Neutrinos determinaram onde as galáxias se formaram no universo primitivo
No
início do universo, quem dominava tudo eram os neutrinos. Essas pequenas
partículas interagem com outra matéria de forma tão fraca, que cerca de 100
trilhões delas passam pelo seu corpo a cada segundo sem você notar, porém, elas
têm um efeito enorme na estrutura da matéria logo depois do big bang.
Nos
primeiros milhares de anos do universo, antes da formação das galáxias ou das
estrelas, pequenas ondulações na matéria começaram a se formar, e a maneira
como essas ondulações de formaram depende de forma decisiva de como os
neutrinos se comportam, ou melhor, comportavam.
Cientistas
desenvolveram um novo método para analisar a estrutura de grande escala do
universo, procurando pelo efeito dos neutrinos e para isso escaneando a sua
densidade. Eles descobriram que no início do universo, áreas sem muita matéria
ainda continham neutrinos, e essas grandes concentrações de matéria eram um
pouco, digamos, borradas ao redor das bordas.
Esse
efeito, de acordo com os pesquisadores, é causado pelos neutrinos, que mesmo
com a sua massa diminuta, puxavam matéria das regiões mais densas, diminuindo a
acumulação de matéria e fazendo com que a borda dessas aglomerações ficassem
menos definidas do que tinham sido antes.
Embora
não se saiba a massa dos neutrinos, sabe-se que eles são extremamente leves e
podem se mover a grandes velocidades, perto da velocidade da luz. No início do
universo, à medida que outras partículas estavam começando a se aglomerar, a
alta velocidade e a baixa interação dos neutrinos permitiu que eles pudessem
passar de um lado para o outro sem ser capturados pelas aglomerações.
Mesmo
assim a sua massa continua atraindo outra matéria, puxando ela para longe das
aglomerações. O locais onde os neutrinos puxaram a matéria a cerca de 14
bilhões de anos atrás, guiaram onde as estrelas e as galáxias se formaram.
No
momento em que as estruturas começaram a se aglomerar e criar um contraste de
densidade, os neutrinos faziam o trabalho de atrapalhar essas aglomerações. Não
somente esse efeito elucida o quão importante os neutrinos foram, mas o estudo
pode ajudar a resolver o grande problema sobre a massa dos neutrinos.
Os
neutrinos podem ajudar a resolver outro grande mistério: a quantidade precisa
de lítio no universo. Com base na quantidade de lítio que foi produzida no big
bang, nós esperaríamos que as estrelas velhas contivessem muito mais desse
elemento do que elas realmente possuem, e o que não está claro é por que essa
quantidade de lítio não bate, onde foi parar esse lítio perdido?
Essa
discrepância pode ser resolvida observando as diferenças em como as primeiras
estrelas explodiram e como as estrelas explodem agora.
Quando
uma estrela explode numa supernova, ela lança neutrinos de alta energia que
podem dar início a reações químicas em cascata. As primeiras estrelas seriam
relativamente compactas, o que significa que os neutrinos atingiriam o material
estelar de maneira mais forte pois ele estaria mais perto do núcleo que
explodiu.
Os
pesquisadores descobriram que essa alta densidade e a energia extra significa
que os neutrinos poderiam iniciar as reações químicas de maneira extremamente
eficiente, e isso poderia produzir mais lítio nas estrelas velhas do que nós
vemos. Isso não resolve o problema na verdade, deixa ele pior.
Uma
significante quantidade de lítio, bem como de alguns outros elementos, no
universo, agora, podem ter sido feitos pelos neutrinos nesse tipo de supernova.
Os
neutrinos são muito importantes na história inicial do universo. Mas eles são
muito difíceis de serem medidos em laboratório. Por isso é preciso vasculhar o
universo todo, em todas as épocas para tentar entender tudo que os neutrinos
podem nos ajudar, lembrando que eles fazem parte de um dos pés da chamada
astrofísica multimenssageira, junto com a radiação eletromagnética e as ondas
gravitacionais.
Fonte: Newscientist.com
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