Nuvens de silicato descobertas na atmosfera de um exoplaneta distante
Os astrofísicos obtiveram novos e
preciosos conhecimentos sobre a formação de exoplanetas distantes e sobre o
aspeto das suas atmosferas, depois de utilizarem o Telescópio James Webb para
adquirirem imagens de dois exoplanetas jovens com um pormenor extraordinário.
Impressão artística do sistema YSES-1, que consiste de uma estrela semelhante ao Sol com aproximadamente 16 milhões de anos no centro, YSES-1 b e o seu disco circumplanetário poeirento (direita), e YSES-1 c com nuvens de silicato na sua atmosfera (esquerda). Crédito: Ellis Bogat
Entre as principais descobertas contam-se a presença de nuvens de silicato na atmosfera de um dos planetas e um disco circumplanetário que se pensa alimentar material que pode formar luas à volta do outro. Em termos mais gerais, a compreensão da formação do sistema supersolar YSES-1 fornece uma visão mais aprofundada das origens do nosso próprio Sistema Solar e dá-nos a oportunidade de observar e aprender, em tempo real, como um planeta semelhante a Júpiter se forma.
"Os exoplanetas observados
diretamente - planetas para lá do nosso Sistema Solar - são os únicos
exoplanetas que podemos fotografar", afirmou o Dr. Evert Nasedkin,
pós-doutorado da Escola de Física do TCD (Trinity College Dublin), coautor do
artigo científico publicado no passado dia 10 de junho na revista Nature.
"Estes exoplanetas são tipicamente ainda suficientemente jovens para
estarem ainda quentes devido à sua formação e é este calor, visto no
infravermelho, que nós, astrónomos, observamos".
Utilizando instrumentos
espetroscópicos a bordo do Telescópio Espacial James Webb, a Dra. Kielan Hoch e
uma vasta equipa internacional obtiveram espetros amplos de dois exoplanetas
jovens e gigantes que orbitam uma estrela semelhante ao Sol, YSES-1. Estes
planetas são várias vezes maiores do que Júpiter e orbitam longe da sua estrela
hospedeira, realçando a diversidade de sistemas exoplanetários, mesmo em torno
de estrelas como o nosso próprio Sol.
O principal objetivo da medição
dos espetros destes exoplanetas era compreender as suas atmosferas. Diferentes
moléculas e partículas de nuvens absorvem diferentes comprimentos de onda da
luz, conferindo uma impressão digital característica ao espetro de emissão dos
planetas.
O Dr. Nasedkin disse:
"Quando olhámos para o companheiro mais pequeno e mais distante, conhecido
como YSES-1 c, encontrámos a assinatura reveladora das nuvens de silicato no
infravermelho médio. Essencialmente feitas de partículas semelhantes a areia,
esta é a mais forte característica de absorção de silicatos observada até agora
num exoplaneta".
"Pensamos que isto está
relacionado com a relativa juventude dos planetas: os planetas mais jovens têm
um raio ligeiramente maior e esta atmosfera alargada pode permitir que a nuvem
absorva mais da luz emitida pelo planeta. Usando modelos detalhados,
conseguimos identificar a composição química destas nuvens, bem como pormenores
sobre as formas e tamanhos das partículas das nuvens".
O planeta interior, YSES-1 b,
proporcionou outras surpresas: embora todo o sistema planetário seja jovem, com
16,7 milhões de anos, é demasiado velho para encontrar sinais do disco de
formação planetária em torno da estrela hospedeira. Mas em YSES-1 b a equipa
observou um disco em torno do próprio planeta, que se pensa que alimenta o
planeta com material e serve de local de nascimento de luas - semelhante às
observadas em torno de Júpiter. Apenas três outros discos deste tipo foram
identificados até à data, ambos em torno de objetos significativamente mais
jovens do que YSES-1 b, levantando novas questões sobre como este disco pode
ter uma vida tão longa.
O Dr. Nasedkin acrescentou:
"Em geral, este trabalho realça as capacidades incríveis do Webb para
caracterizar atmosferas de exoplanetas. Com apenas um punhado de exoplanetas
que podem ser diretamente fotografados, o sistema YSES-1 oferece uma visão
única da física atmosférica e dos processos de formação destes gigantes
distantes".
Em termos gerais, compreender
como este sistema supersolar se formou fornece uma visão mais aprofundada das
origens do nosso próprio Sistema Solar, dando-nos a oportunidade de observar a
formação de um planeta semelhante a Júpiter em tempo real. É importante, para
saber como eram os blocos de construção do nosso próprio Sistema Solar,
compreender o tempo que demora a formação dos planetas e a composição química
no final desse processo. Os cientistas podem comparar estes sistemas jovens com
o nosso, o que dá pistas sobre a forma como os nossos planetas mudaram ao longo
do tempo.
A Dra. Kielan Hoch, bolseira
Giacconi do STScI (Space Telescope Science Institute), afirmou: "Este
programa foi proposto antes do lançamento do JWST. Era único, uma vez que
colocámos a hipótese de o instrumento NIRSpec do futuro telescópio ser capaz de
observar ambos os planetas no seu campo de visão numa única exposição,
essencialmente, dando-nos dois pelo preço de um. As nossas simulações acabaram
por estar corretas após o lançamento, fornecendo o conjunto de dados mais
detalhado de um sistema multiplanetário até à data".
"Os planetas do sistema
YSES-1 estão também demasiado separados para serem explicados através das
atuais teorias de formação, pelo que as descobertas adicionais de nuvens de
silicato distintas em torno de YSES-1 c e de pequeno material poeirento quente
em torno de YSES-1 b levam a mais mistérios e complexidades para determinar
como os planetas se formam e evoluem”.
"Esta investigação foi
também liderada por uma equipa de investigadores em início de carreira, como
pós-doutorados e estudantes, que constituem os primeiros cinco autores do
artigo científico. Este trabalho não teria sido possível sem a sua criatividade
e trabalho árduo, que é o que ajudou a fazer estas incríveis descobertas
multidisciplinares".
Astronomia OnLine

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