Sinal cósmico do Universo primitivo ajudará os astrónomos a detetar as primeiras estrelas
É muito importante compreender
como o Universo passou da escuridão para a luz com a formação das primeiras
estrelas e galáxias, transição esta uma viragem fundamental no desenvolvimento
do Universo a que damos o nome Aurora Cósmica. No entanto, mesmo com os
telescópios mais potentes, não podemos observar diretamente estas primeiras
estrelas, pelo que a determinação das suas propriedades é um dos maiores
desafios da astronomia.
Esta imagem mostra um campo profundo chamado GOODS-South, obtido pelo James Webb como parte do programa JADES (JWST Advanced Deep Extragalactic Survey). Contém milhares de galáxias de várias formas e tamanhos. Crédito: ESA/Webb, NASA, ESA, CSA
Agora, um grupo internacional de
astrónomos liderado pela Universidade de Cambridge demonstrou que será possível
conhecer as massas das primeiras estrelas através do estudo de um sinal de
rádio específico - criado por átomos de hidrogénio que preenchem os espaços
entre as regiões de formação estelar - com origem apenas cem milhões de anos
após o Big Bang.
Ao estudar a forma como as
primeiras estrelas e os seus remanescentes afetaram este sinal, designado por
sinal de 21 centímetros, os investigadores mostraram que os futuros
radiotelescópios nos ajudarão a compreender o Universo primitivo e a forma como
este se transformou de uma massa quase homogénea de hidrogénio para a incrível
complexidade que vemos hoje. Os seus resultados foram apresentados na revista
Nature Astronomy.
"Esta é uma oportunidade
única para aprender como a primeira luz do Universo emergiu da escuridão",
disse a coautora professora Anastasia Fialkov, do Instituto de Astronomia de
Cambridge. "A transição de um Universo frio e escuro para um Universo
repleto de estrelas é uma história que estamos apenas a começar a
compreender".
O estudo das estrelas mais
antigas do Universo depende do brilho ténue do sinal de 21 centímetros, um
subtil sinal energético de há mais de 13 mil milhões de anos. Este sinal,
influenciado pela radiação das estrelas primitivas e dos buracos negros, proporciona
uma rara janela para a infância do Universo.
Fialkov lidera o grupo teórico do
REACH (Radio Experiment for the Analysis of Cosmic Hydrogen). REACH também dá
nome uma antena de rádio e é um dos dois grandes projetos que poderão
ajudar-nos a aprender mais sobre a Aurora Cósmica e sobre a Época da Reionização,
quando as primeiras estrelas reionizaram átomos de hidrogénio neutro no
Universo.
Embora o REACH, que capta sinais
de rádio, ainda esteja na fase de calibração, promete revelar dados sobre o
início do Universo. Entretanto, o SKA (Square Kilometre Array) - um enorme
conjunto de antenas em construção - irá mapear as flutuações dos sinais
cósmicos em vastas regiões do céu.
Ambos os projetos são vitais para
investigar as massas, luminosidades e distribuição das primeiras estrelas do
Universo. No estudo atual, Fialkov - que também é membro do SKA - e os seus
colaboradores desenvolveram um modelo que faz previsões para o sinal de 21
centímetros, tanto para o REACH como para o SKA, e descobriram que o sinal é
sensível às massas das primeiras estrelas.
"Somos o primeiro grupo a
modelar de forma consistente a dependência do sinal de 21 centímetros das
massas das primeiras estrelas, incluindo o impacto da luz estelar ultravioleta
e das emissões de raios X de binários de raios X produzidos quando as primeiras
estrelas morrem", disse Fialkov, que também é membro do Instituto Kavli de
Cosmologia em Cambridge. "Estes conhecimentos derivam de simulações que
integram as condições primordiais do Universo, tais como a composição
hidrogénio-hélio produzida pelo Big Bang".
Ao desenvolver o seu modelo
teórico, os investigadores estudaram a forma como o sinal de 21 centímetros
reage à distribuição da massa das primeiras estrelas, conhecidas como estrelas
da População III. Descobriram que os estudos anteriores tinham subestimado esta
ligação porque não tinham em conta o número e o brilho dos binários de raios X
- sistemas binários constituídos por uma estrela normal e por uma estrela
colapsada - entre as estrelas da População III, e a forma como estes afetam o
sinal de 21 centímetros.
Ao contrário dos telescópios
óticos, como o Telescópio Espacial James Webb, que captam imagens vívidas, a
radioastronomia baseia-se na análise estatística de sinais ténues. O REACH e o
SKA não conseguirão obter imagens de estrelas individuais, mas fornecerão
informações sobre populações inteiras de estrelas, sistemas binários de raios X
e galáxias.
"É preciso um pouco de
imaginação para ligar os dados de rádio à história das primeiras estrelas, mas
as implicações são profundas", disse Fialkov.
"As previsões que relatamos
têm enormes implicações para a nossa compreensão da natureza das primeiras
estrelas do Universo", disse o coautor Dr. Eloy de Lera Acedo,
investigador principal do telescópio REACH e das atividades de desenvolvimento
do SKA em Cambridge. "Mostramos evidências de que os nossos
radiotelescópios nos podem dizer pormenores sobre a massa dessas primeiras
estrelas e como essas primeiras luzes podem ter sido muito diferentes das
estrelas atuais.
"Os radiotelescópios como o
REACH prometem desvendar os mistérios do Universo primitivo e estas previsões
são essenciais para orientar as observações de rádio que estamos a fazer a
partir do Karoo, na África do Sul".
Astronomia OnLine

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