Nosso Universo é menos estruturado do que o esperado?
O Universo não parou de evoluir
desde o Big Bang, passando de um gás primordial difuso para uma rede complexa
de galáxias e aglomerados de matéria. Mas uma nova análise sugere que, ao longo
dos bilhões de anos, essa estrutura deveria ter se tornado mais "grudenta"
do que realmente é.
Pesquisadores da Universidade da Pensilvânia e do Lawrence Berkeley National Laboratory combinaram dois conjuntos de dados cosmológicos para estudar essa evolução. Seu objetivo: comparar a distribuição atual da matéria com a prevista pela teoria da gravitação de Einstein. Os resultados confirmam em grande parte os modelos existentes, mas uma pequena discrepância intriga os cientistas.
O estudo baseia-se na análise dos
dados do telescópio cosmológico de Atacama (ACT) e do espectroscópio DESI. O
ACT fornece um mapeamento da radiação fóssil, ou fundo cósmico de micro-ondas
(CMB), que data de 380.000 anos após o Big Bang. Paralelamente, o DESI permite
estudar a distribuição das galáxias atuais e sua evolução ao longo de bilhões
de anos.
Os pesquisadores sobrepuseram
essas observações para traçar a história da matéria cósmica. Como um scanner
tridimensional do céu, essa abordagem permitiu-lhes comparar estruturas antigas
e recentes e observar como a matéria se organizou sob o efeito da gravidade.
O efeito de lente gravitacional,
fenômeno previsto por Einstein, desempenhou um papel crucial nessa análise. A
luz do CMB é distorcida ao passar por concentrações massivas de matéria, o que
permite inferir a distribuição das estruturas cósmicas ao longo do tempo. O
DESI, por sua vez, identifica galáxias distantes que servem como marcadores
para mapear essa evolução.
Ao examinar esses dados, a equipe
observou que a densidade da matéria parece ligeiramente menos contrastada do
que o esperado em certas épocas recentes, principalmente há cerca de quatro
bilhões de anos. Um parâmetro cosmológico chave, chamado Sigma 8 (σ₈), mede essas variações de densidade. No entanto, seu
valor parece ligeiramente menor do que o previsto pelos modelos padrão.
Se essa diferença for confirmada,
pode indicar uma desaceleração na formação das estruturas cósmicas. Um papel
mais importante da energia escura, responsável pela aceleração da expansão do
Universo, pode ser a causa. Mas os cientistas permanecem cautelosos, destacando
que a discrepância observada também pode resultar de flutuações estatísticas.
As próximas observações,
especialmente as do Simons Observatory, permitirão refinar essas medições. Com
maior precisão, os pesquisadores esperam esclarecer essa anomalia e entender se
o Universo está realmente evoluindo de uma maneira inesperada.
O que é o efeito de lente
gravitacional?
Previsto por Albert Einstein em
1915, o efeito de lente gravitacional é um fenômeno em que a luz proveniente de
um objeto distante é desviada pela presença de uma massa intermediária. Essa
massa, como um aglomerado de galáxias, curva o espaço-tempo e age como uma
lente óptica.
Esse fenômeno permite que os
astrônomos observem objetos muito distantes que, de outra forma, seriam muito
fracos para serem detectados. Ao ampliar sua luz, ele revela detalhes sobre o
universo primitivo e a distribuição de matéria invisível, como a matéria
escura.
Existem dois tipos principais de
lentes gravitacionais: fortes e fracas. As lentes fortes produzem imagens
múltiplas e arcos luminosos espetaculares, enquanto as lentes fracas causam
leves distorções na forma das galáxias, detectáveis estatisticamente.
Ao medir essas deformações, os
pesquisadores podem mapear a distribuição da massa cósmica e testar a validade
dos modelos gravitacionais. É uma ferramenta essencial para entender a evolução
do Universo e suas grandes estruturas.
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