Estrelas que não deveriam brilhar podem revelar o que é a matéria escura
No coração da nossa galáxia, cientistas acreditam que um tipo estranho de estrela pode estar brilhando de forma suave, mas não por causa de reações nucleares, como o nosso Sol
Imagem via Durham University
Essas estrelas, chamadas de anãs
escuras, podem estar sendo alimentadas por um combustível invisível: a matéria
escura. Se encontrarmos essas estrelas – especialmente se descobrirmos uma sem
lítio – isso pode finalmente nos mostrar o que é a matéria escura.
O que são Anãs Escuras e
Matéria Escura?
Uma equipe de cientistas dos
Estados Unidos e do Reino Unido criou o termo “anãs escuras”. Essas estrelas
não são escuras porque não emitem luz, mas porque têm uma conexão especial com
a matéria escura, um dos maiores mistérios da ciência atual. “Acreditamos que
cerca de 25% do universo é feito de um tipo de matéria que não emite luz, sendo
invisível para nossos olhos e telescópios. Só sabemos que ela existe por causa
dos efeitos gravitacionais que causa. Por isso, a chamamos de matéria escura”,
explica Jeremy Sakstein, professor de física da Universidade do Havaí e um dos
autores do estudo.
Hoje, sabemos que a matéria
escura existe e como ela se comporta, mas ainda não sabemos exatamente o que
ela é. Nos últimos 50 anos, várias hipóteses foram propostas, mas nenhuma foi
comprovada com evidências suficientes. Estudos como esse são importantes porque
oferecem formas práticas de resolver esse mistério.
Uma das principais candidatas
sendo a matéria escura são as WIMPs (Partículas Massivas de Interação Fraca, em
inglês). Essas partículas são pesadas, interagem muito pouco com a matéria
comum, não emitem luz e não são afetadas por forças eletromagnéticas, o que as
torna invisíveis. Elas só se revelam pelos efeitos gravitacionais. Para que as
anãs escuras existam, a matéria escura precisaria ser composta por WIMPs. “A
matéria escura interage gravitacionalmente, então pode ser capturada por
estrelas e se acumular dentro delas. Se isso acontecer, ela pode interagir
consigo mesma e se “aniquilar”, liberando energia que aquece a estrela”,
explica Sakstein.
Como a Matéria Escura Faz
Estrelas Brilharem?
Estrelas normais, como o Sol,
brilham porque, em seus núcleos, acontecem reações de fusão nuclear, que geram
muito calor e energia. A fusão ocorre quando a massa de uma estrela é tão
grande que a gravidade comprime a matéria em seu centro, desencadeando reações
entre os núcleos dos átomos. Isso libera energia na forma de luz. Já as anãs
escuras também emitem luz, mas não por causa da fusão nuclear. “As anãs escuras
têm uma massa muito pequena, cerca de 8% da massa do Sol”, diz Sakstein. Essa
massa não é suficiente para iniciar a fusão nuclear. Por isso, objetos assim,
comuns no universo, normalmente emitem pouca luz e são chamados de anãs
marrons.
Mas, se essas anãs marrons
estiverem em regiões com muita matéria escura – como o centro da nossa galáxia
“, elas podem se transformar em anãs escuras. “Esses objetos capturam a matéria
escura, que os ajuda a se tornarem anãs escuras. Quanto mais matéria escura ao
redor, mais elas conseguem capturar”, explica Sakstein. E, quanto mais matéria
escura se acumula dentro da estrela, mais energia é produzida quando essa
matéria se aniquila.
Para que isso aconteça, a matéria
escura precisa ser feita de WIMPs ou de partículas pesadas que interagem entre
si e produzem energia visível. Outros candidatos à matéria escura, como áxions
ou neutrinos estéreis, são leves demais para criar esse efeito.
A Pista do Lítio
Essa ideia seria apenas uma
teoria se não houvesse uma forma de identificar as anãs escuras. Por isso, os
cientistas sugerem procurar um sinal específico: o lítio-7. “Escolhemos o
lítio-7 porque ele seria um marcador único”, diz Sakstein. O lítio-7 queima
muito facilmente e desaparece rapidamente em estrelas normais. “Se encontrarmos
um objeto que parece uma anã escura, podemos verificar se ele tem lítio. Se for
uma anã marrom ou algo parecido, o lítio não estaria lá.”
Ferramentas como o Telescópio
Espacial James Webb já podem detectar objetos celestes muito frios, como as
anãs escuras. Outra possibilidade, segundo Sakstein, é estudar um grupo grande
de objetos e analisar, de forma estatística, se alguns deles se comportam como
anãs escuras.
O que as Anãs Escuras
Podem Revelar?
Se, nos próximos anos,
conseguirmos identificar uma ou mais anãs escuras, isso seria uma forte
evidência de que a matéria escura é composta por WIMPs? “Seria uma prova bem
convincente. Com candidatos leves, como áxions, não seria possível criar algo
como uma anã escura. Se encontrarmos uma, isso mostraria que a matéria escura é
pesada, interage fortemente consigo mesma, mas só levemente com a matéria
comum. Isso inclui WIMPs, mas também outros modelos mais exóticos”, conclui
Sakstein. Encontrar uma anã escura não provaria definitivamente que a matéria
escura é feita de WIMPs, mas indicaria que ela é WIMP ou algo que se comporta
de forma muito parecida.
Terrarara.com.br

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