Observações contestam modelo-padrão das explosões solares
Explosões solares
O modelo-padrão - o paradigma
científico vigente, mais aceito pela larga maioria dos cientistas - sobre as
explosões solares não bate com as observações, o que significa que ele está
incorreto ou, no mínimo, incompleto.
A descrição científica atual das explosões solares não está correta, não batendo com os dados observacionais. [Imagem: Simões et al. - 10.1093/mnras/stae1511]
Os fenômenos envolvidos são as
explosões solares, eventos extremamente intensos que ocorrem na atmosfera do
Sol, com durações que variam de minutos a algumas horas.
Segundo o modelo-padrão, a
energia que desencadeia tais fenômenos seria transportada por elétrons
acelerados que se precipitam da região de reconexão magnética na coroa para a
cromosfera - a parte exterior do Sol é dividida em fotosfera (cerca de 300km),
cromosfera (10.000km acima da fotosfera) e coroa (13 milhões de km acima da
cromosfera).
Por meio de colisões, esses
elétrons depositariam a energia na cromosfera, causando aquecimento e ionização
do plasma e intensa radiação em várias faixas do espectro eletromagnético. As
regiões de deposição da energia são chamadas de "pés" dos arcos da
explosão e normalmente aparecem em pares magneticamente conectados.
Para testar a validade do
modelo-padrão, uma equipe liderada pelo professor Paulo Simões, da Universidade
Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, comparou resultados de simulações
computacionais construídas a partir do modelo com dados de observação coletados
pelo telescópio McMath-Pierce durante uma erupção particularmente forte
(SOL2014-09-24T17:50).
O foco do estudo era medir o
lapso temporal na emissão de radiação em infravermelho (IR) de duas daquelas
fontes cromosféricas pareadas, os dois pés do arco magnético. Mas os resultados
não bateram.
"Encontramos uma importante
diferença entre o dado fornecido pela observação telescópica e o comportamento
previsto pelo modelo. Na observação telescópica, os pés de arco pareados
aparecem como duas regiões intensamente luminosas na cromosfera solar.
Como os elétrons incidentes
partem da mesma região da coroa e percorrem trajetórias semelhantes, seria de
esperar, com base no modelo, que as duas manchas brilhassem quase que
simultaneamente na cromosfera. Não foi isso, porém, que a observação telescópica
mostrou. Houve um atraso de 0,75 segundo entre um brilho e outro," contou
Paulo.
Anatomia do Sol. [Imagem: ESA]
É preciso reformular o
modelo-padrão
Um retardo de 0,75 segundo talvez
pareça irrelevante, mas, considerando todas as configurações geométricas
possíveis, os pesquisadores constataram que, com base no modelo-padrão, o
atraso máximo seria de 0,42 segundo. O número real é expressivamente maior.
"Todos os cenários baseados nas simulações apresentaram diferenças de
tempo muito menores do que as obtidas pela observação telescópica", disse
o pesquisador.
Um dos cenários testados foi o de
espiralização e aprisionamento magnético dos elétrons na coroa. A expectativa
era a de que, quanto maior fosse a diferença das intensidades dos campos
magnéticos entre os pés de arcos, maior seria o atraso de tempo na penetração
dos elétrons na cromosfera.
"Porém, a análise dos dados
observacionais em raios X mostrou intensidades muito semelhantes originadas nos
pés dos arcos, indicando quantidades parecidas de deposição de elétrons nessas
regiões. Portanto, não estava aí a causa do atraso observado nas
emissões", afirma o pesquisador.
As simulações
radiativo-hidrodinâmicas também mostraram que os tempos de ionização e
recombinação na cromosfera são rápidos demais para explicar o atraso. "O
resultado das simulações mostrou que, com a penetração dos elétrons acelerados,
a ionização e geração da emissão no infravermelho são quase instantâneas e,
portanto, incapazes de explicar o atraso de 0,75 segundo entre as emissões dos
pés de arco," disse Paulo.
Em resumo, nenhum dos processos
descritos pelo modelo-padrão e inseridos na simulação consegue explicar os
dados observacionais. Diante disso, a conclusão dos pesquisadores foi até certo
ponto óbvia: É preciso reformular o modelo-padrão.
"O atraso temporal observado
entre as fontes cromosféricas desafia o modelo-padrão de transporte de energia
por feixes de elétrons. A existência de um atraso maior sugere que outros
mecanismos de transporte de energia podem estar em jogo. Mecanismos como ondas
magnetossônicas, transporte condutivo ou outras formas de transporte de energia
podem ser necessários para explicar o atraso observado. Esses mecanismos
adicionais precisam ser considerados para uma compreensão completa das erupções
solares," concluiu a equipe.
Fonte: Inovação
Tecnológica
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