Um vulcão "escondido à vista de todos" pode ajudar a datar Marte - e a sua habitabilidade
Cientistas do Instituto de Tecnologia da Geórgia, EUA, descobriram evidências de que uma montanha na orla da cratera Jezero - onde o rover Perseverance da NASA está atualmente a recolher amostras para possível envio à Terra - é provavelmente um vulcão. Chamado Jezero Mons, tem quase metade do tamanho da cratera e pode fornecer pistas importantes sobre a habitabilidade e sobre o vulcanismo de Marte, transformando a forma como compreendemos a história geológica de Marte.
Ilustração do possível aspeto da
cratera Jezero há milhares de milhões de anos em Marte, quando era um lago.
Jezero Mons é visível na parte frontal direita da orla da cratera. Crédito:
NASA/JPL-Caltech
O estudo foi publicado no passado
mês de maio na revista Communications Earth & Environment e sublinha o
muito que ainda temos para aprender sobre uma das regiões mais bem estudadas de
Marte.
A autora principal, Sara C.
Cuevas-Quiñones, completou a investigação enquanto estudante universitária
durante um programa de verão no Instituto de Tecnologia da Geórgia; é agora
estudante na Universidade Brown. A equipa também incluiu o autor correspondente,
o professor James J. Wray, a professora assistente Frances Rivera-Hernández e
Jacob Adler, na altura pós-doutorado no Instituto de Tecnologia da Geórgia e
agora professor assistente de investigação na Universidade do Estado do
Arizona.
"O vulcanismo em Marte é
intrigante por várias razões - desde as implicações que tem na habitabilidade
até a um melhor conhecimento da história geológica", diz Wray. "A
cratera Jezero é um dos locais mais bem estudados de Marte. Se só agora estamos
a identificar um vulcão aqui, imagine-se quantos mais poderão existir em Marte.
Os vulcões podem estar ainda mais espalhados por Marte do que pensávamos".
Uma montanha nas margens
Wray reparou na montanha pela
primeira vez em 2007, enquanto estudava a cratera Jezero como estudante.
"Estava a olhar para
fotografias de baixa resolução da área e reparei numa montanha na borda da
cratera", recorda. "Para mim, parecia um vulcão, mas era difícil
obter imagens adicionais". Na altura, a cratera Jezero tinha sido descoberta
recentemente e as imagens centravam-se quase exclusivamente na sua intrigante
história da água, que se encontra no lado oposto da cratera de 45 quilómetros
de largura.
Então, a cratera Jezero, devido a
estes depósitos sedimentares semelhantes a lagos, foi selecionada como local de
aterragem do rover Perseverance - uma missão da NASA ainda em curso que procura
sinais de vida marciana antiga e recolhe amostras de rochas para possível envio
à Terra.
No entanto, após a aterragem,
algumas das primeiras rochas que o Perseverance encontrou não eram os depósitos
sedimentares que se poderia esperar de uma área anteriormente inundada - eram
vulcânicas. Wray suspeitava que poderia saber a origem destas rochas, mas para
fazer esse argumento, teria de demonstrar que a montanha na orla da cratera
Jezero poderia ser, de facto, um vulcão.
Vista de Jezero Mons. A montanha tem cerca de 21 quilómetros de diâmetro. Crédito: C. Cuevas-Quiñones et al., 2025; Instituto de Tecnologia da Geórgia
Uma nova investigadora - e dados antigos
A oportunidade surgiu vários
meses após a aterragem do Perseverance, quando Cuevas-Quiñones se candidatou a
um programa de verão para estudantes universitários organizado pela Escola de
Ciências da Terra e da Atmosfera do Instituto de Tecnologia da Geórgia, para
trabalhar com Wray.
"Um estudo anterior liderado
por Briony Horgan (professora de ciências planetárias na Universidade de
Purdue) também sugeriu que Jezero Mons poderia ser vulcânico", diz
Cuevas-Quiñones. "Comecei a interrogar-me se haveria uma forma de confirmar
estas suspeitas".
A equipa fez uma parceria com a
coautora do estudo, Rivera-Hernández, que é especialista em caracterizar a
superfície dos planetas e a sua habitabilidade. Decidiram usar conjuntos de
dados recolhidos por naves espaciais em órbita de Marte para comparar as
propriedades de Jezero Mons com outros vulcões conhecidos. "Não podemos
visitar Marte e provar definitivamente que Jezero Mons é um vulcão, mas podemos
mostrar que partilha as mesmas propriedades com os vulcões existentes - tanto
aqui na Terra como em Marte", explica Wray.
"Utilizámos dados da Mars
Odyssey, da MRO (Mars Reconnaissance Orbiter), da ExoMars TGO (Trace Gas
Orbiter) e do rover Perseverance, todos combinados para resolver este
problema", acrescenta. "Penso que isto mostra que estas naves
espaciais mais antigas podem ser extremamente valiosas muito depois do fim das
suas missões iniciais - estas velhas naves espaciais ainda podem fazer
descobertas importantes e ajudar-nos a responder a perguntas complicadas".
Para Cuevas-Quiñones, este facto
também sublinha a importância dos programas e das oportunidades para os
estudantes universitários. "Na altura, eu era estudante universitária e
foi a primeira vez que fiz investigação", afirma. "Foi fascinante
aprender como diferentes conjuntos de dados podiam ser utilizados para
descodificar a origem de uma paisagem. Depois de Jezero Mons, tornou-se claro
para mim que iria continuar a estudar Marte e outros corpos planetários".
A procura de vida - e a
determinação da idade de Marte
A descoberta torna a cratera
ainda mais intrigante na procura de vida passada em Marte. Um vulcão tão
próximo da aquosa cratera Jezero poderia acrescentar uma fonte crítica de calor
num planeta que, de outro modo, seria frio, incluindo o potencial para atividade
hidrotermal - energia que a vida poderia usar para prosperar.
Este tipo de sistema também tem
interesse para Marte como um todo. "A coalescência destes dois tipos de
sistemas torna Jezero mais interessante do que nunca", partilha Wray.
"Temos amostras de incríveis rochas sedimentares que podem ser de uma
região habitável, juntamente com rochas ígneas com um valor científico
importante". Se forem enviadas à Terra, as rochas ígneas podem ser datadas
com radioisótopos para conhecer a sua idade com grande precisão. A datação das
amostras da cratera Jezero pode ser usada para calibrar as estimativas de
idade, fornecendo uma janela sem precedentes para a história geológica do
planeta.
A mensagem a levar para casa?
"Marte é o melhor local do nosso Sistema Solar para procurar sinais de
vida e, graças ao rover Perseverance que recolheu amostras em Jezero, os
Estados Unidos têm amostras das melhores rochas no melhor local de Marte",
diz Wray. "Se estas amostras forem enviadas à Terra, poderemos fazer uma
ciência incrível e inovadora com elas".
Astronomia OnLine


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