Será que ISON sobrevive à passagem do sol ?

Durante meses, todos os olhos no céu têm apontado para o cometa que viaja velozmente em direcção a um encontro escaldante com o Sol. O momento da verdade chega esta Quinta-feira.
O Cometa ISON (C/2012 S1) ainda estava num pedaço quando o Hubble obteve esta imagem no dia 9 de Outubro de 2013. Uma armada de observatórios solares irá observar o cometa passar pelo Sol e verificar se é destruído ou continua intacto.Crédito: NASA/ESA/Equipe do Hubble (STScI/AURA)
 
O Cometa ISON, que se pensa ter apenas 1,5 km de diâmetro, ou vai ficar escaldado e destruído, vítima do incrível poder do Sol, ou resistir e possivelmente dar um fabuloso espectáculo celeste. É um momento de verdadeira angústia astronómica e até mesmo os cientistas estão relutantes em falar de probabilidades. Caso sobreviva, ficará visível a olho nu todo o mês de Dezembro, pelo menos a partir do Hemisfério Norte. Visível já em Novembro com simples binóculos e ocasionalmente a olho nu, já deslumbrou observadores e é considerado o cometa mais escrutinado de sempre pela NASA. Mas o melhor está, potencialmente, ainda por vir. Detectado há pouco mais de um ano atrás, o cometa está a passar pela primeira vez pelo Sistema Solar interior. Ainda "fresco", pensa-se que este cometa contenha matéria-prima da formação do nosso Sistema Solar.
 
Acredita-se que seja originário da nuvem de Oort, nos confins do Sistema Solar, o lar de inúmeros corpos gelados, principalmente as bolas geladas de poeira e gás em órbita do Sol conhecidas como cometas. Por alguma razão, o ISON foi impulsionado para fora da nuvem e atraído para o coração do Sistema Solar pela intensa atracção gravitacional do Sol. Quanto mais perto está do Sol, mais rápido fica. Em Janeiro, atingiu uma velocidade de 64.000 km/h. Na Quinta-feira passada, a apenas uma semana do periélio, tinha acelerado até aos 240.000 km/h. Nesta Quinta-feira que vem, passará a 1.175.000 km do Sol, menos de um diâmetro solar. Por outras palavras, não caberia um outro Sol na distância entre os dois astros. No momento em que o ISON alcança o periélio, terá uma velocidade de aproximadamente 1.332.000 km/h.
 
Caso sobreviva ou seja dilacerado, não temos nada a temer cá na Terra. O cometa passará a mais ou menos 64 milhões de quilómetros da Terra, menos de metade da distância entre a Terra e o Sol. Esta maior aproximação terá lugar no dia 26 de Dezembro. De seguida, irá continuar na direcção oposta à do Sol para todo o sempre, dada a sua trajectória antecipada. A NASA não perdeu tempo a estudar o ISON. A sonda Deep Impact da agência espacial observou o ISON em Janeiro a partir de uma distância de mais ou menos 800 milhões de quilómetros. Desde então, as observações têm continuado. Os telescópios e sondas que têm observado/vão observar o cometa são: Swift, Hubble, Spitzer, Mars Reconnaissance Orbiter, SOHO, Chandra, Mercury Messenger e as gémeas STEREO.
 
O Cometa ISON aparece na câmara de alta-resolução HI-1 da sonda STEREO-A da NASA. As nuvens "escuras" da direita são nuvens mais densas do vento solar, provocando ondulações na cauda do Cometa Encke. O uso das caudas dos cometas como marcadores pode fornecer dados valiosos sobre as condições de vento solar perto do Sol.Crédito: Karl Battams/NASA/STEREO/CIOC
 
"Vão ser usadas todas as missões com câmaras," afirma John Grunsfeld, director das missões científicas da NASA. A recém-lançada sonda MAVEN, a caminho de Marte, irá observar o ISON na segunda semana de Dezembro, assim que o seu instrumento ultravioleta esteja ligado e a funcionar. Será bem depois da maior aproximação do Sol, de modo que não sei se vamos ver um cometa, pedaços de cometa ou os últimos fios de vapor cometário," realça Nick Schneider, da Universidade do Colorado, encarregue do instrumento. Para além do ISON, a NASA está também espiando o Cometa Siding Spring, outro cometa da nuvem de Oort descoberto em Janeiro pelo observatório australiano com o mesmo nome. O Siding Spring passará a dezenas de milhares de quilómetros de Marte no próximo mês de Outubro, tão perto que os cientistas acreditam que a cabeleira do cometa - a sua fina mas grande atmosfera - poderá envolver o Planeta Vermelho. Vai ser coberto de água e poeira e meteoritos. Move-se a 50 km/s," afirma Jim Green, director da divisão de ciência planetária da NASA.

Isto equivale a 177.000 km/h, por isso o cometa passará por Marte muito rapidamente. Eventos tipo-Siding Spring já aconteceram antes, observa Green. "Temos sorte de apanhar um durante as nossas vidas" e ter a nave espacial ideal e no local ideal para observar o espectáculo. O mesmo aplica-se ao ISON. A juntar a esta armada de instrumentos científicos, encontram-se pequenos foguetes em perseguição do cometa; a NASA lançou um a partir do estado do Novo México na Quarta-feira passada, com um telescópio ultravioleta a bordo, que alcançou os 277 km de altitude antes de descer de pára-quedas. Tendo em consideração todos os observatórios terrestres que acompanham o cometa, bem como inúmeros astrónomos amadores e astrofotógrafos, o ISON tornou-se a atracção principal deste baile cósmico.

 Os cometas evoluem a partir do momento em que começam a aumentar de brilho, até que dão a volta ao Sol, e afastam-se novamente," afirma Green. "Estes agentes dão-nos uma visão única que não poderíamos obter de outra forma. Alguns observadores do céu especularam desde cedo que o ISON poderia tornar-se no cometa do século devido ao seu brilho, embora as expectativas tenham desvanecido ao longo do tempo. Os cientistas esperam saber o destino do ISON rapidamente. Pelo menos três observatórios estarão observando o evento periélico em tempo real. Se o ISON sobreviver, "vai voar directamente sobre o Hemisfério Norte," realça Green de modo emotivo. Deverá ser visível a olho nu durante 30 dias. "Por isso considero-o o cometa desta época festiva, o cometa do Natal," realça. "Mas tem que sobreviver a passagem pelo Sol," conclui.
Fonte: Astronomia On-Line

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