Mistério do brilho dos buracos negros pode ter sido desvendado
Partículas de alta energia no jato emitido pelo buraco negro (azul) atingem a onda de choque, representada como uma barra branca, ficam mais energizadas e emitem raios X à medida que aceleram. Afastando-se do choque, elas emitem luz de baixa energia: Primeiro visível, depois infravermelha e então ondas de rádio. Mais longe do choque, as linhas do campo magnético são mais caóticas, causando mais turbulência no fluxo de partículas. [Imagem: NASA/Pablo Garcia]
Comece
com um buraco negro supermassivo no centro de uma galáxia. Ao engolir material
nessa região muito densa, que se aglomera na forma de um disco ao redor do
buraco negro, criam-se dois jatos de energia perpendiculares ao disco.
Quando
um desses jatos calha de estar virado bem na direção da Terra, então chamamos
esse conjunto todo de um blazar. Devido à intensa radiação gerada conforme o
buraco negro engole a matéria, os blazares estão entre os objetos mais
brilhantes do Universo.
Mas
como pode ser assim se, na origem tudo está um corpo celeste com uma gravidade
tão grande que nada, nem mesmo a luz, consegue escapar?
Embora
a chamada radiação Hawking seja razoavelmente bem compreendida pelos físicos,
já tendo sido até mesmo simulada com raios laser, não haviam ainda boas ideias
sobre o mecanismo que faz com que esses jatos, emitidos a partir de efeitos
quânticos, podem atingir energias tão elevadas quanto as que vemos nos
blazares.
Agora,
uma grande equipe internacional usou dados do observatório de raios X IXPE,
lançado pela NASA no ano passado, para elaborar um provável mecanismo para
explicar esse acelerador cósmico.
"Este
é um mistério de 40 anos que resolvemos. Nós finalmente obtivemos todas as
peças do quebra-cabeça, e a imagem que elas formaram é clara," disse
Yannis Liodakis, astrônomo do Centro Finlandês de Astronomia e principal autor
do estudo.
Brilho dos blazares
A
equipe usou o IXPE para observar um blazar na constelação de Hércules, chamado
Markarian 501, que fica no centro de uma grande galáxia elíptica.
O
blazar foi observado por três dias no início de março de 2022 e novamente duas
semanas depois. Durante essas observações, os astrônomos usaram outros
telescópios no espaço e no solo para coletar informações sobre o blazar em uma
ampla gama de comprimentos de onda de luz, incluindo rádio, óptica e raios X.
Outras
observações já haviam mostrado a polarização da luz de baixa energia dos
blazares, mas esta foi a primeira vez que os astrônomos contaram com essa
perspectiva dos raios X de um blazar, que são emitidos mais próximos da fonte
de aceleração das partículas. "Adicionar a polarização de raios X ao nosso
arsenal de polarização de rádio, infravermelho e óptica é um divisor de
águas," disse Alan Marscher, astrônomo da Universidade de Boston e membro
da equipe.
Os
astrônomos descobriram que a luz de raios X é mais polarizada que a luz
visível, que é mais polarizada que as ondas de rádio. Mas a direção da luz
polarizada é a mesma para todos os comprimentos de onda de luz observados, e também
está alinhada com a direção do jato emitido pelo blazar.
Explicações e novas perguntas
Depois
de comparar estas novas informações com modelos teóricos, a equipe concluiu que
os dados correspondem melhor com um cenário em que uma onda de choque acelera
as partículas do jato emitido pelo buraco negro.
Uma
onda de choque é gerada quando algo se move mais rápido do que a velocidade do
som no material circundante, como quando um avião supersônico voa na atmosfera
da Terra.
"À
medida que a onda de choque atravessa a região, o campo magnético fica mais
forte e a energia das partículas aumenta. A energia vem da energia de movimento
do material que faz a onda de choque," disse Marscher.
À
medida que as partículas distanciam-se do blazar elas emitem raios X já de cara
porque são extremamente energéticas. Distanciando-se ainda mais espaço afora,
através da região turbulenta mais distante do local de origem da onda de
choque, elas começam a perder energia, o que as faz emitir luz menos
energética, como ondas ópticas e depois de rádio.
Isso
é análogo a como o fluxo de água se torna mais turbulento depois de encontrar
uma cachoeira, com a diferença que, no jato do blazar, são os campos magnéticos
que criam a turbulência.
O
mecanismo é bastante convincente e adere bem aos dados coletados pela equipe.
Mas estamos longe de contar com todas as respostas: Agora será necessário
descobrir as origens dessa onda de choque que fundamenta todo o mecanismo
proposto pela equipe.
Fonte:
Inovação Tecnológica
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