Objeto que não deveria existir brilha 10 milhões de vezes mais que o Sol
Fonte ultraluminosa de raios X - Objetos cósmicos exóticos, conhecidos como fontes ultraluminosas de raios X, ou ULXs (Ultra-Luminous X-Ray sources), produzem cerca de 10 milhões de vezes mais energia do que o Sol.
Nesta ilustração de uma fonte ultraluminosa de raios X, dois rios de gás quente são puxados para a superfície de uma estrela de nêutrons. Campos magnéticos mostrados em verde podem alterar a interação da matéria e da luz perto da superfície desses objetos. [Imagem: NASA/JPL-Caltech]
O
problema é que esses objetos são mais de 100 vezes mais brilhantes do que
deveriam. Na verdade, eles são tão radiantes que parecem ultrapassar um limite
físico chamado limite de Eddington, que limita o brilho de um objeto com base
em sua massa - é o máximo teórico estabelecido pelo equilíbrio entre a força da
radiação, que atua para fora, e a força gravitacional, que atua para dentro.
Contra
todas as teorias, porém, os ULXs excedem regularmente esse limite de 100 a 500
vezes - ao menos um caso em 1.000 vezes -, deixando os cientistas confusos.
E
o telescópio de raios X Nustar, projetado para observar galáxias distantes e
buracos negros, acaba de confirmar que esses objetos são de fato tão brilhantes
quanto parecem ser, e que eles realmente quebram o limite de Eddington.
Uma
hipótese para tentar resolver o enigma dos ULXs sugere que seu brilho
extraordinário se deve aos fortes campos magnéticos do corpo celeste. Mas os
cientistas podem testar essa ideia apenas por meio de observações: até bilhões
de vezes mais poderosos do que os ímãs mais fortes já feitos na Terra, não
existem técnicas para reproduzir em laboratório os campos magnéticos dos ULX.
Outra fonte ultraluminosa de raios X, este pulsar excede em 1.000 vezes o máximo teórico estabelecido pelo equilíbrio entre rotação e gravidade. [Imagem: NASA/Dana Berry]
Limite de Eddington
Ultrapassar
o limite de Eddington - quando a luz supera a gravidade - é significativo
porque o material que cai sobre um ULX é a fonte de seu brilho. Isso também
acontece nos buracos negros: Quando sua forte gravidade atrai gás e poeira
dispersos, esses materiais podem aquecer e irradiar luz. Por isso, os
cientistas começaram a defender que os ULXs seriam buracos negros cercados por
invólucros brilhantes de gás.
Em
2014, porém, eles encontraram um ULX, chamado M82 X-2, que é um objeto muito
menos massivo, uma estrela de nêutrons. Como os buracos negros, as estrelas de
nêutrons se formam quando uma estrela morre e colapsa, acumulando mais do que a
massa do nosso Sol em uma área não muito maior do que uma cidade de tamanho
médio.
Essa
densidade incrível também cria uma atração gravitacional na superfície da
estrela de nêutrons cerca de 100 trilhões de vezes mais forte do que a atração
gravitacional na superfície da Terra. Gás e outros materiais arrastados pela
gravidade aceleram a milhões de quilômetros por hora, liberando uma energia
tremenda quando atingem a superfície da estrela de nêutrons - uma maria-mole
jogada na superfície de uma estrela de nêutrons a atingiria com a energia de
mil bombas de hidrogênio. Isso produz a luz de raios X de alta energia detectada
pelo observatório NuSTAR.
Por
isso os astrônomos voltaram a observar o M82 X-2 com mais tempo e mais
detalhes, para tentar confirmar as conclusões anteriores.
O
que está acontecendo lá é que o M82 X-2 está roubando cerca de 9 bilhões de
trilhões de toneladas de material por ano de uma estrela vizinha, algo que
representa cerca de 1,5 vez a massa da Terra. Conhecendo a quantidade de
material que atinge a superfície da estrela de nêutrons, os cientistas
conseguiram então estimar o quão brilhante o ULX deveria ser.
E
os cálculos correspondem a medições independentes do brilho do corpo celeste: O
M82 X-2 de fato excede o limite de Eddington.
Possíveis explicações
Uma
hipótese para explicar essa quebra do equilíbrio entre rotação e gravidade
postula que ventos fortes formam um cone oco ao redor da fonte de luz,
concentrando a maior parte da emissão em uma direção. Se apontado diretamente
para a Terra, o cone poderia criar uma espécie de ilusão de óptica, fazendo
parecer falsamente que o ULX estaria excedendo o limite de brilho.
Mesmo
que esse seja o caso de alguns ULXs, este novo estudo sustenta uma hipótese
alternativa, que sugere que campos magnéticos fortes distorcem os átomos -
aproximadamente esféricos - em formas alongadas e fibrosas. Isso reduziria a
capacidade dos fótons de afastar os átomos, aumentando o brilho máximo possível
de um objeto para além dos cálculos do limite de Eddington, feitos para
"situações normais".
"Essas
observações nos permitem ver os efeitos desses campos magnéticos incrivelmente
fortes, que nunca poderíamos reproduzir na Terra com a tecnologia atual,"
disse Matteo Bachetti, do Observatório Cagliari, na Itália. "Essa é a
beleza da astronomia: Observando o céu, expandimos nossa capacidade de
investigar como o Universo funciona. Por outro lado, não podemos realmente
fazer experimentos para obter respostas rápidas; temos que esperar que o
Universo nos mostre seus segredos."
Fonte:
Inovação Tecnológica
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