Migração planetária precoce pode explicar exoplanetas em falta
Ilustração das variações entre os mais de 5000 exoplanetas conhecidos descobertos desde a década de 1990. Crédito: NASA/JPL-Caltech
Um
novo modelo que explica a interação de forças que atuam sobre os planetas
recém-nascidos pode explicar duas observações intrigantes que surgiram
repetidamente entre os mais de 3800 sistemas planetários catalogados até à
data.
Um
puzzle conhecido como "vale-raio" refere-se à raridade de exoplanetas
com um raio cerca de 1,8 vezes superior ao da Terra. O observatório Kepler da
NASA observou planetas deste tamanho com cerca de 2-3 vezes menos frequência do
que observou super-Terras com raios cerca de 1,4 vezes o da Terra e
mini-Neptunos com raios cerca de 2,5 vezes o da Terra.
O
segundo mistério, conhecido como "ervilhas numa vagem", refere-se a
planetas vizinhos de tamanho semelhante que foram encontrados em centenas de
sistemas planetários. Estes incluem TRAPPIST-1 e Kepler-223, que também
apresentam órbitas planetárias de harmonia quase musical.
"Creio
que somos os primeiros a explicar o vale-raio usando um modelo de formação
planetária e evolução dinâmica que, de forma autoconsistente, explica as
múltiplas restrições das observações", disse André Izidoro, da
Universidade Rice, autor de um estudo publicado esta semana na revista The
Astrophysical Journal Letters. "Também somos capazes de mostrar que um
modelo de formação planetária que incorpora impactos gigantescos é consistente
com a característica 'ervilhas numa vagem' dos exoplanetas".
Izidoro,
pós-doutorado do projeto CLEVER Planets (Cycles of Life-Essential Volatile
Elements in Rocky Planets) da Universidade Rice, financiado pela NASA, e
coautores utilizaram um supercomputador para simular os primeiros 50 milhões de
anos de desenvolvimento de sistemas planetários utilizando um modelo de
migração planetária.
No
modelo, discos protoplanetários de gás e poeira que dão origem a jovens
planetas também interagem com eles, puxando-os para mais perto das suas
estrelas-mãe e fechando-os em cadeias orbitais ressonantes. As cadeias são
quebradas em apenas alguns milhões de anos, quando o desaparecimento do disco
protoplanetário causa instabilidades que levam dois ou mais planetas a
colidirem um com o outro.
Modelos
de migração planetária têm sido utilizados para estudar sistemas planetários
que mantiveram as suas cadeias orbitais ressonantes. Por exemplo, Izidoro e os
colegas do CLEVER Planets usaram um modelo de migração em 2021 para calcular a
quantidade máxima de perturbações a que o sistema de sete planetas TRAPPIST-1
poderia ter resistido durante o bombardeamento e ainda retido a sua estrutura
orbital harmoniosa.
No
novo estudo, Izidoro associou-se aos investigadores Rajdeep Dasgupta e Andrea
Isella do CLEVER Planets, ambos da Universidade rice, a Hilke Schlichting da
Universidade da Califórnia, Los Angeles, e a Christian Zimmermann e Bertram
Bitsch do Instituto Max Planck para Astronomia em Heidelberg, Alemanha.
"A
migração de jovens planetas em direção às suas estrelas hospedeiras cria
sobrelotação e resulta frequentemente em colisões cataclísmicas que roubam as
atmosferas ricas em hidrogénio dos planetas", disse Izidoro. "Isso
significa que impactos gigantescos, como o que formou a nossa Lua, são
provavelmente um resultado genérico da formação planetária".
A
investigação sugere que os planetas vêm em dois "sabores",
super-Terras que são secas, rochosas e 50% maiores do que a Terra, e
mini-Neptunos que são ricos em água gelada e cerca de 2,5 vezes maiores do que
a Terra. Izidoro disse que novas observações parecem apoiar os resultados, que
entram em conflito com a visão tradicional de que tanto as super-Terras como os
mini-Neptunos são exclusivamente mundos secos e rochosos.
Com
base nos seus resultados, os investigadores fizeram previsões que podem ser
testadas pelo Telescópio Espacial James Webb da NASA. Sugerem, por exemplo, que
uma fração de planetas com cerca do dobro do tamanho da Terra, tanto vão
conservar a sua atmosfera primordial, rica em hidrogénio, como serão ricos em
água.
Fonte: Astronomia OnLine
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