Nova medição da expansão do Universo sugere resolução de um conflito
Ao longo da última década, os cientistas têm tentado resolver o que parecia ser uma grande inconsistência no Universo.
Os cientistas fizeram um novo cálculo da velocidade a que o Universo se está a expandir, utilizando dados obtidos pelo poderoso Telescópio Espacial James Webb de múltiplas galáxias. Na imagem, obtida pelo Webb, está NGC 1365, uma dessas galáxias. Crédito: NASA, ESA, CSA, Janice Lee (NOIRLab), Alyssa Pagan (STScI)
O Universo expande-se ao longo do tempo, mas a velocidade a que se expande parece ser diferente consoante se olha para o início da história do Universo ou para os dias de hoje. A ser verdade, isto teria sido um grande problema para o modelo padrão que representa a nossa melhor compreensão do Universo. Mas graças ao Telescópio Espacial James Webb, cientistas da Universidade de Chicago conseguiram obter novos e melhores dados - sugerindo que, afinal, pode não haver conflito.
"Estas novas evidências
sugerem que o nosso Modelo Padrão do Universo está a aguentar-se", disse a
professora Wendy Freedman da Universidade de Chicago, uma figura de destaque no
debate sobre este ritmo de expansão, conhecida como a Constante de Hubble.
"Não quer dizer que não
encontremos coisas no futuro que sejam inconsistentes com o modelo, mas, de
momento, a Constante de Hubble não parece ser o caso", afirmou.
Os novos resultados foram
publicados na edição de 27 de maio da revista The Astrophysical Journal.
Espaço, estrelas e
supernovas
Existem atualmente duas
abordagens principais para calcular a velocidade a que o nosso Universo se está
a expandir.
A primeira abordagem consiste em
medir a luz remanescente do Big Bang, que ainda está a viajar pelo Universo.
Esta radiação, conhecida como radiação cósmica de fundo em micro-ondas, informa
os astrónomos acerca das condições nos primeiros tempos do Universo.
Freedman é especialista numa
segunda abordagem, que consiste em medir a velocidade a que o Universo se está
a expandir neste momento, na nossa vizinhança astronómica local.
Paradoxalmente, isto é muito mais complicado do que ver para trás no tempo,
porque medir distâncias com precisão é um grande desafio.
Ao longo do último meio século,
os cientistas descobriram uma série de formas de medir distâncias relativamente
próximas. Uma delas baseia-se na captação da luz de uma determinada classe de
estrelas no seu pico de brilho, quando explodem como supernova no final da sua
vida.
Se conhecermos o brilho máximo
destas supernovas, a medição das suas luminosidades aparentes permite-nos
calcular a sua distância. Observações adicionais dizem-nos a que velocidade a
galáxia em que a supernova ocorreu se está a afastar de nós. Freedman foi
também pioneira em dois outros métodos que utilizam o que sabemos sobre dois
outros tipos de estrelas: as estrelas gigantes vermelhas e as estrelas de
carbono.
No entanto, há muitas correções
que têm de ser aplicadas a estas medições antes de se poder declarar uma
distância final. Em primeiro lugar, os cientistas têm de ter em conta a poeira
cósmica que obscurece a luz entre nós e estas estrelas distantes nas suas
galáxias hospedeiras. Têm também de verificar e corrigir as diferenças de
luminosidade que podem surgir ao longo do tempo cósmico. E, finalmente, têm de
ser identificadas e corrigidas as incertezas subtis da instrumentação utilizada
para efetuar as medições.
Mas com os avanços tecnológicos,
como o lançamento do muito mais potente Telescópio Espacial James Webb, em
2021, os cientistas têm conseguido aperfeiçoar cada vez mais estas medições.
"Mais do que duplicámos a
nossa amostra de galáxias utilizadas para calibrar as supernovas", disse
Freedman. "A melhoria estatística é significativa. Isto reforça
consideravelmente o resultado".
O último cálculo de Freedman, que
incorpora dados do Telescópio Hubble e do Telescópio Espacial James Webb,
determina um valor de 70,4 quilómetros por segundo por megaparsec, mais ou
menos 3%.
Isto coloca o seu valor em
concordância estatística com as medições recentes da radiação cósmica de fundo,
que é de 67,4, mais ou menos 0,7%.
O Webb tem uma resolução quatro
vezes superior à do Telescópio Hubble, o que lhe permite identificar estrelas
individuais anteriormente detetadas em grupos desfocados. É também cerca de 10
vezes mais sensível, o que permite uma maior precisão e a capacidade de
encontrar objetos de interesse ainda mais ténues.
"Estamos realmente a ver
como o Telescópio Espacial James Webb é fantástico para medir com precisão as
distâncias das galáxias", disse o coautor Taylor Hoyt do Laboratório
Lawrence Berkeley no estado norte-americano da Califórnia. "Utilizando os
seus detetores infravermelhos, podemos ver através da poeira que,
historicamente, tem dificultado a medição exata das distâncias, e podemos medir
com muito maior precisão o brilho das estrelas", acrescentou o coautor
Barry Madore, do Instituto Carnegie em Washington.
"Extraordinariamente
difícil"
Freedman explicou que os
astrofísicos têm tentado encontrar uma teoria que explique os diferentes ritmos
de expansão à medida que o Universo envelhece.
"Há mais de mil artigos
científicos a tentar atacar este problema e revelou-se extraordinariamente
difícil de resolver", disse.
Os cientistas ainda estão a
tentar encontrar falhas no Modelo Padrão que descreve o Universo, o que poderia
fornecer pistas sobre a natureza de dois grandes mistérios pendentes - a
matéria escura e a energia escura. Mas a Constante de Hubble parece cada vez
mais não ser o sítio onde procurar.
Freedman e a sua equipa vão usar
o Telescópio Webb no próximo ano para obter medições num grupo de galáxias
chamado Enxame de Coma, que deverá fornecer mais dados de um ângulo diferente,
disse ela. "Estas medições permitir-nos-ão medir a constante de Hubble
diretamente, sem o passo adicional de precisar das supernovas".
"Estou otimista quanto à
resolução deste problema nos próximos anos, à medida que aumentamos a precisão
para fazer estas medições", disse.
Astronomia OnLine

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