Explosões dessas estrelas criam planetas inteiros feitos de ouro
Imagine uma estrela tão poderosa que suas explosões podem criar elementos preciosos como ouro e platina. Essa não é apenas uma ideia de ficção científica, mas uma descoberta recente que está iluminando novos caminhos na astrofísica. Astrônomos descobriram que uma explosão colossal de uma estrela supermagnetizada, conhecida como magnetar, pode ser a origem de alguns dos elementos mais raros do universo.
Conceito artístico mostra um
magnetar — uma estrela de nêutrons com campo magnético extremo — liberando
material no espaço em uma ejeção capaz de reduzir sua rotação. As linhas verdes
representam seu campo magnético altamente distorcido, que direciona o fluxo de
partículas eletricamente carregadas emitidas pelo astro. Crédito:
NASA/JPL-Caltech
O mistério do flash de
2004
Em dezembro de 2004, um
observatório espacial capturou um flash de luz surpreendente de um magnetar,
uma estrela envolta em campos magnéticos trilhões de vezes mais fortes que os
da Terra. Essa explosão durou apenas alguns segundos, mas liberou mais energia
do que o Sol em um milhão de anos. No entanto, um sinal menor e mais tardio,
captado 10 minutos depois, deixou os cientistas intrigados por quase duas
décadas.
Recentes descobertas feitas por
astrônomos do Centro de Astrofísica Computacional do Instituto Flatiron
revelaram que esse sinal marcava o nascimento raro de elementos pesados. A
pesquisa, publicada no The Astrophysical Journal Leters, sugere que a explosão
gerou uma quantidade de metais pesados equivalente a um terço da massa da
Terra.
Brian Metzger, coautor do estudo
e pesquisador da CCA, afirma que essa foi apenas a segunda vez que a formação
desses elementos foi observada diretamente, a primeira sendo a fusão de
estrelas de nêutrons. A descoberta representa um salto significativo na
compreensão da produção de elementos pesados.
Na imagem, um jato fotônico de altíssima energia (em branco e azul) atravessa um colapsar com um buraco negro em seu núcleo. A área vermelha ao redor indica o casulo, onde ocorre a captura de nêutrons livres, ativando o processo-r — responsável pela criação de elementos pesados no universo. Crédito: Laboratório Nacional de Los Alamos
O enigma dos elementos
pesados
A maior parte dos elementos que
conhecemos não existia desde o início do universo. enquanto o Big Bang criou
hidrogênio, hélio e um toque de lítio, quase tudo o mais foi forjado pelas
estrelas. Embora os cientistas compreendam bem onde e como os elementos mais
leves são formados, a origem de muitos dos elementos mais pesados, ricos em
nêutrons, permanece um mistério.
Esses elementos são criados
através de um conjunto de reações nucleares conhecidas como processo de captura
rápida de neutrons, ou r-processo. Este processo requer um excesso de nêutrons
livres, algo que só pode ser encontrado em ambientes extremos, como fusões de
estrelas de nêutrons. Porém, até recentemente, os astrônomos não tinham provas
de outros locais promissores para o r-processo.Universo
Em 2017, a colisão de duas
estrelas de nêutrons forneceu a primeira confirmação de um local de r-processo,
mostrando que seu ambiente rico em nêutrons é perfeito para a formação de
elementos pesados. Mas logo ficou claro que essas colisões raras não podiam
explicar todos os elementos r-processo que vemos hoje.
O papel dos magnetars
Suspeitas começaram a surgir de
que os magnetars, com seu intenso magnetismo, poderiam também ser uma fonte de
elementos r-processo. Em 2024, Metzger e seus colegas calcularam que explosões
gigantes poderiam ejetar material da crosta de um magnetar para o espaço, onde
os elementos pesados poderiam se formar.
Anirudh Patel, doutorando em
Columbia e autor principal do estudo, destaca que é espantoso pensar que os
metais preciosos em nossos dispositivos eletrônicos são criados em ambientes
tão extremos. O estudo mostrou que essas explosões criam núcleos radioativos
instáveis que decaem em elementos estáveis como o ouro, emitindo uma luz
brilhante durante o processo.
Além disso, a equipe descobriu
que o brilho resultante do decaimento radioativo seria visível como um surto de
raios gama, uma forma de luz altamente energizada Quando compartilharam suas
conclusões com astrônomos observacionais de raios gama, descobriram que um
sinal semelhante havia sido detectado décadas atrás, mas nunca explicado.
Uma nova era de
descobertas cósmicas
Os astrônomos estimam que a
explosão de 2004 produziu cerca de 2 milhões de bilhões de bilhões de
quilogramas de elementos pesados, equivalente a massa de Marte. Eles também
sugerem que de um a 10% de todos os elementos r-processo em nossa galáxia foram
criados por essas explosões gigantes. Mas saber a proporção exata ainda é um
desafio.
Metzger menciona que não podemos
descartar a existência de outros locais de formação de elementos que ainda não
descobrimos. Patel adiciona que essas explosões gigantes podem ter ocorrido
cedo na história galáctica, oferecendo uma solução para a presença de mais
elementos pesados em galáxias jovens do que se poderia esperar apenas das
fusões de estrelas de nêutrons.
Para precisar as porcentagens,
mais explosões gigantes de magnetar precisam ser observados. Missões como o
espectrômetro de raios gama da NASA, previsto para lançamento em 2027, ajudarão
à capturar melhor esses sinais. Grandes explosões de magnetar parecem ocorrer a
cada poucas décadas na Via Lactea, e cerca de uma vez por ano no universo
visível, mas o desafio é detectá-los a tempo.
Metzger observa que, uma vez que
um surto de raios gama é detectado, é preciso apontar um telescópio
ultravioleta para a fonte em 10 à 15 minutos para ver o pico do sinal e
confirmar a formação de elementos r-processo. Será uma perseguição emocionante.
Hypescience.com


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