Estes buracos negros que colidiram poderiam ser um tipo estranho de estrela
Há cerca de 7 bilhões de anos, dois buracos negros colidiram e deram
origem a ondas gravitacionais que só foram detectadas em 2019. Até hoje não se sabe ao certo o que causou a
colisão, mas um novo estudo sugere que o evento pode ter sido um tipo de
estrela cuja existência é apenas uma hipótese.
Desde a primeira detecção das ondas gravitacionais os cientistas se
debruçaram sobre os dados coletados para entender o que estavam observando.
Eram as ondas mais intensas já encontradas até então, e uma equipe de
pesquisadores concluiu, em 2020, que o evento era o resultado da colisão entre
dois buracos negros — um de 85 e e outro com 66 massas solares. Com o impacto,
teria nascido um único novo buraco negro, com 142 massas solares, chamado
GW190521.
Acontece que algumas contas não batem, e algumas perguntas surgiram
rapidamente. A primeira delas foi até simples de responder: se a soma de ambos
os buracos negros (85 + 66 massas solares) resultou em um novo objeto de 142
massas solares, onde estão as outras 9? Bem, provavelmente boa parte da massa
dos objetos se transformou em pura energia, irradiada na forma das ondas
gravitacionais detectadas, por isso a massa do GW190521 está abaixo das 151
massas solares. Mas há outro problema: um buraco negro de 85 massas solares não
devia existir.
De acordo com os modelos — que são baseados em tudo o que os astrônomos
sabem sobre os ciclos estelares e os objetos resultantes da morte de uma estrela
—, os buracos negros formados a partir do colapso de uma estrela grande não
podem ser maiores que 65 massas solares, aproximadamente. Embora nenhum dos
dois buracos negros que colidiram foi estimado dentro dessas restrições, o
objeto menor poderia ter 65 massas solares, ou um pouco menos, considerando as
margens de erro dos cálculos baseados nas ondas gravitacionais detectadas. Mas
o buraco negro de 85 massas solares é um barulho capaz de tirar o sono de
qualquer astrônomo.
Para explicar a origem do GW190521, surgiram algumas hipóteses, tais
como um aglomerado de pequenos buracos negros que se fundiram até chegar ao
objeto de 142 massas solares. Existem algumas evidências de que os aglomerados
de buracos negros podem existir, mas há muitas dúvidas sobre as possibilidades
de que eles possam se fundir rápido o suficiente para explicar as ondas
gravitacionais do GW190521. Então, um novo estudo sugere que não havia dois
buracos negros, mas sim duas estrelas de Proca.
Uma estrela de Proca (o nome vem de uma equação homônima em homenagem
ao físico romeno Alexandru Proca) é um objeto hipotético (ou seja, ainda não há
evidências que confirmem se existe ou não), compacto, composto de algo que não
são elétrons, prótons ou nêutrons.
O condensado de Bose-Einsten é algo interessante, e observações a
respeito desse estado da matéria de bóson já revelaram algumas coisas
surpreendentes. Em 2000, cientistas realizaram alguns experimentos com campo
magnético de alta intensidade, e descobriram que com a repulsão de átomos repentinamente
substituída pela atração, o condensado poderia implodir e encolher além do
limiar de detecção, e depois explodir, destruindo aproximadamente dois terços
dos átomos. Cerca de metade dos átomos no condensado parece ter desaparecido
totalmente durante a experiência, algo difícil de se explicar através da
ciência convencional.
Estudos como este concluíram que, se explosões de supernovas são, na
verdade, implosões, a explosão de um condensado de Bose-Einstein em colapso
poderia ser chamada de “bosenova”. Pois bem, voltando ao objeto GW190521, o
novo estudo aponta que, talvez, ele tenha surgido através da colisão de
estrelas feitas de uma matéria onde a gravidade não teria nenhuma dificuldade
em colapsar em um buraco negro. Mas se essas estrelas hipotéticas chegarem a um
estado em que seus bósons estão extremamente densos, em um campo gravitacional
forte, as coisas podem ter um comportamento inesperado.
Ainda assim, nas condições certas, uma estrela de bósons poderia chegar
a 85 massas solares ou mais, o que torna tudo mais condizendo com as medições
dos objetos que originaram as ondas gravitacionais de 2019. Há alguns detalhes
que podem tornar a hipótese ainda mais distante do que se conhece atualmente,
mas também muito mais interessante. Por exemplo, a matéria de bósons que
conhecemos não poderia se tornar uma estrela de Proca — mas podemos recorrer a
certas hipóteses sobre a matéria escura que propõem novos tipos de bósons.
Resumo da ópera, os dois objetos que colidiram poderiam ser estrelas feitas de
bósons como estes — se é que essas estrelas exóticas existem mesmo.
Os autores do novo estudo colocaram a ideia à prova, analisando os
dados do evento GW190521, e descobriram que as observações eram consistentes
com uma fusão de estrela de Proca, da mesma forma que são consistentes com uma
colisão de buracos negros. Ambas as ideias se sustentam igualmente. Então, a
equipe fez outro teste. Como as propriedades de uma estrela de Proca dependem
da massa de seus bósons, os cientistas usaram os dados do GW190521 para medir a
massa do suposto bóson. O resultado foi algo extremamente leve, um trilionésimo
da massa de neutrinos.
Se essas ideias pouco convencionais estiverem corretas, pode ser que os
astrônomos estão lidando com objetos feitos de uma nova partícula de bóson
ultraleve, jamais vista antes, que pode ajudar a explicar até mesmo a matéria
escura, ou a formação de estrelas de bósons. Claro, muito trabalho terá que ser
feito se os cientistas quiserem levar a hipótese adiante para tentar
comprová-la, mas a simples possibilidade de que estejamos falando da primeira
evidência de uma partícula de matéria escura, é muito empolgante. Por outro
lado, caso essa hipótese seja descartada, o objeto GW190521 continua sendo
fantástico, pois ele poderia ser a primeira evidência de um buraco negro de
massa intermediária.
Fonte: Canaltech.com.br
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