O "barítono" das gigantes vermelhas permite medir melhor as distâncias cósmicas
Num Universo em constante expansão, medir distâncias cósmicas é como tentar encontrar uma régua fiável num vasto tecido sempre em expansão. Uma ferramenta que os astrofísicos utilizam é a constante de Hubble (H0), que mede a rapidez com que o Universo se está a expandir e define a idade e o tamanho observável do Universo.
A Grande Nuvem de Magalhães. Crédito:
CTIO/NOIRLab/NSF/AURA/SMASH/D. Nidever (Universfidade do Estado de Montana);
processamento de iamgem - Travis Rector (Universidade do Alaska em Anchorage),
Mahdi Zamani e Davide de Martin
No entanto, existe uma
discordância quanto ao valor de H0 devido a medições contraditórias derivadas
de vários objetos celestes. Este debate significa que a nossa compreensão da
física básica do Universo está incompleta. Os riscos são elevados e a chave para
encontrar uma solução é melhorar significativamente a exatidão das medições de
distância baseadas nas estrelas.
Agora, um estudo do professor
Richard I. Anderson da EPFL (École Polytechnique Fédérale de Lausanne, na
Suíça), do antigo estagiário de investigação de verão Nolan Koblischke
(atualmente na Universidade de Toronto) e de Laurent Eyer (Universidade de Genebra),
refina as medições de distâncias cósmicas usando os sinais sonoros das gigantes
vermelhas: "descobrimos que as oscilações acústicas das estrelas gigantes
vermelhas nos dizem como medir melhor as distâncias cósmicas usando o método da
ponta do ramo das gigantes vermelhas", diz Anderson.
Medindo distâncias
cósmicas com gigantes vermelhas
Primeiro há que explicar alguns
termos. As "gigantes vermelhas" são estrelas que estão a envelhecer.
Adotam uma tonalidade avermelhada à medida que esgotam o hidrogénio nos seus
núcleos e utilizam o hidrogénio exterior, o que as torna maiores e mais frias.
Nos diagramas astronómicos, esta
evolução leva ao "Ramo das gigantes vermelhas", um desvio devido ao
aumento do brilho da estrela. A ponta do ramo das gigantes vermelhas é um ponto
crítico onde estas estrelas inflamam o hélio, invertendo a evolução do brilho.
Este ponto, marcado por menos
estrelas brilhantes acima dele [no diagrama de Hertzsprung–Russell], serve como
uma "vela padrão" para medições de distâncias cósmicas: ao compararem
o seu brilho conhecido com o brilho observado em galáxias distantes, os
astrónomos podem calcular a distância, tal como estimar a distância de uma
lâmpada pela sua luminosidade.
Cantando no escuro
Os investigadores analisaram
dados do projeto OGLE (Optical Gravitational Lensing Experiment) e da missão
Gaia da ESA para examinar as gigantes vermelhas na Grande Nuvem de Magalhães,
que é uma galáxia companheira próxima que orbita a Via Láctea e que serve de
laboratório crucial para compreender a física das estrelas.
Numa reviravolta surpreendente,
os cientistas descobriram que todas as estrelas da ponta do ramo das gigantes
vermelhas variam de brilho periodicamente; as ondas sonoras viajam através das
estrelas como sismos na Terra, fazendo-as oscilar. Embora estas oscilações já
fossem conhecidas anteriormente, não se sabia da sua importância para as
medições de distância. Mas agora, permitiram aos investigadores distinguir as
estrelas por idade, fornecendo uma abordagem mais diferenciada para medir as
distâncias no Universo.
Anderson explica: "As
estrelas gigantes vermelhas mais jovens, perto da ponta do ramo das gigantes
vermelhas, são um pouco menos brilhantes do que as suas primas mais velhas, e
as oscilações acústicas que observamos como flutuações de brilho permitem-nos
compreender com que tipo de estrela estamos a lidar: as estrelas mais velhas
oscilam a uma frequência mais baixa - tal como um barítono canta com uma voz
mais grave do que um tenor!"
Esta distinção é crucial para
garantir medições de distâncias altamente exatas necessárias para a cosmologia
e para obter o melhor mapa do Universo local, uma vez que as estrelas gigantes
vermelhas existem em praticamente todas as galáxias.
O estudo também identifica várias
melhorias no método da ponta do ramo das gigantes vermelhas, essenciais para
compreender os recentes debates sobre a tensão de Hubble. "Agora que
podemos distinguir as idades das gigantes vermelhas que compõem a ponta do ramo
das gigantes vermelhas, podemos melhorar ainda mais a medição da constante de
Hubble com base nisso", diz Anderson.
"Tais melhorias irão testar
ainda mais a tensão de Hubble e podem levar a novos conhecimentos inovadores
sobre os processos físicos básicos que decidem como o Universo evolui."
Fonte: Astronomia OnLine
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