Cientistas realizam simulação mais longa de fusão de estrelas; confira
Vista como uma mudança de paradigma para a astronomia multimensageira, cientistas japoneses realizaram a simulação mais longa e complexa até hoje de uma colisão binária de estrelas de nêutrons. O resultado foi a formação imediata de um buraco negro e a ejeção de um jato de matéria com velocidade próxima à da luz.
Consideradas as “queridinhas” da astronomia multimensageira, as estrelas de nêutrons entregam exatamente os sinais mensageiros que essa abordagem demanda: ondas gravitacionais, sinais eletromagnéticos, raios X e raios gama, além de neutrinos e sinais que ainda não temos tecnologia para detectar. Não por acaso, a primeira observação de ondas gravitacionais provenientes de uma colisão de estrelas de nêutrons, ocorrida em agosto de 2017, fundou a astronomia multimensageira, um campo que não se limita a estudar o universo através da luz, mas também de outros sinais vindos do espaço.
A simulação modelou 1,5 segundo
real do evento físico, desde o momento da fusão até bem depois da formação do
buraco negro, o que, em termos de fenômenos extremos é muito tempo, uma vez que
a própria fusão acontece em milissegundos. Em termos de processamento, a equipe
utilizou 130 milhões de horas de CPU para simular o evento aparentemente tão
fugaz. Durante a simulação, foram mobilizadas entre 20 mil e 80 mil CPUs,
disponibilizadas pelo icônico supercomputador Fugaku.
Colisão de estrelas de nêutrons
Quando estrelas com massa de pelo menos 8 a 10 vezes a do Sol esgotam seu
combustível nuclear, a pressão de radiação que mantinha a estrela
"inflada" desaparece, e o núcleo colapsa em fração de segundo. Isso
gera uma explosão espetacular (a supernova) e uma esfera compacta: a estrela de
nêutrons.
Com apenas cerca de 20 km de
diâmetro, possuem uma densidade tão extrema que uma simples colher de chá de
sua matéria pesaria tanto quanto uma montanha. Quando duas dessas estrelas em
um sistema binário colidem em seus instantes finais, liberam uma quantidade de
energia tão intensa que pode ser detectada aqui na Terra. Por isso, a
reprodução caótica desse 1,5 segundo demanda muita física avançada.
O “combo” envolveu a relatividade
geral de Einstein, emissão de neutrinos e interações entre campos magnéticos
intensos com matéria nuclear ultradensa. Tudo ao mesmo tempo. Em um comunicado,
o primeiro autor do estudo, Kota Hayashi, pós-doutorando do Instituto Albert
Einstein na Alemanha, explica: “Prever os sinais multimensageiros de fusões de
estrelas de nêutrons binárias a partir de princípios básicos é extremamente
difícil. Agora conseguimos fazer exatamente isso".
A simulação modelou duas estrelas
com massas de 1,25 e 1,65 vezes a massa solar, completando cinco órbitas antes
da fusão. Durante o processo, elas perderam energia orbital emitindo ondas
gravitacionais detectáveis. A colisão resultou em colapso imediato, formou um
buraco negro e gerou ondas gravitacionais. Como foi conduzida a simulação?
A mais sofisticada simulação
computacional foi construída, paradoxalmente, de forma minimalista e sem
suposições para não “forçar” comportamentos específicos no sistema. Tudo começa
apenas com as condições iniciais essenciais: duas estrelas de nêutrons orbitando
uma em torno da outra, com fortes campos magnéticos.
O sistema binário evolui de
maneira natural: as ondas gravitacionais fazem as órbitas decaírem, elas se
aproximam, seus campos magnéticos interagem e se modificam, tudo de forma
interconectada. A simulação usa leis fundamentais da física como relatividade
geral, eletromagnetismo e hidrodinâmica relativística. As equações de estado da
matéria nuclear descrevem como a matéria se comporta sob pressões e densidades
extremamente altas.
Ou seja, os cientistas veem o que
aconteceria na natureza, sem vieses ou suposições artificiais sobre como o
sistema "deveria" se comportar. Nesse universo virtual em miniatura,
onde as leis da física podem operar livremente, não é só o buraco negro que se
forma. A matéria das colisões forma um disco de acreção ao redor dele, que, com
sua rotação rápida, reforça os campos magnéticos das estrelas. A matéria forma
um jato ao longo do eixo de rotação.
Continuando a simulação, os
pesquisadores observaram a produção de neutrinos, partículas subatômicas muito
leves e quase sem interagir com a matéria. Finalmente, surge “a cereja do
bolo”: a apoteose luminosa final de uma quilonova — a ejeção de matéria rica em
ouro, platina e outros elementos pesados. O artigo descrevendo esse trabalho
foi publicado na revista Physical Review Letters.
Msn.com

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