Cientistas estão mais perto de explicar o mistério do metano em Marte

 Por que alguns instrumentos detectam metano em Marte e outros não? O rover Curiosity, da Nasa, por exemplo, encontrou repetidamente o gás logo acima da superfície da cratera Gale. Já o ExoMars Trace Gas Orbiter, da Agência Espacial Européia (ESA), não identificou nada de metano na atmosfera do Planeta Vermelho.

O rover Curiosity, da Nasa, encontrou metano em Marte, logo acima da superfície da cratera Gale.Imagem: Divulgação/Nasa/JPL 

Cientistas podem estar mais próximos de desvendar esse mistério, segundo o site Phys.org. Os resultados de uma pesquisa sobre o assunto foram publicados nesta quarta-feira (30), na revista Astronomy & Astrophysics.

De acordo com os pesquisadores, o problema pode estar relacionado aos horários das medições, pois, segundo o estudo, as concentrações de metano aumentam e diminuem ao longo do dia na superfície da cratera Gale.

Por que é importante identificar metano em Marte?

Encontrar metano em Marte pode significar que micróbios habitam (ou em algum momento habitaram) o Planeta Vermelho. Trata-se apenas de uma hipótese, pois o gás também pode não ter nada a ver com micróbios ou qualquer outra biologia: processos geológicos que envolvem a interação de rochas, água e calor também podem produzi-lo.

De acordo com o pesquisador sênior do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, Chris Webster, “quando o ExoMars Trace Gas Orbiter entrou a bordo em 2016, esperava-se que a equipe orbital relatasse uma pequena quantidade de metano em todos os lugares de Marte”.

Webster, que é líder do Tunable Laser Spectrometer (TLS), instrumento do Laboratório de Ciências de Análise de Amostras de Marte (SAM), relata que a ferramenta da Nasa, que embarcou a bordo do rover Curiosity, identificou metano na cratera Gale, embora em volume equivalente a cerca de uma pitada de sal diluído em uma piscina olímpica. “Mas quando a equipe europeia anunciou que não viu nem sinal de metano, fiquei definitivamente chocado”, disse o cientista.

O orbitador europeu foi projetado para ser o padrão ouro para medir metano e outros gases em todo o planeta. Ao mesmo tempo, o TLS do Curiosity é tão preciso que será usado para detecção antecipada de incêndios na Estação Espacial Internacional (ISS) e para rastrear os níveis de oxigênio em trajes de astronautas. 

Diante dos relatos europeus, Webster e sua equipe imediatamente começaram a examinar as medições do TLS em Marte. 

Alguns especialistas sugeriram que o próprio veículo espacial estava liberando o gás. “Então, examinamos as correlações com a direção do veículo espacial, o solo, o esmagamento de pedras e a degradação das rodas”, disse Webster. “Eu não posso exagerar o esforço que a equipe colocou em olhar cada pequeno detalhe para ter certeza de que as medições estariam corretas, e, de fato, estão.” 

Enquanto a equipe do SAM trabalhava para confirmar suas detecções de metano, outro membro da equipe do Curiosity, o cientista planetário John E. Moores, da Universidade York, em Toronto, também se dedicava a descobrir se o Curiosity e o Trace Gas Orbiter estavam certos.

Moores, assim como outros cientistas do Curiosity que estudam os padrões do vento na cratera Gale, levantaram a hipótese de que a discrepância entre as medições de metano se relaciona à hora do dia em que são feitas. 

Por precisar de muita energia, o TLS opera principalmente à noite, quando nenhum outro instrumento Curiosity está funcionando. A atmosfera marciana é calma à noite, segundo Moores observou, então o metano que vaza do solo se acumula próximo à superfície, onde o TLS conseguiu detectá-lo. 

Já o Trace Gas Orbiter, por outro lado, requer luz solar para localizar o metano a cerca de 5 km acima da superfície. “Qualquer atmosfera próxima à superfície de um planeta passa por um ciclo durante o dia”, disse Moores. 

O calor do Sol agita a atmosfera à medida que o ar quente sobe e o ar frio desce. Assim, o metano que fica confinado perto da superfície à noite é misturado ao restante da atmosfera durante o dia, o que o dilui a níveis indetectáveis. “Portanto, percebi que nenhum instrumento, especialmente um em órbita, veria algo”, disse Moores. 

Com isso, o instrumento americano fez o teste e comprovou que a teoria estava correta. “Então, essa é uma maneira de acabar com essa grande discrepância”, disse Paul Mahaffy, o principal investigador do SAM, que trabalha no Centro de Voos Espaciais Goddard, da Nasa, em Greenbelt, Maryland. 

Mas, nessa é apenas uma parte do enigma. Os cientistas ainda precisam resolver o quebra-cabeça global do metano em Marte. 

Algo pode estar destruindo o gás metano em Marte

O metano é uma molécula estável, que deveria durar cerca de 300 anos em Marte antes de ser dilacerada pela radiação solar. Se o gás está constantemente vazando de todas as crateras semelhantes à Gale (os cientistas suspeitam que não é uma característica única dessa cratera), uma quantidade suficiente dele deveria ter se acumulado na atmosfera do planeta. 

Sendo assim, suspeita-se que algo está destruindo o metano em menos de 300 anos. Experimentos estão em andamento para testar se descargas elétricas de nível muito baixo induzidas por poeira na atmosfera marciana poderiam destruir o metano, ou se o oxigênio abundante no solo marciano elimina rapidamente o gás antes que ele alcance a alta atmosfera. 

“Precisamos determinar se existe um mecanismo de destruição mais rápido do que o normal para reconciliar totalmente os conjuntos de dados do rover e do orbitador”, disse Webster.

Fonte: Olhar Digital

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