Astrônomos detectaram uma nova estrutura enorme na Via Láctea e não sabem o que é
Quando você está nadando em um grande corpo d’água, calcular seu volume ou discernir a localização de objetos flutuantes distantes não é fácil. O mesmo é verdade para nossa galáxia. De nossa posição dentro da Via Láctea, muito de seu tamanho, conteúdo e estrutura tridimensional é bastastante difícil de descobrir. Há muita coisa que nos escapa, ou é impossível calcular; mesmo assim, de vez em quando, surge uma descoberta que faz você se perguntar, como diabos nós não detectamos isso?!
Uma estrutura recém-descoberta chamada Taboa é algo maravilhoso. É uma
longa onda de gás que é tão grande que os astrônomos não têm certeza se ela
pode ou não ser parte de um braço espiral galáctico que nunca notamos até
agora.
Mesmo que não seja o indício de um braço espiral não mapeado, Taboa
pode ser o maior filamento de gás em nossa galáxia descoberto até hoje. Ele foi
descrito em um paper aceito no The Astrophysical Journal Letters, disponível no
servidor de pré-publcação arXiv.
A estrutura “parece ser até agora o mais distante e maior filamento
gigante na galáxia”, escreveu no paper uma equipe de astrônomos da Universidade
de Nanquim na China. A questão sobre como um filamento tão grande é produzido na
localização galáctica extrema permanece em aberto. Alternativamente, Taboa pode
ser parte de um novo braço… embora seja intrigante que a estrutura não siga
totalmente a curvatura do disco galáctico.”
Existem vários motivos pelos quais é difícil mapear a Via Láctea em
três dimensões. Um deles é que é muito complicado calcular as distâncias de
objetos cósmicos. Outra é que há muitas coisas por aí, então pode ser difícil
saber se algo é um agrupamento significativo ou apenas uma coleção aleatória
espalhada ao longo de uma linha de visão.
Para identificar Taboa, uma equipe liderada pelo astrônomo da
Universidade de Nanquim Chong Li usou o enorme Rádiotelescópio Esférico com 500
metros de Abertura (FAST, na sigla em inglês) para procurar nuvens de hidrogênio
atômico neutro (HI). Essas nuvens são geralmente encontradas nos braços
espirais de galáxias como a nossa; estudando diferenças sutis na luz do
hidrogênio, é possível mapear o número e a disposição dos braços da Via Láctea
por dentro.
Em agosto de 2019, os pesquisadores usaram o FAST para procurar
emissões de rádio de HI, e os dados revelaram o que parecia ser uma grande
estrutura. Quando eles calcularam a rapidez com que a estrutura estava se
movendo, eles tiveram uma surpresa: sua velocidade era consistente com uma
distância de cerca de 71.750 anos-luz do centro da galáxia – as regiões
externas da galáxia.
Essa distância – maior do que qualquer braço espiral conhecido naquela região da galáxia – significaria que a coisa é absolutamente enorme, com um tamanho de cerca de 3.590 anos-luz de comprimento e 675 anos-luz de largura, com base nos dados do FAST. Mas então, quando os pesquisadores combinaram suas descobertas com os dados do levantamento HI4PI all-sky, eles descobriram que poderia ser ainda maior – com cerca de 16.300 anos-luz de comprimento.
Isso o tornaria ainda mais colossal do que a estrutura de gás conhecida
como Cinturão de Gould, que recentemente descobriu-se que tinha 9.000 anos-luz
de comprimento. Taboa levanta algumas questões interessantes. A maioria dos filamentos
de gás ocorre muito mais perto do centro galáctico e está associada a braços
espirais. Se for um filamento, não está claro como Taboa poderia ter se formado
e estabelecido além dos braços espirais conhecidos da Via Láctea.
Por outro lado, se for um braço espiral, também é peculiar. O disco
galáctico da Via Láctea está instável e deformado devido ao encontro com outra
galáxia, há muito tempo. No entanto, a forma de Taboa não se ajusta inteiramente
a esta curvatura – o que deveria acontecer se fosse um braço espiral.
Mesmo que a descoberta já não fosse fascinante, essas peculiaridades
indicam que podemos querer dar uma olhada nesta estrutura incrível. Embora essas questões permaneçam abertas com os dados existentes”,
escreveram os pesquisadores, “as observações fornecem novas perspectivas sobre
nossa compreensão da estrutura galáctica.”
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