Finalmente sabemos o que trouxe luz ao universo primitivo
Com o auxílio dos telescópios espaciais Hubble e James Webb, os cientistas desvendam o mistério de como o universo primitivo ganhou luz. De acordo com os dados obtidos, as pequenas galáxias anãs foram as responsáveis por iluminar a escuridão inicial, dissipando o nevoeiro de hidrogênio que preenchia o espaço intergaláctico. Este avanço significativo foi detalhado em um artigo publicado em fevereiro de 2024.
A
astrofísica Iryna Chemerynska, do Institut d’Astrophysique de Paris, destaca o
papel crucial que estas galáxias ultra-fracas desempenharam na evolução do
universo primitivo. Segundo ela, estas galáxias produzem fótons ionizantes que
transformam o hidrogênio neutro em plasma ionizado durante a reionização
cósmica, sublinhando a importância de compreender como as galáxias de baixa
massa moldam a história do universo.
No
início do universo, minutos após o Big Bang, o espaço estava preenchido por uma
densa e quente névoa de plasma ionizado. A pouca luz existente não conseguia
atravessar esta névoa, pois os fótons dispersavam-se ao colidir com os elétrons
livres, mantendo o universo na escuridão.
A
medida que o universo esfriava, cerca de 300 mil anos após o Big Bang, prótons
e elétrons começaram a se combinar para formar gás de hidrogênio neutro, com um
pouco de hélio também. Embora a maioria dos comprimentos de onda de luz pudesse
penetrar nesse meio neutro, não havia muitas fontes luminosas para produzi-la.
Foi a partir desse gás que as primeiras estrelas se formaram.
O despertar das estrelas e a reionização cósmica
As
primeiras estrelas emitiram radiação suficientemente forte para separar os
elétrons dos núcleos, reionizando o gás. Porém, a expansão do universo havia
deixado o gás tão difuso que a luz pôde finalmente atravessá-lo. Cerca de 1
bilhão de anos após o Big Bang, ao fim do período conhecido como a aurora
cósmica, o universo estava completamente reionizado, iluminando-se em sua
totalidade.
Apesar
da névoa e da grande distância no tempo e no espaço a observação do que havia
nesse período sempre foi um desafio. Cientistas acreditavam que as fontes
responsáveis pela clareza eram imponentes, como buracos negros gigantes cujo
processo de acreção produz luz intensa, além de grandes galáxias em formação
estelar, já que estrelas jovens emitem muita luz ultravioleta.
O
Telescópio Espacial James Webb foi projetado para investigar esse amanhecer
cósmico e descobrir o que espreita nessa era crucial. Surpreendentemente, as
observações recentes sugerem que as galáxias anãs, e não as gigantes, são as
protagonistas da reionização.
Uma
imagem de campo profundo do JWST revela algumas das fontes que os pesquisadores
identificaram como responsáveis pela reionização. (Hakim Atek/Sorbonne
University/JWST)
A
surpreendente relevância das galáxias anãs
Um
time internacional liderado pelo astrofísico Hakim Atek, do Institut
d’Astrophysique de Paris, utilizou dados do JWST sobre um aglomerado de
galáxias chamado Abell 2744, complementados por dados do Hubble. Abell 2744 é
tão denso que distorce o espaço-tempo, formando uma lente cósmica que amplifica
a luz distante viajando até nós.
Imagem de campo profundo do telescópio espacial James Webb destaca diversas fontes apontadas por cientistas como impulsionadoras do processo de reionização cósmica. (Hakim Atek/Sorbonne University/JWST)
Essa
lente natural permitiu aos pesquisadores observar galaxias anãs próximas do
amanhecer cósmico. Com o JWST, eles obtiveram espectros detalhados dessas
minúsculas galáxias. A análise revelou que essas galáxias anãs são, não apenas
o tipo mais abundante no universo primitivo, mas também muito mais brilhantes
do que se esperava.
Na
verdade, a pesquisa mostra que as galáxias anãs superam em número as grandes
galáxias em uma proporção de 100 para 1, e seu conjunto emite uma radiação
ionizante quatro vezes maior do que a normalmente atribuída às galáxias
maiores. Hakim Atek afirma que essas pequenas potências cósmicas emitem
coletivamente energia suficiente para realizar a reionização.
O futuro das investigações cósmicas
Embora
a evidência seja a mais convincente até agora sobre a força por trás da
reionização, há mais trabalho a ser feito. Os pesquisadores estudaram apenas
uma pequena porção do céu e precisam garantir que sua amostra não seja apenas
um agrupamento anômalo de galáxias anãs, mas representativa de toda a população
na aurora cósmica.
Com
esse objetivo, eles pretendem estudar mais regiões do céu utilizando lentes
cósmicas para obter uma amostra mais ampla das populações galácticas
primitivas. Mesmo com base nesse único exemplo, os resultados são extremamente
animadores. Cientistas têm buscado respostas sobre a reionização desde que ela
foi descoberta; agora estamos prestes a dissipar definitivamente essa névoa.
O
astrofísico Themiya Nanayakkara, da Swinburne University of Technology, na
Austrália, afirma que com o JWST, entramos em um território inexplorado. este
trabalho abre mais questões emocionantes que precisamos responder em nossos
esforços para mapear a história evolutiva de nossas origens.
A
pesquisa foi publicada na revista Nature. Uma versão deste artigo foi
originalmente publicada em março de 2024.
Hypescience.com


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