Nova teoria pode finalmente tornar a “gravidade quântica” uma realidade e provar que Einstein estava errado
O universo nos apresenta um enigma fascinante: enquanto compreendemos relativamente bem as forças eletromagnéticas, fracas e fortes através da teoria quântica de campos, a gravidade permanece como a força rebelde que resiste à quantização. Imagine tentar encaixar uma peça quadrada em um buraco redondo – essa tem sido a frustração dos físicos por décadas ao tentar unificar a relatividade geral com o mundo quântico.
Recentemente,
uma equipe de físicos desenvolveu uma abordagem revolucionária para este
problema persistente da física teórica. Em artigo publicado na revista
científica Reports on Progress in Physics, os cientistas apresentam uma
reformulação da gravidade que poderia finalmente criar uma descrição
completamente compatível com a mecânica quântica – sem necessidade de dimensões
extras ou características exoticas exigidas por modelos mais especulativos,
como a teoria das cordas.
O
cosmos está repleto de exemplos onde esta unificação se torna crucial. Pense
nos buracos negros, onde a gravidade extrema comprime a matéria até densidades
onde efeitos quânticos não podem mais ser ignorados. Ou considere os primeiros
momentos após o Big Bang, quando todo o universo estava comprimido em um volume
infinitesimal. Nestas situações extremas, precisamos de uma teoria que funcione
em ambos os regimes simultaneamente.
Repensando a natureza fundamental da gravidade
No
centro desta proposta está uma completa reavaliação de como a gravidade se
comporta em nível fundamental. A relatividade geral de Einstein descreve a
gravidade como curvatura do espaço-tempo causada por massa e energia – uma
teoria puramente clássica que funciona maravilhosamente bem para planetas
estrelas e galáxias mas que encontra dificuldades no reino do muito pequeno.
As
tentativas anteriores de misturar teoria quântica com relatividade geral
frequentemente resultavam em inconsistências matemáticas catastróficas como
probabilidades infinitas – algo que qualquer físico consideraria um sinal claro
de que algo está fundamentalmente errado com a abordagem.
“A
descoberta principal é que nossa teoria oferece uma nova abordagem para a
gravidade quântica de maneira que se assemelha à formulação das outras
interações fundamentais do Modelo Padrão” explica o co-autor do estudo Mikko
Partanen físico da Universidade Aalto na Finlandia em comunicação por email à
Live Science.
Quatro campos em vez de espaço-tempo curvo
Em
vez de curvar o espaço-tempo, a gravidade neste modelo é mediada por quatro
campos inter-relacionados, cada um semelhante ao campo que governa o
eletromagnetismo. Estes campos respondem à massa de maneira similar à forma
como campos elétricos e magnéticos respondem à carga e corrente elétricas
O
fascinante nesta abordagem é que estes campos também interagem entre si e com
os campos do Modelo Padrão de uma forma que reproduz a relatividade geral no
nível clássico, enquanto permite que efeitos quânticos sejam incorporados
consistentemente. É como se estivéssemos traduzindo a linguagem geométrica da
relatividade geral para a linguagem de campos da teoria quântica.
Quando
pensamos no universo primordial, este modelo poderia potencialmente explicar
como as quatro forças fundamentais emergiram de um estado unificado inicial. A
gravidade, nesta perspectiva não seria tão diferente das outras forças – apenas
mais uma manifestação de campos quânticos interagindo, embora com propriedades
únicas.
Simplicidade elegante como vantagem
Uma
vantagem crucial desta abordagem é sua simplicidade relativa. Diferente de
muitos modelos de gravidade quântica que exigem partículas não detectadas e
forças adicionais, esta teoria se mantém em território familiar para os
físicos.
“As
principais vantagens ou diferenças em comparação com muitas outras teorias de
gravidade quântica são que nossa teoria não precisa de dimensões extras que
ainda não têm suporte experimental direto” afirmou Jukka Tulkki professor da
Universidade Aalto e co-autor do artigo em email à Live Science. “Além disso a
teoria não precisa de nenhum parâmetro livre além das constantes físicas
conhecidas.”
Isso
significa que a teoria pode ser testada sem esperar pela descoberta de novas
partículas ou revisar leis físicas existentes. “Quaisquer experimentos futuros
de gravidade quântica podem ser diretamente usados para testar quaisquer
previsões (futuras) da teoria” acrescentou Tulkki. Esta característica torna o
modelo particularmente atraente para a comunidade científica que por décadas
tem buscado maneiras de testar teorias de gravidade quantica.
Desafios e perspectivas futuras
Apesar
das características promissoras o modelo ainda está em seus estágios iniciais.
Embora cálculos preliminares indiquem que a teoria se comporta bem sob as
verificações usuais de consistência, uma prova completa de sua coerência ainda
precisa ser elaborada.
Além
disso, a estrutura ainda não foi aplicada a algumas das questões mais profundas
da física gravitacional, como a verdadeira natureza das singularidades dos
buracos negros ou a física do Big Bang. “A teoria ainda não é capaz de abordar
esses grandes desafios mas tem potencial para fazêr-lo no futuro” disse
Partanen.
A
verificação experimental pode se provar ainda mais elusiva A gravidade é a mais
fraca das forças conhecidas e seus aspectos quânticos são incrivelmente sutis.
Testes diretos dos efeitos da gravidade quântica estão além do alcance dos
instrumentos atuais.
O longo caminho até a verificação experimental
“Testar
efeitos de gravidade quântica é desafiador devido à fraqueza da interação
gravitacional” explicou Tulkki. Ainda assim, como a teoria não inclui
parâmetros ajustáveis, qualquer experimento futuro que investigue
comportamentos gravitacionais quânticos poderia potencialmente confirmar – ou
descartar – a nova proposta.
“Dado
o ritmo atual de avanços teóricos e observacionais, pode levar algumas décadas
para fazer as primeiras descobertas experimentais que nos deem evidências
diretas dos efeitos da gravidade quântica” afirmou Partanen. “Evidências
indiretas através de observações avançadas poderiam ser obtidas mais cedo.”
Imagine
detectores de ondas gravitacionais tão sensíveis que poderiam captar flutuações
quânticas no próprio tecido do espaço-tempo, ou experimentos de laboratório
capazes de medir como a gravidade afeta partículas em superposição quântica
Tais experimentos, embora tecnicamente desafiadores, poderiam um dia fornecer
as evidências necessárias.
Implicações
para nossa compreensão do universo
Se
esta teoria estiver correta, as implicações seriam profundas. Poderíamos
finalmente entender o que acontece no centro de um buraco negro, onde nossa
física atual simplesmente falha. Talvez descobríssemos que não existe realmente
uma “singularidade” infinita, mas sim um comportamento quântico exótico que
nossa física atual não consegue descrever.
Poderíamos
também obter insights sobre a origem do universo e se houve algo “antes” do Big
Bang. A gravidade quântica poderia explicar como o universo emergiu de um
estado quântico primordial, sem necessidade de invocar conceitos como “nada” ou
“criação ex nihilo”.
Por
enquanto, o trabalho de Partanen e Tulkki abre uma direção nova e promissora
para teóricos que buscam uma teoria quântica da gravidade – uma que permanece
fundamentada nos arcabouços bem-sucedidos da física de partículas enquanto
potencialmente desvenda alguns dos mistérios mais profundos do universo.
Como
alguém que observa as estrelas desde criança, não posso deixar de me maravilhar
com a elegância desta abordagem. O cosmos é não apenas mais estranho do que
imaginamos, mas provavelmente mais estranho do que podemos imaginar. no
entanto, com cada nova teoria e observação, nos aproximamos um pouco mais de
compreender a tapeçaria cósmica da qual todos fazemos parte.
Hypescience.com

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