Uma vasta nuvem molecular, há muito invisível, foi descoberta perto do Sistema Solar
Uma equipe internacional de cientistas liderada por uma astrofísica da Universidade Rutgers - New Brunswick descobriu uma nuvem potencialmente formadora de estrelas que é uma das maiores estruturas individuais no céu e uma das mais próximas do Sol e da Terra alguma vez detetadas.
Impressão de artista do aspeto que a nuvem molecular Eos teria no céu se fosse visível a olho nu. Crédito: NatureLifePhoto/Flickr (horizonte da cidade de Nova Iorque), Burkhart et al., 2025
A vasta bola de hidrogénio, há muito invisível para os cientistas, foi revelada através da procura do seu principal constituinte - o hidrogénio molecular. Esta descoberta marca a primeira vez que uma nuvem molecular foi detetada com luz emitida no domínio do ultravioleta distante do espetro eletromagnético e abre caminho a novas explorações utilizando esta abordagem.
Os cientistas chamaram à nuvem
molecular de hidrogénio "Eos", em homenagem à deusa da mitologia
grega que personifica o amanhecer. A sua descoberta está descrita num estudo
publicado na revista Nature Astronomy.
"Isto abre novas
possibilidades para o estudo do Universo molecular", disse Blakesley
Burkhart, professora associada do Departamento de Física e Astronomia da Escola
de Artes e Ciências de Rutgers, que liderou a equipa e é uma das autoras do estudo.
Burkhart é também investigadora no Centro de Astrofísica Computacional do
Instituto Flatiron em Nova Iorque.
As nuvens moleculares são
compostas por gás e poeira - sendo a molécula mais comum o hidrogénio, o bloco
de construção fundamental das estrelas e dos planetas e essencial para a vida.
Também contêm outras moléculas, como o monóxido de carbono. As nuvens moleculares
são frequentemente detetadas através de métodos convencionais, como observações
rádio e no infravermelho, que detetam facilmente a assinatura química do
monóxido de carbono.
Para este trabalho, os cientistas
utilizaram uma abordagem diferente.
"Esta é a primeira nuvem
molecular de sempre descoberta através da procura direta da emissão
ultravioleta distante do hidrogénio molecular", disse Burkhart. "Os
dados mostram moléculas de hidrogénio brilhantes detetadas por fluorescência no
ultravioleta distante. Esta nuvem está literalmente a brilhar no escuro".
Eos não representa qualquer
perigo para a Terra e para o Sistema Solar. Devido à sua proximidade, a nuvem
de gás representa uma oportunidade única para estudar as propriedades de uma
estrutura no meio interestelar, disseram os cientistas.
O meio interestelar, constituído
por gás e poeira que preenche o espaço entre as estrelas de uma galáxia, serve
de matéria-prima para a formação de novas estrelas.
"Quando olhamos através dos
nossos telescópios, vemos sistemas solares inteiros em formação, mas não
sabemos em pormenor como isso acontece", disse Burkhart. "A nossa
descoberta de Eos é excitante porque podemos agora medir diretamente como as
nuvens moleculares se formam e dissociam, e como uma galáxia começa a
transformar gás e poeira interestelar em estrelas e planetas".
A nuvem de gás em forma de
crescente está localizada a cerca de 300 anos-luz da Terra. Situa-se no limite
da Bolha Local, uma grande cavidade cheia de gás no espaço que engloba o
Sistema Solar. Os cientistas estimam que Eos é vasta em projeção no céu, medindo
cerca de 40 Luas em todo o céu, com uma massa cerca de 3400 vezes superior à do
Sol. A equipa utilizou modelos para mostrar que se deverá evaporar daqui a 6
milhões de anos.
"A utilização da técnica de
emissão de fluorescência no ultravioleta distante pode reescrever a nossa
compreensão do meio interestelar, revelando nuvens ocultas em toda a Galáxia e
mesmo até aos limites mais longínquos detetáveis do amanhecer cósmico",
afirmou Thavisha Dharmawardena, bolseira Hubble da NASA na Universidade de Nova
Iorque e primeira autora partilhada do estudo.
Eos foi revelada à equipa através
de dados recolhidos por um espetrógrafo no ultravioleta distante chamado
FIMS-SPEAR (acrónimo de "fluorescent imaging spectrograph") que
funcionava como instrumento no satélite coreano STSAT-1. Um espetrógrafo no
ultravioleta distante decompõe a luz ultravioleta distante emitida por um
material nos seus comprimentos de onda componentes, tal como um prisma faz com
a luz visível, criando um espetro que os cientistas podem analisar.
Os dados tinham acabado de ser
divulgados publicamente em 2023 quando Burkhart se deparou com eles.
"Era como se estivesse à
espera de ser explorada", disse ela.
As descobertas destacam a
importância de técnicas de observação inovadoras para o avanço da compreensão
do cosmos, disse Burkhart. A investigadora referiu que Eos é dominada por
hidrogénio molecular gasoso, mas é maioritariamente "CO-escuro", o
que significa que não contém muito material e não emite a assinatura
característica detetada pelas abordagens convencionais. Isso explica como Eos
escapou à identificação durante tanto tempo, disseram os investigadores.
"A história do cosmos é uma
história do rearranjo dos átomos ao longo de milhares de milhões de anos",
disse Burkhart. "O hidrogénio que se encontra atualmente na nuvem Eos
existia na altura do Big Bang e acabou por cair na nossa Galáxia e coalescer
nas proximidades do Sol. Portanto, tem sido uma longa viagem de 13,6 mil
milhões de anos para estes átomos de hidrogénio".
A descoberta foi uma
espécie de surpresa.
"Quando eu estava na
faculdade, disseram-nos que não era fácil observar diretamente o hidrogénio
molecular", disse Dharmawardena da Universidade de Nova Iorque. "É um
pouco louco que possamos ver esta nuvem em dados que não pensávamos ver".
Eos também tem o nome de uma
proposta de missão espacial da NASA que Burkhart e outros membros da equipa
estão a apoiar. A missão tem como objetivo alargar a abordagem de deteção de
hidrogénio molecular a grandes áreas da Galáxia, investigando as origens das
estrelas através do estudo da evolução das nuvens moleculares.
A equipa está a pesquisar dados
sobre nuvens de hidrogénio molecular próximas e distantes. Um estudo publicado
como pré-impressão no site arXiv por Burkhart e outros, utilizando o Telescópio
Espacial James Webb (JWST), relata a tentativa de encontrar o gás molecular
mais distante de sempre.
"Usando o JWST, podemos ter
encontrado as moléculas de hidrogénio mais distantes do Sol", disse
Burkhart. "Assim, encontrámos tanto as mais próximas como as mais
distantes utilizando a emissão no ultravioleta distante".
Astronomia OnLine

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