Primeiras evidências do campo magnético da Terra encontradas na Groenlândia
Recuperar registros antigos do
campo magnético da Terra representa um desafio formidável devido ao fato de que
a magnetização nas rochas é frequentemente redefinida por processos de
aquecimento durante o enterro tectônico ao longo de suas longas e intrincadas
histórias geológicas.
Geocientistas vindos do MIT e de
outras instituições demonstraram que rochas originárias do Cinturão
Supracrustal de Isua, localizado no oeste da Groenlândia, passaram por três
eventos térmicos distintos ao longo de sua evolução geológica.
Linhas do campo magnético da Terra. Crédito da imagem: Goddard Space Flight Center da NASA.
O evento inicial, que ocorreu há
aproximadamente 3,7 bilhões de anos, foi o mais substancial e resultou no
aquecimento das rochas até temperaturas de 550 graus Celsius. Após esse evento
primário, as duas ocorrências térmicas a seguir não elevaram a temperatura das
rochas situadas no setor mais ao norte da área além de 380 graus Celsius.
Os pesquisadores empregaram uma
variedade de linhas de evidência para fundamentar essa afirmação, que engloba
exames de campo paleomagnético, as assembléias de minerais em metamorfismo em
toda a região, bem como as temperaturas nas quais as idades radiométricas das
populações minerais observadas são redefinidas.
Por meio da análise meticulosa
dessas linhas de evidência, os pesquisadores postulam que um registro antigo do
campo magnético da Terra que remonta a 3,7 bilhões de anos pode ser conservado
dentro das formações de ferro em faixas situadas na parte mais ao norte da área
do campo.
Em uma pesquisa recente, a
professora Claire Nichols, da Universidade de Oxford, ao lado de seus colegas,
conduziu um exame aprofundado de uma sequência de rochas contendo ferro
originárias de Isua, Groenlândia. As partículas de ferro dentro dessas rochas
funcionam como ímãs minúsculos capazes de registrar a força e a direção do
campo magnético quando ficam bloqueadas durante o processo de cristalização.
Os resultados do estudo revelaram
que rochas datadas de 3,7 bilhões de anos atrás mantiveram uma intensidade de
campo magnético de pelo menos 15 microtesla, um valor comparável à intensidade
atual do campo magnético de 30 microtesla. Esses resultados fornecem a
estimativa mais precoce da força do campo magnético da Terra derivada de
amostras inteiras de rocha, o que oferece uma avaliação mais precisa e
confiável em comparação com estudos anteriores que dependem de cristais
individuais para análise.
A professora Nichols expressou
seu entusiasmo ao afirmar: “Desenterrar registros confiáveis de rochas dessa
antiguidade representa um desafio significativo, e foi realmente emocionante
testemunhar sinais magnéticos primários começando a surgir durante nossa
análise dessas amostras em laboratório”. Ela enfatizou ainda a importância
desse avanço em esclarecer o papel desempenhado pelo antigo campo magnético
durante o surgimento da vida na Terra.
Apesar da aparente constância na
intensidade do campo magnético, evidências históricas indicam um aumento
substancial na intensidade do vento solar no passado. Esse fenômeno implica que
a proteção da superfície da Terra contra o vento solar aumentou com o tempo,
potencialmente facilitando a migração de formas de vida dos mares para os
continentes.
A geração do campo magnético da
Terra é uma consequência da mistura convectiva de ferro fundido dentro do
núcleo externo do fluido, impulsionada pelas forças de empuxo que surgem à
medida que o núcleo interno se solidifica, gerando assim um efeito dínamo.
Durante os estágios iniciais da
formação da Terra, ainda não havia um núcleo interno sólido, o que gerava
incertezas quanto à manutenção do campo magnético inicial. As descobertas
recentes indicam que o processo que impulsionou o dínamo inicial da Terra foi
tão eficiente quanto o mecanismo de solidificação responsável pela geração
atual do campo magnético terrestre.
É crucial compreender as
flutuações na força do campo magnético da Terra ao longo da história para
identificar o momento da formação do núcleo sólido interno. Essa compreensão é
essencial para determinar a taxa na qual o calor escapa do interior profundo da
Terra, um aspecto fundamental na compreensão de fenômenos como as placas
tectônicas.
Um dos principais desafios na
reconstrução do campo magnético da Terra desde os tempos antigos é a alteração
potencial dos sinais preservados devido a qualquer evento que cause aquecimento
nas rochas. As histórias geológicas das rochas na crosta terrestre costumam ser
longas e complexas, levando ao apagamento de dados anteriores do campo
magnético.
No entanto, o Cinturão
Supracrustal de Isua se destaca por sua geologia distinta, estando situado
acima da espessa crosta continental que o protege de significativas atividades
tectônicas e deformações. Esse cenário único permitiu aos pesquisadores compilar
evidências convincentes que sustentam a existência do campo magnético da Terra
há 3,7 bilhões de anos.
Os resultados deste estudo também
podem oferecer novas perspectivas sobre como o campo magnético da Terra
influenciou o desenvolvimento da atmosfera do planeta, particularmente em
termos de escape de gases para a atmosfera.
Os autores expressam sua intenção
de ampliar o conhecimento do campo magnético da Terra antes do aumento do
oxigênio na atmosfera há cerca de 2,5 bilhões de anos, examinando sequências de
rochas antigas em regiões como Canadá, Austrália e África do Sul. Uma
compreensão aprimorada da força e variabilidade do antigo campo magnético será
fundamental para determinar a importância dos campos magnéticos planetários no
suporte à vida nas superfícies planetárias e seu impacto na evolução
atmosférica.
Fonte: Sci.news
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