Como e onde os buracos negros se formaram? Estudo faz “DNA cósmico”
Conhecido como o “pai do buraco
negro” por ter cunhado este termo, o físico teórico norte-americano John
Wheeler é também o autor de uma curiosa ideia chamada “teoria da calvície”, que
propõe que “os buracos negros não têm cabelo”.
Por mais engraçada que possa parecer (afinal, Wheeler também não tinha cabelo), a tese reflete uma das propriedades mais marcantes dos buracos negros: a sua simplicidade, que não permite identificar seu mecanismo de formação ou a sua época de origem. Agora, essa simplicidade, um dos poucos casos na física onde a complexidade diminui em vez de aumentar, está ajudando uma equipe liderada por pesquisadores da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, a determinar como e onde os buracos negros se formaram.
Publicado na revista Physical
Review Letters, o estudo testa a hipótese de que a população dos buracos negros
observados atualmente é amplamente composta por objetos formados em ambientes
densos, onde fusões ocorreram repetidamente, o que pode alterar nossa
compreensão sobre esses objetos. Esses testes de memória genética cósmica
utilizam as chamadas ondas gravitacionais, perturbações dinâmicas no tecido do
espaço-tempo, que se propagam como resultado das interações entre matéria e
gravidade em sua forma mais extrema.
Analisando os padrões de giro de
buracos negros Para testar suas hipóteses, a equipe examinou um catálogo
público com 69 eventos de ondas gravitacionais envolvendo buracos negros
binários detectados pelos observatórios LIGO e Virgo, localizados respectivamente
nos EUA e na Itália. Eles descobriram que o spin, uma "assinatura de
movimento" do buraco negro (que nos diz o quão rápido e em qual direção
ele está girando), muda ao atingir uma determinada massa. Isso sugere que esse
spin pode ser o resultado de uma longa série de fusões anteriores.
Quando afirmam que o spin muda
com a massa, os autores falam de mudanças nesse "padrão de giro" que
não seriam esperadas caso o buraco negro se “alimentasse” só de matéria, aos
poucos. As mudanças sugerem que ele deve ter crescido por meio de colisões com
outros buracos negros.
Segundo o autor principal do
estudo, Fabio Antonini, da Universidade de Cardiff, "À medida que
observamos mais fusões de buracos negros com detectores de ondas gravitacionais
como LIGO e Virgo, fica cada vez mais claro que os buracos negros exibem massas
e spins diversos”. Para o astrofísico teórico, isso é um forte indício de que
eles podem ter se formado de maneiras diferentes.
No entanto, identificar “qual
desses cenários de formação é o mais comum tem sido desafiador", conclui.
Analisando dados de ondas gravitacionais, as ondulações no espaço-tempo que nos
permitem "ouvir" as colisões de buracos negros, a equipe conseguiu
identificar um “ponto de virada” na massa dos buracos negros onde seu padrão de
rotação (spin) muda de forma consistente.
Foi como se tivessem descoberto
uma linha divisória baseada nos spins: de um lado, os buracos negros abaixo de
certa massa com um tipo de rotação, e, acima dessa massa, buracos negros
formados por colisões sucessivas dentro de aglomerados de estrelas. Criando um
paradigma para identificar buracos negros O resultado desse estudo é uma forma
confiável de identificar como alguns buracos negros se formaram, sem depender
de teorias específicas ou modelos matemáticos complexos.
Se até agora era muito difícil
saber com certeza a origem dos buracos negros, o novo método surge como uma
espécie de impressão digital única. Ele revela a história do buraco negro de
forma clara e independente da teoria ou modelo escolhidos para estudá-la. Para
a coautora Isabel Romero-Shaw, pesquisadora da Universidade de Cambridge, o
estudo mostra que a “maneira como ele [buraco negro] gira é um forte indicador
de que pertence a um grupo de buracos negros de alta massa”. Esses objetos se
formam em grupos de estrelas mantidos juntos pela gravidade, em um espaço
relativamente pequeno.
Nesse cenário, explica a
pós-doutoranda em um release, “pequenos buracos negros colidem e se fundem
repetidamente uns com os outros". Além de fornecer novos dados para
refinar modelos computacionais que simulam a formação de buracos negros, esse
estudo orientará a forma como detecções de ondas gravitacionais serão feitas no
futuro. Assim, quando o LIGO e outros detectores mais avançados (como o futuro
Telescópio Einstein) captarem sinais inéditos de fusões de buracos negros, os
cientistas estarão preparados para comparar esses sinais com as previsões dos
modelos atualizados, em um ciclo contínuo de aperfeiçoamento.
Msn.com

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