As Semelhanças entre estrelas de Nêutrons e Buracos Negros
Os binários de raios-X são sistemas compostos por uma estrela normal e uma estrela colapsada – uma estrela de nêutrons ou um buraco negro. A matéria que cai da estrela normal para a estrela colapsada fica tão quente que emite raios-X abundantes.
Quando a luminosidade desses raios-X é alta, as instabilidades que ocorrem podem nos ajudar a entender as condições extremas encontradas nas proximidades de estrelas colapsadas. Em um estudo recente, os pesquisadores relatam padrões de variabilidade no sistema de estrelas de nêutrons Swift J1858.6−0814, anteriormente considerados únicos para o buraco negro GRS 1915+105.
O padrão
de raios-X emitido pelo GRS 1915+105 é semelhante a um eletrocardiograma e
exibe uma característica chamada variabilidade do tipo β ou “batimento
cardíaco”. Essa variabilidade é resultado direto da taxa flutuante de acreção
de matéria no buraco negro. Isso leva à rápida depleção e reabastecimento do
disco de acreção interno, causando variações na emissão de raios-X e resultando
em uma instabilidade dinâmica conhecida como ciclo limite.
Um ciclo
limite descreve um conjunto definido de comportamentos pelos quais um sistema
dinâmico passa, sem explorar outras possibilidades. No caso do GRS 1915+105, o
ciclo limite pode ser entendido em termos de mudanças no raio do disco interno,
que varia conforme o disco se esgota e se enche novamente. Essas mudanças
ocorrem devido à interação entre a gravidade e a pressão da radiação no fluxo
de acreção.
Os
pesquisadores realizaram uma campanha ambiciosa para obter observações de
multi-comprimentos de onda do sistema binário de raios-X de estrelas de
nêutrons Swift J1858.6−0814. O sistema, descoberto em outubro de 2018, era uma
escolha excelente para o estudo, sendo muito brilhante e apresentando emissão
altamente variável.
Um dos
principais resultados da campanha foi a descoberta de “batimentos” na emissão
de raios-X, infravermelho, óptico e ultravioleta do Swift J1858.6−0814. Esse
padrão de variabilidade era muito semelhante à variabilidade do tipo β
observada em raios-X do GRS 1915+105.
Os autores
propõem um modelo para explicar as propriedades multi-comprimentos de onda
observadas em ambas as fontes. O modelo sugere que as mudanças no tamanho do
disco de acreção induzem rápida variabilidade nos raios-X de ambos os sistemas,
mas essa variabilidade é menos óbvia no sistema de estrela de nêutrons devido à
obscuridade do disco interno.
Os jatos
que se formam durante a depleção do disco do GRS 1915+105 podem ser observados
diretamente como emissões infravermelhas e de rádio, enquanto os jatos ejetados
do disco do Swift J1858.6−0814 são obscurecidos e observados apenas como
“batimentos” de radiação reemitida em frequências ópticas e ultravioleta.
A emissão
em batimento não é observada no GRS 1915+105 porque seu disco de acreção é
maior do que o do Swift J1858.6−0814 e está orientado de maneira diferente em
relação à Terra. Além disso, há material absorvente no sistema de estrela de
nêutrons que não está presente no sistema de buraco negro, embora as razões
para isso sejam desconhecidas.
Os
pesquisadores argumentam que esse cenário físico poderia ser válido para todos
os buracos negros e estrelas de nêutrons em acreção com alta luminosidade. Tal
conclusão exigirá mais suporte de outras fontes, mas está claro que
instabilidades de acreção, jatos e a presença de material obscuro são três
aspectos a serem observados ao estudar objetos em acreção com alta
luminosidade.
Embora a
proposta dos autores seja plausível, as simulações de computador ainda não
conseguem reproduzir tais modelos de instabilidade em detalhes. São necessárias
mais observações, tanto para confirmar as previsões do modelo quanto – talvez
mais importante – para melhor restringir os parâmetros do modelo.
A
conquista dos pesquisadores nesse trabalho só foi possível graças ao uso de
cinco telescópios, em locais na Terra e no espaço, observando sinais da mesma
fonte em diferentes frequências. Campanhas coordenadas como essa são difíceis
de organizar, em parte devido à visibilidade determinada pela posição de uma
fonte em relação à Terra e às condições meteorológicas locais em cada
instalação.
No
entanto, elas também são complicadas pela programação, que é determinada pelo
tempo disponível para cada instalação observar a fonte e pelas várias comissões
de revisão que concedem o tempo de observação. Confirmar que binários de alta
luminosidade compartilham um mecanismo de acreção comum será, portanto, um
desafio. Enquanto isso, o Swift J1858.6−0814 sugere que isso é possível, e tal
possibilidade é certamente intrigante.
O estudo
representa um passo importante na compreensão das instabilidades de acreção em
sistemas binários de raios-X, apresentando evidências de um mecanismo
compartilhado entre buracos negros e estrelas de nêutrons. Embora ainda sejam
necessárias mais observações e estudos para confirmar essa teoria, a pesquisa
atual oferece uma visão intrigante das complexidades e comportamentos dos
sistemas estelares e abre caminho para novas descobertas no campo da astrofísica.
Fonte: spacetoday.com.br
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