Astrônomos descobrem sinais de “super-supernovas” que destruíram as primeiras estrelas
Uma
pesquisa disponível em pré-impressão no servidor arxiv.org, já aceita para
publicação no Astrophysical Journal, relata ter encontrado os traços químicos
de uma das primeiras estrelas do cosmos, nascidas quando o universo tinha
apenas 100 milhões de anos — que teriam explodido no que os cientistas estão
chamando de “super-supernovas”.
Essas estrelas
de primeira geração, pertencentes à chamada População III, terminaram suas
vidas em explosões de supernovas titânicas que semearam o universo com
elementos químicos que as estrelas haviam forjado durante suas vidas.
Segundo
uma variedade de estudos, esse material foi então incorporado na próxima
geração de estrelas, planetas e até em nós mesmos, o que indica que compreender
como essas primeiras estrelas enriqueceram o universo com elementos pesados é
vital para entender sua evolução ao longo de seus 13,7 bilhões de anos de
história.
Representação artística de uma estrela da População III, como era apenas 100 milhões de anos após o Big Bang. Imagem: NOIRLab/NSF/AURA/J. da Silva/Spaceengine
Usando
o telescópio Gemini North, no Havaí, para estudar um quasar extremamente
distante, os autores do artigo puderam analisar como ele era quando o universo
tinha “apenas” 700 milhões de anos de existência e encontraram em seu entorno
uma nuvem com uma assinatura química diferente.
Eles
puderam elucidar os elementos químicos na nuvem e encontraram uma proporção
extraordinariamente alta de ferro para magnésio, 10 vezes maior do que a mesma
proporção no Sol. A equipe acredita que isso poderia ser o resultado de uma
estrela de primeira geração com uma massa 300 vezes maior que a do astro rei,
que explodiu em uma supernova notavelmente poderosa designada supernova de instabilidade
dupla.
Nenhuma supernova de instabilidade dupla foi testemunhada até
agora
De
acordo com o site Space.com, os astrônomos ainda não testemunharam uma
supernova de instabilidade dupla, mas teorizam que essas explosões cavalares
ocorrem quando morrem estrelas gigantescas com massas entre 150 e 250 vezes a
do Sol.
Durante
essa poderosa explosão cósmica, fótons no centro de uma estrela espontaneamente
teriam se transformado em elétrons carregados negativamente e suas contrapartes
carregadas positivamente, os pósitrons. Isso acaba com a pressão de radiação
externa que suporta estrelas contra a força interna da gravidade durante suas
vidas.
Como
resultado, a estrela experimenta um colapso gravitacional, desencadeando uma
explosão de supernova que arrebenta as camadas externas.
Enquanto
supernovas comuns deixam para trás remanescentes estelares na forma de estrelas
de nêutrons ou buracos negros, supernovas de instabilidade dupla, em vez disso,
ejetam todo o seu material no espaço.
Astrônomos investigaram a primeira geração de estrelas através de observações de um quasar semelhante à ilustração acima. Imagem: NOIRLab/NSF/AURA/J. da Silva/Spaceengine
Dessa forma, os cientistas não são capazes de detectar essas supernovas procurando remanescentes estelares. Elas só podem ser rastreadas de duas maneiras: seja observando-as diretamente à medida que acontecem — o que é altamente improvável tendo em vista o quão vasto é o espaço — ou detectando a assinatura química do material irrompido.
“Era
óbvio para mim que o candidato a supernova para isto seria uma supernova de
instabilidade dupla de uma estrela da População III, na qual a estrela inteira
explode sem deixar nenhum remanescente para trás”, disse a coautora da pesquisa
e astrônoma da Universidade de Tóquio Yuzuru Yoshii, em comunicado. “Fiquei
encantada e um pouco surpresa ao descobrir que uma supernova de instabilidade
dupla de uma estrela com uma massa cerca de 300 vezes maior que a do Sol
fornece uma proporção de magnésio para o ferro que concorda com o baixo valor
que derivamos para o quasar”.
Yoshii
e sua equipe recorreram a observações anteriores feitas pelo telescópio Gemini
North de 8,1 metros usando o Espectrógrafo Quase-Infravermelho Gemini (GNIRS)
para caçar assinaturas de estrelas da População III explodidas.
Como
os elementos absorvem e emitem luz em comprimentos de onda específicos, eles
deixam ‘impressões digitais’ distintas na luz que passa por uma nuvem, e
instrumentos como GNIRS conseguem determinar a composição química da nuvem.
Determinar
as quantidades de um elemento, no entanto, continua sendo difícil, uma vez que
o brilho de uma assinatura pode depender de fatores diferentes da abundância.
Para
resolver esse problema, a equipe de Yoshii criou um método que se baseia na
intensidade dos comprimentos de onda de luz provenientes do espectro de luz de
um quasar.
Essa
abordagem permitiu que os cientistas determinassem a abundância de elementos em
nuvens ao redor desse objeto, revelando a quantidade extraordinariamente alta
de ferro em comparação ao magnésio.
A
equipe considera este o indicador mais claro até agora de uma estrela da
População III e uma supernova de instabilidade dupla. Os cientistas querem
investigar nuvens quasares semelhantes e tentar descobrir se elas também
apresentam essas características.
Embora
estrelas de alta massa da População III tenham morrido há muito tempo, suas
assinaturas químicas ainda podem ser detectáveis. A equipe acredita que a
assinatura de instabilidade dupla pode durar muito tempo, então a evidência de
estrelas mortas há muitos e muitos anos também pode ser encontrada impressa em
objetos no universo local.
Fonte: Olhar Digital
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