5 Ideias da Física Moderna que Vão Mudar Sua Perspectiva do Universo
Mais Perguntas do que Respostas
De tempos em tempos, surge a
ideia de que a física está perto de resolver todas as suas grandes questões. No
entanto, como diria o físico Brian Cox, essa noção é tão redondamente
equivocada que beira o cômico. Um diálogo recente entre Cox e seu colega Neil
deGrasse Tyson revela que estamos em um dos momentos mais emocionantes da
física fundamental, uma era definida menos por respostas e mais por mistérios
profundos e fascinantes.
A seguir, exploramos cinco ideias
discutidas por Tyson e Cox que vão abalar sua compreensão do universo e mostrar
que as maiores descobertas ainda estão por vir.
Não é “Matéria Escura”, é “Gravidade Escura”
1. O problema não é a
matéria escura, mas o nome que demos a ela
Há décadas, os astrônomos
observam um fenômeno intrigante: as galáxias giram rápido demais. A velocidade
de rotação é tão alta que a gravidade de toda a matéria visível — estrelas, gás
e poeira — não seria suficiente para mantê-las coesas. Elas deveriam se
despedaçar. A conclusão lógica é que deve haver muito mais massa, e portanto
mais gravidade, do que podemos ver. A isso, demos o nome de “matéria escura”.
No entanto, Neil deGrasse Tyson
argumenta que esse nome é um grande erro. O termo “matéria escura” pressupõe
que sabemos o que é essa “coisa” — algum tipo de partícula que ainda não
detectamos. Mas, na verdade, tudo o que observamos é seu efeito gravitacional.
Não vemos matéria; vemos um excesso de gravidade. Para Tyson, chamar o fenômeno
de “gravidade escura” seria mais honesto e cientificamente preciso.
Ele enfatiza essa ideia de forma
contundente:
Eu diria que não é matéria
escura, é gravidade escura… se não sabemos o que é, não tínhamos o direito
algum de chamá-la de matéria.
Brian Cox concorda com o problema
da nomenclatura. Se o modelo de uma partícula exótica se provar errado, a mídia
poderia anunciar erroneamente que “a matéria escura não existe”, causando
confusão. O fenômeno, a gravidade extra, continuaria lá, pois é uma medição
real.
Ainda assim, Cox ressalta que o
modelo de uma partícula que interage fracamente e não interage com a luz é,
atualmente, o que melhor se ajusta a todos os dados observacionais, incluindo
não apenas a rotação de galáxias, mas também a radiação cósmica de fundo em
micro-ondas — a luz mais antiga do universo.
Essa discussão revela um ponto
crucial sobre a ciência: a importância da linguagem. Mudar a perspectiva de
“matéria” para “gravidade” nos força a ser mais rigorosos sobre o que realmente
sabemos (a observação de um efeito) e o que é apenas um modelo de trabalho (a
hipótese de uma partícula).
O Menor Número da Física é
o Maior Mistério do Universo
2. O maior mistério do
universo é, na verdade, um número ridiculamente pequeno
No final dos anos 90, astrônomos
fizeram uma descoberta chocante que lhes rendeu o Prêmio Nobel: a expansão do
universo não está diminuindo, como se esperava, mas sim se acelerando. A
descoberta foi tão inesperada que, como Brian Cox relembra, um dos cientistas
envolvidos (um amigo seu) inicialmente não acreditou nos próprios dados. Algo
está empurrando o tecido do espaço-tempo para fora, cada vez mais rápido. Na
teoria de Einstein, essa aceleração é representada por um termo chamado
“constante cosmológica”.
O problema? Não temos a menor
ideia do que a causa. Como Brian Cox aponta, a premiação celebra a descoberta,
não a sua explicação.
O Prêmio Nobel foi concedido pela
observação, não pela compreensão.
O que torna esse mistério tão
profundo é o valor medido para essa constante. Em unidades apropriadas, é algo
em torno de 10⁻¹²², um número tão absurdamente pequeno que é praticamente zero. Mas o ponto
crucial é que ele
não é zero.
Isso deixa os físicos com uma
pergunta que tira o sono: por que esse número é tão pequeno, mas diferente de
zero? A implicação é existencial. Se a constante cosmológica fosse um pouco
maior, a expansão do universo teria sido tão violenta que o espaço teria se
“rasgado” antes que a gravidade tivesse tempo de aglomerar a matéria para
formar estrelas, galáxias e, consequentemente, nós. Nossa própria existência
depende desse ajuste fino quase milagroso.
Para tornar as coisas ainda mais
intrigantes, Cox menciona uma ideia recente e fascinante que está surgindo no
campo da Teoria das Cordas. Pesquisadores estão começando a encontrar possíveis
conexões entre o mistério da constante cosmológica e o mistério da matéria
escura, sugerindo que esses dois grandes enigmas do cosmos podem ser duas faces
da mesma moeda.
A Teoria das Cordas Não
Morreu, Apenas Evoluiu
3. A Teoria das Cordas não
é a “Teoria de Tudo” que esperávamos (e isso é bom)
Para o público geral, a Teoria
das Cordas ficou famosa por livros como “O Universo Elegante”, de Brian Greene.
A promessa era grandiosa: uma única e bela equação que poderia descrever todas
as forças e partículas do universo — uma “Teoria de Tudo”. A esperança era que,
com essa teoria, poderíamos “prever o universo e ir para casa”.
Segundo Brian Cox, essa ideia
inicial, de uma resposta simples e final, “desapareceu”. A teoria se mostrou
muito mais complexa e desafiadora do que os físicos imaginavam.
No entanto, isso não significa
que a teoria esteja morta. Longe disso. A ideia fundamental da Teoria das
Cordas — que as partículas fundamentais não são pontos, mas minúsculas “cordas”
ou laços vibrantes — continua sendo a base de grande parte da física teórica
moderna. A prova de sua vitalidade está nas novas e surpreendentes conexões que
continua a gerar — como a ideia, mencionada anteriormente, de que os mistérios
da constante cosmológica e da matéria escura podem estar interligados no âmbito
da Teoria das Cordas, possivelmente através de dimensões extras.
Aliás, uma das peculiaridades
matemáticas mais fascinantes da teoria é que ela “funciona em 10 dimensões e
apenas em 10 dimensões”. A jornada da Teoria das Cordas é uma lição sobre como
a ciência realmente funciona. O progresso raramente vem de uma única revelação
elegante. Em vez disso, ele emerge de uma exploração mais profunda, mais
complicada e, por vezes, mais confusa da realidade, onde cada camada desvendada
revela uma complexidade ainda maior por baixo.
A Gravidade é Tão Fraca
que Esconde Suas Partículas de Nós
4. A razão pela qual não
encontramos a partícula da gravidade é a mesma pela qual você consegue levantar
uma bola do chão
Na física de partículas, há um
princípio fundamental: todas as forças da natureza são mediadas pela troca de
partículas. A força eletromagnética, por exemplo, funciona porque as partículas
trocam fótons (as partículas da luz) entre si. Esse quadro, conhecido como
Modelo Padrão, descreve com sucesso três das quatro forças fundamentais. A
única que ficou de fora é a gravidade.
A maioria dos físicos tem uma
forte convicção de que a gravidade também deve se encaixar nesse modelo
quântico. A mecânica quântica é considerada mais fundamental que a relatividade
geral de Einstein. Se isso for verdade, deve existir uma partícula mediadora
para a gravidade: o “gráviton”.
Então, por que nunca o
encontramos? A resposta é surpreendentemente simples: a gravidade é
ridiculamente fraca.
Tyson oferece uma demonstração
poderosa e cotidiana desse fato. Quando você se abaixa para pegar uma bola do
chão, os sinais eletromagnéticos em seus músculos superam facilmente a atração
gravitacional de um planeta inteiro. Uma força gerada por seu corpo vence a
força de toda a Terra.
Outro exemplo, embora não
verificado, ilustra ainda mais a disparidade. Se você pudesse pegar os elétrons
de apenas um centímetro cúbico do nariz do tanque principal do Ônibus Espacial
e colocá-los na base da plataforma de lançamento, a atração eletromagnética
entre esses elétrons e a carga positiva resultante no topo do foguete seria
forte o suficiente para impedir o lançamento.
Essa fraqueza extrema da
gravidade em escala de partículas é a razão pela qual não temos acesso
experimental aos grávitons. Detectar uma única partícula de uma força tão tênue
está, por enquanto, além de nossa capacidade tecnológica. A peça mais fundamental
do quebra-cabeça da gravidade permanece, assim, no campo da teoria.
Buracos Negros Deixaram de
Ser Teoria para se Tornarem Laboratórios Cósmicos
5. Após um século de
matemática, finalmente podemos “ver” os buracos negros em ação
A história dos buracos negros não
começou em um observatório, mas em uma folha de papel. Em 1916, poucos meses
após Albert Einstein publicar sua teoria da relatividade geral, o físico Karl
Schwarzschild encontrou uma solução matemática para as equações que, sem que
ele soubesse, descrevia perfeitamente um buraco negro. Notavelmente, ele fez
essa descoberta enquanto servia como soldado na frente russa durante a Primeira
Guerra Mundial, morrendo pouco depois, no mesmo ano.
Por mais de 50 anos, esses
objetos bizarros existiram apenas como uma curiosidade matemática, uma
consequência teórica da relatividade, mas “sem dados” para sustentá-los. Eram
fantasmas nos cálculos dos físicos, o resultado de uma jornada intelectual iniciada
por um soldado em meio à guerra.
Tudo isso mudou drasticamente nos
últimos anos. Uma revolução observacional nos deu ferramentas sem precedentes
para finalmente estudar esses objetos extremos. Como Cox descreve, agora temos:
Observações de rádio do Event
Horizon Telescope, que nos permitiram “fotografar” a sombra de um buraco negro
e mapear os campos magnéticos caóticos ao seu redor.
A observação de jatos
astrofísicos, feixes de matéria e energia expelidos de perto de buracos negros
a velocidades próximas à da luz, que fornecem pistas valiosas sobre sua
estrutura magnética e rotação.
A detecção de ondas
gravitacionais pelo LIGO e outros observatórios, que nos permitem “ouvir” as
ondulações no tecido do espaço-tempo criadas pela colisão violenta de dois
buracos negros.
A importância disso é monumental.
A ciência não é apenas sobre ter ideias; é sobre testá-las contra a realidade.
Com esses novos dados, os físicos podem finalmente confrontar um século de
teoria com observações concretas. Os buracos negros deixaram de ser apenas
soluções em um quadro-negro para se tornarem laboratórios cósmicos reais, onde
podemos testar os limites da física em condições mais extremas do que qualquer
coisa que poderíamos replicar na Terra.
Conclusão: O Universo no
Começo de Ser Desvendado
Longe de estar perto do fim, a
jornada para compreender o universo está repleta de mistérios profundos e
territórios desconhecidos. As ideias de “gravidade escura”, a natureza da
constante cosmológica, a evolução da Teoria das Cordas, a busca pelo gráviton e
a transformação dos buracos negros em objetos de estudo prático mostram que a
física fundamental está mais viva e ativa do que nunca.
Cada resposta que encontramos,
como a capacidade de observar o ambiente ao redor de um buraco negro, não fecha
um capítulo, mas abre um livro inteiro de novas perguntas sobre campos
magnéticos, informação quântica e a própria natureza do espaço-tempo.
Isso nos deixa com uma reflexão
final. De todos esses mistérios — a natureza da gravidade escura, o valor da
constante cosmológica, a existência do gráviton — qual você acha que será o
primeiro a ser desvendado e que novas perguntas sua resposta irá revelar sobre
o nosso lugar no cosmos?
Spacetoday.com.br

Love is Dark energy (actually it should be called "Light energy")
ResponderExcluir"Independently of its actual nature, dark energy would need to have a strong negative pressure to explain the observed acceleration of the expansion of the universe. According to general relativity, the pressure within a substance contributes to its gravitational attraction for other objects just as its mass density does."
“I had jumped off the edge, and then, at the very last moment, something reached out and caught me in midair. That something is what I define as love. It is the one thing that can stop a man from falling, powerful enough to negate the laws of gravity.” Paul Auster, Moon Palace. https://sintrabloguecintia.blogspot.com/