível longe da estrela e depois migrou
para dentro. No entanto, outros cientistas teorizam que até mesmo os grandes
gigantes gasosos podem formar-se relativamente perto da sua estrela.
"Além disso, talvez se
tenham formado mais longe, mas quanto mais longe?", perguntou Lewis.
Para ajudar a informar o
debate, os astrónomos vão analisar a proporção de carbono e oxigénio numa
variedade de exoplanetas. Esta proporção pode servir como um marcador de onde o
planeta se formou, porque varia com a distância da estrela.
Mapas
meteorológicos
Além de examinar planetas
usando espectroscopia de transmissão, as equipas vão também empregar uma
técnica conhecida como curva de fase. Isto envolve a observação de um planeta
ao longo de uma órbita inteira, o que só é prático para os mundos mais quentes
com os períodos orbitais mais curtos.
Um planeta que orbita a sua
estrela muito perto sofre bloqueio de maré, o que significa que mostra sempre a
mesma face para a estrela, como a Lua faz com a Terra. Como resultado, observadores
distantes que observam o planeta vão vê-lo passar por várias fases, uma vez que
lados diferentes do planeta são visíveis a diferentes pontos da sua órbita.
Medindo o planeta em vários
momentos, os astrónomos podem construir um mapa da temperatura atmosférica em
função da longitude. Esta técnica foi pioneira no Telescópio Espacial Spitzer,
que fez o primeiro "mapa meteorológico" de um exoplaneta em 2007.
Além disso, observando a
emissão de calor do próprio planeta, os astrónomos podem modelar a estrutura
vertical da atmosfera.
"Com uma curva de fase,
podemos construir um modelo 3D completo da atmosfera de um planeta,"
explicou Lafrenière.
Este trabalho está a ser
realizado como parte do programa GTO (Guaranteed Time Observations) do Webb.
Este programa foi desenvolvido para recompensar cientistas que ajudaram a
desenvolver os principais componentes de hardware e software ou o conhecimento
técnico e interdisciplinar do observatório.
O Telescópio Espacial James
Webb será o principal observatório científico espacial do mundo quando for
lançado em 2021. Vai resolver mistérios do nosso Sistema Solar, olhar para
mundos distantes em torno de outras estrelas e investigar as misteriosas
estruturas e origens do nosso Universo e o nosso lugar nele. O Webb é um projeto
internacional liderado pela NASA e pelos seus parceiros, a ESA e a Agência
Espacial Canadiana.
Fonte: Astronomia OnLine
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