Um planeta que desafia as regras: astrônomos descobrem um mundo que gira ao contrário
Astrônomos encontraram um planeta raro que orbita na direção oposta ao movimento das estrelas em um sistema binário, ou seja, um sistema com duas estrelas
Esta impressão artística ilustra
um par binário de estrelas gigantes. Crédito: NOIRLab/NSF/AURA/J. da Silva
(Spaceengine)/M. Zamani
Em sistemas assim, a presença de
uma estrela companheira tão próxima torna difícil a formação de planetas e a
manutenção de órbitas estáveis ao redor de apenas uma das estrelas.
Uma equipe de cientistas de
vários países, liderada pelo professor Man Hoi Lee, da Universidade de Hong
Kong, junto com o estudante Ho Wan Cheng, confirmou essa descoberta
surpreendente. Eles identificaram um planeta com uma órbita retrógrada (que se
move na direção contrária às estrelas) no sistema binário nu Octantis. O
estudo, publicado na revista *Nature*, também explica como a evolução das
estrelas pode ter influenciado o surgimento desse planeta.
O Sistema nu Octantis
O sistema nu Octantis é composto
por duas estrelas que orbitam uma à outra a cada 1.050 dias. A estrela
principal, nu Oct A, é uma subgigante com cerca de 1,6 vezes a massa do Sol. Já
a estrela secundária, nu Oct B, tem aproximadamente metade da massa do Sol.
Primeiras Pistas de um
Planeta
Em 2004, o Dr. David Ramm, agora
coautor do estudo, observou algo curioso enquanto fazia seu doutorado na
Universidade de Canterbury, na Nova Zelândia. Ele analisou dados de velocidade
radial, que medem o movimento de uma estrela em direção ou para longe da Terra,
e encontrou sinais de um possível planeta. Esses sinais sugeriam a existência
de um planeta com cerca de duas vezes a massa de Júpiter, orbitando a nu Oct A
a cada 400 dias.
No entanto, essa descoberta
causou polêmica. Para que a órbita desse planeta fosse estável, ela precisava
ser retrógrada, ou seja, na direção oposta à órbita das estrelas. Isso era algo
inédito, e havia fortes razões teóricas que indicavam que um planeta assim não
poderia existir.
Confirmando o Planeta
Para esclarecer a questão, a
equipe usou o espectrógrafo HARPS, do Observatório Europeu do Sul (ESO), para
fazer novas medições muito precisas. Após analisar 18 anos de dados, eles
confirmaram que o planeta existe e que sua órbita é realmente retrógrada, quase
no mesmo plano da órbita das estrelas. “Nossa análise mostrou que a órbita do
planeta só é estável se for retrógrada”, explicou Ho Wan Cheng, o principal
autor do estudo.
O Mistério da Estrela nu
Oct B
Outro objetivo do estudo foi
entender o que é a nu Oct B. Com base em sua massa, ela poderia ser uma estrela
de baixa massa ou uma anã branca – o que sobra de uma estrela após ela esgotar
seu combustível nuclear. Usando o instrumento SPHERE, do Very Large Telescope
do ESO, os cientistas descobriram que nu Oct B é uma anã branca muito fraca.
Isso indica que ela já perdeu a maior parte de sua massa original e está na
fase final de sua evolução.
A História do Sistema
A equipe investigou como o
sistema nu Octantis era no passado. Eles calcularam que ele tem cerca de 2,9
bilhões de anos e que nu Oct B, originalmente, tinha 2,4 vezes a massa do Sol.
Há cerca de 2 bilhões de anos, ela se transformou em uma anã branca. “Nossa
análise mostrou que o planeta não poderia ter se formado ao redor da nu Oct A
ao mesmo tempo que as estrelas”, disse Cheng.
Como o Planeta Surgiu?
Saber que nu Oct B é uma anã
branca trouxe novas ideias sobre a origem desse planeta. Quando nu Oct B se
tornou uma anã branca, ela liberou muito material. Esse material pode ter
formado um disco ao redor da nu Oct A, onde o planeta retrógrado teria se formado.
Outra possibilidade é que o planeta estava em uma órbita normal ao redor das
duas estrelas e, depois, foi “capturado? para uma órbita retrógrada ao redor da
nu Oct A.
“Podemos estar vendo o primeiro
caso claro de um planeta de segunda geração, que se formou a partir do material
expelido por nu Oct B ou foi capturado de uma órbita anterior”, explicou o
professor Man Hoi Lee. “Essa descoberta é empolgante porque usamos vários
métodos para entender o sistema por completo”, disse a Dra. Sabine Reffert,
coautora do estudo.
Por que Isso É Importante?
Essa descoberta mostra que
planetas podem existir em condições muito difíceis, como em sistemas com
estrelas que mudaram drasticamente. Estudar casos como o do nu Octantis ajuda
os cientistas a entender melhor como os planetas se formam e evoluem em diferentes
partes do Universo.
Terrarara.com.br

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