Alguns pares estelares "explosivos" são formados com a ajuda de uma terceira estrela
Quando as anãs brancas - os remanescentes quentes de estrelas como o nosso Sol - são orbitadas de perto por outra estrela, por vezes roubam massa à sua companheira. A matéria roubada acumula-se na superfície da anã branca, desencadeando erupções chamadas "novas".
Esta ilustração representa um sistema de três estrelas em que duas delas estão presas numa órbita gravitacional íntima. A estrela brilhante em primeiro plano, à direita, é uma anã branca que está a roubar massa à sua companheira estelar. Eventualmente, esta acumulação de massa na anã branca irá despoletar explosões periódicas. Juntas, as duas estrelas formam um objeto chamado variável cataclísmica. Uma nova investigação realizada pelo Caltech mostrou que uma terceira estrela em sistemas triplos (como a estrela aqui representada em segundo plano), pode influenciar gravitacionalmente as suas estrelas vizinhas e levar à formação de variáveis cataclísmicas. Crédito: Caltech/R. Hurt (IPAC)
Os teóricos há muito que previram como estas parcerias voláteis se formam, chamadas variáveis cataclísmicas (VCs), mas agora um novo estudo revela uma reviravolta surpreendente: nalguns casos, uma terceira estrela, que orbita mais longe do par primário, pode de facto ser a razão pela qual o casal estelar se juntou.
"Os nossos resultados
revelam outro canal de formação de VCs", diz Kareem El-Badry, professor
assistente de astronomia no Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) e
coautor de um novo artigo científico publicado na revista Publications of the
Astronomical Society of the Pacific. "Por vezes, uma terceira estrela à
espreita é fundamental", afirma. O autor principal do estudo é Cheyanne
Shariat, estudante do Caltech.
Até agora, os cientistas
acreditavam que as VCs se formavam a partir de um processo chamado evolução do
invólucro comum, no qual as estrelas parceiras são aproximadas através de um
invólucro de gás que as acomoda. Uma estrela envelhecida destinada a tornar-se
uma anã branca expande-se numa gigante vermelha que engloba ambas as estrelas,
criando um invólucro partilhado. O invólucro encurrala as duas estrelas,
fazendo-as espiralar para dentro. Eventualmente, o invólucro é ejetado,
deixando um par íntimo que se tornou suficientemente próximo para a anã branca
roubar a massa da sua companheira.
Embora uma terceira estrela não
tenha sido mencionada nestas descrições, a equipa perguntou-se se poderia estar
envolvida. Afinal, raciocinaram, a dinâmica das estrelas triplas desempenha um
papel importante noutros tipos de sistemas estelares.
Para aprofundar a questão, os
investigadores recorreram aos dados da missão Gaia da ESA, agora aposentada. Ao
analisar estas observações, identificaram 50 VCs em sistemas hierárquicos de
três estrelas, ou triplos, como os investigadores lhes chamam. Um sistema
triplo hierárquico é aquele em que duas estrelas estão localizadas bastante
perto uma da outra, enquanto a terceira está muito mais afastada e orbita o par
primário. Os resultados sugerem que pelo menos 10 por cento de todas as VCs
conhecidas fazem parte de sistemas triplos.
Este valor de 10% era superior ao
que seria de esperar se os trios não tivessem qualquer papel na formação das
variáveis cataclísmicas, pelo que os investigadores decidiram saber mais
através de simulações em computador. Realizaram as chamadas simulações de três
corpos em 2000 hipotéticos sistemas triplos; estas simulações aceleraram as
interações gravitacionais do trio de estrelas, fazendo-as evoluir ao longo do
tempo.
Em 20 por cento das simulações de
estrelas triplas, as VCs formaram-se sem o mecanismo tradicional de evolução de
invólucro comum. Nestes casos, dizem os investigadores, a terceira estrela
influenciou o binário principal.
"A gravidade da terceira
estrela faz com que as estrelas binárias tivessem uma órbita superexcêntrica, e
isto força a estrela companheira a aproximar-se da anã branca. As forças de
maré dissipam a energia e encolhem e circularizam a órbita", diz Shariat.
"A estrela não tem de entrar em espiral através do invólucro comum".
Em 60 por cento das simulações, a
estrela tripla ajudou a iniciar o processo de evolução do invólucro comum,
aproximando as duas estrelas primárias o suficiente uma da outra para serem
envolvidas no mesmo invólucro. Nos restantes 20 por cento das simulações, as
VCs formaram-se através da via tradicional de evolução do invólucro comum, que
requer apenas duas estrelas.
Quando os investigadores tiveram
em conta uma população realista de estrelas na nossa Galáxia, incluindo VCs que
se sabe terem sido formadas a partir de apenas duas estrelas, os seus modelos
teóricos previram que cerca de 40% de todas as variáveis cataclísmicas se
formam em sistemas triplos. Este valor é mais elevado do que os 10% que
observaram usando o Gaia porque, em muitos casos, as terceiras estrelas podem
ser difíceis de ver ou ter-se desvinculado da VC.
Finalmente, os resultados das
simulações permitiram fazer previsões acerca dos tipos de sistemas estelares
triplos que teriam maior probabilidade de formar VCs. Especificamente, seria de
esperar que os sistemas triplos começassem com configurações mais largas, de
tal forma que o par unido e a terceira estrela estivessem separados por mais de
100 unidades astronómicas (uma unidade astronómica, ou UA, é a distância entre
o Sol e a Terra).
Olhando para os dados do Gaia, os
investigadores chegaram a acordo: as estrelas triplas com VCs apresentavam, de
facto, separações mais amplas do que os sistemas típicos.
"Durante os últimos 50 anos,
as pessoas usaram o modelo de evolução da espiral em invólucro comum para
explicar a formação das VCs", diz El-Badry. "Ninguém tinha reparado
antes que isto estava a acontecer em grande parte nos sistemas triplos!"
Astronomia OnLine

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