Olhos em vênus: satélites climáticos da terra revelam segredos do planeta mais quente
Os satélites meteorológicos, originalmente projetados para observar o clima da Terra, estão ajudando a desvendar mistérios sobre Vênus, o planeta mais quente do nosso sistema solar
Uma foto com seções ampliadas
para mostrar o quão pequeno Vênus é no campo de visão dos satélites de
observação. Apesar dessa limitação, os pesquisadores ainda podem coletar dados
úteis. Crédito: 2025 Nishiyama et al. CC-BY-ND
Um estudo liderado por
pesquisadores da Universidade de Tóquio usou dados de imagens infravermelhas
dos satélites japoneses Himawari-8 e Himawari-9 para monitorar mudanças na
temperatura das nuvens de Vênus ao longo do tempo. Essa abordagem pode abrir portas
para observações de longo prazo de outros planetas.
Como isso funciona?
Os satélites Himawari-8 e
Himawari-9, lançados em 2014 e 2016, foram criados para estudar a atmosfera da
Terra com sensores especiais chamados Advanced Himawari Imagers (AHIs). Esses
sensores captam imagens em várias faixas de luz, incluindo o infravermelho, que
mede temperaturas. Por acaso, Vênus aparece às vezes no canto das imagens
desses satélites, o que permitiu à equipe, liderada pelo cientista Gaku
Nishiyama, usar esses dados para estudar o planeta.
Entre 2015 e 2025, os
pesquisadores analisaram 437 imagens de Vênus captadas pelos satélites. Eles
observaram como a temperatura no topo das nuvens de Vênus mudava ao longo de
dias e anos. Isso é importante para entender como a atmosfera de Vênus funciona,
incluindo padrões como marés térmicas (variações de temperatura causadas pela
rotação do planeta) e ondas atmosféricas de grande escala.
Os Imageadores Avançados Himawari medem a temperatura de Vênus em múltiplas faixas infravermelhas, mostrando a variação temporal ao longo do período de observação. Crédito: 2025 Nishiyama et al. CC-BY-ND
Por que isso é importante?
Estudar Vênus é desafiador porque
as missões espaciais dedicadas ao planeta geralmente duram menos de 10 anos, e
telescópios na Terra enfrentam limitações, como interferência da atmosfera
terrestre ou da luz solar. Já os satélites meteorológicos, como o Himawari,
podem operar por muito tempo (até 2029, no caso desses satélites) e fornecer
dados contínuos e de alta qualidade. Isso permite observar mudanças na
atmosfera de Vênus que antes eram difíceis de detectar.
O que foi descoberto?
O estudo revelou padrões de ondas
térmicas e mudanças na atmosfera de Vênus que não haviam sido observados antes.
Por exemplo, os pesquisadores notaram variações na amplitude das marés térmicas
e das ondas planetárias, que parecem diminuir com a altitude. Embora a
resolução das imagens não permita conclusões definitivas sobre as causas dessas
mudanças, os dados sugerem que elas podem estar ligadas a variações na
estrutura atmosférica de Vênus que ocorrem ao longo de décadas.
Além disso, os dados dos
satélites ajudaram a identificar diferenças em medições de missões espaciais
anteriores, melhorando a precisão das informações sobre Vênus.
Um novo jeito de estudar
planetas
Gaku Nishiyama acredita que essa
técnica pode ser usada para estudar outros corpos celestes, como a Lua e
Mercúrio. As imagens infravermelhas podem revelar informações sobre a
superfície e a composição desses corpos, ajudando a entender como eles evoluíram.
Diferentemente das observações feitas da Terra, que são limitadas por condições
como nuvens ou luz solar, os satélites meteorológicos oferecem uma visão mais
clara e contínua.
E o futuro?
Com poucas missões previstas para
Vênus até 2030, os satélites meteorológicos podem ser uma ferramenta valiosa
para continuar estudando o planeta. Esse método pode não só melhorar nosso
entendimento sobre Vênus, mas também contribuir para o estudo de outros
planetas e luas, ajudando a revelar como o sistema solar se formou e evoluiu.
Essa pesquisa mostra como a
tecnologia criada para observar o clima da Terra pode ser usada de forma
criativa para explorar o espaço, trazendo novas descobertas sobre o universo.
Terrarara.com.br


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