Cientistas começam a revelar a verdade sobre a composição do núcleo interno da Terra
O núcleo rico em ferro no centro do nosso planeta tem sido uma parte crucial da evolução da Terra. O núcleo não só alimenta o campo magnético que protege a nossa atmosfera, superfície e oceanos da radiação solar, como também influencia a tectônica de placas que remodela continuamente os continentes.
Ilustração do sistema terrestre,
da interação com o vento solar aos processos no interior do planeta: novo
estudo aponta que núcleo da Terra deve ter ao menos uma parte de carbono e
possivelmente oxigênio, além de ferro e provavelmente silício © Alfred
Wilson-Spencer
Mas, apesar de sua importância,
muitas das propriedades mais fundamentais do núcleo da Terra são desconhecidas.
Não sabemos exatamente qual é sua temperatura, de que é feito ou quando começou
a se solidificar. Felizmente, uma descoberta recente feita por mim e meus
colegas nos aproxima muito mais da resposta para esses três mistérios.
Sabemos que a temperatura do
núcleo interno da Terra é de, aproximadamente, 5.000 Kelvin (K) (4.727 °C). Ele
já foi líquido, mas esfriou e se tornou sólido com o tempo, expandindo-se para
fora nesse processo. À medida que esfria, ele libera calor para o manto acima,
impulsionando as correntes de magma responsáveis tectônica de placas.
Esse mesmo resfriamento também
gera o campo magnético da Terra. Atualmente, a maior parte da energia do campo
vem do esfriamento da parte líquida do núcleo e do crescimento do núcleo
interno sólido em seu centro.
Mas como não podemos acessar o
núcleo, temos que estimar suas propriedades para entender como ele está
esfriando.
Uma parte fundamental para
compreender o núcleo é saber sua temperatura de fusão. Sabemos onde fica a
fronteira entre o núcleo interno sólido e o núcleo externo líquido graças à
sismologia (o estudo dos terremotos). A temperatura do núcleo deve ser igual à
sua temperatura de fusão nesse local, pois é onde ele está se solidificando.
Portanto, se soubermos exatamente qual é a temperatura de fusão, poderemos
descobrir mais sobre a temperatura exata do núcleo – e de que ele é feito.
Química misteriosa
Tradicionalmente, temos duas
maneiras de descobrir de que o núcleo é feito: meteoritos e sismologia. Ao
examinar a química dos meteoritos — que se acredita serem pedaços de planetas
que nunca se formaram ou pedaços dos núcleos de planetas semelhantes à Terra
que foram destruídos —, podemos ter uma ideia do que nosso núcleo pode ser
composto.
O problema é que isso nos dá
apenas uma ideia aproximada. Os meteoritos nos mostram que o núcleo deve ser
feito de ferro e níquel, e talvez alguns por cento de silício ou enxofre, mas é
difícil ser mais específico do que isso.
A sismologia, por outro lado, é
muito mais específica. Quando as ondas sonoras dos terremotos viajam pelo
planeta, elas aceleram e desaceleram dependendo dos materiais pelos quais
passam. Comparando o tempo de viagem dessas ondas, do terremoto ao sismômetro,
com a velocidade com que as ondas viajam através de minerais e metais
identificada em experimentos, podemos ter uma ideia do que compõe o interior da
Terra.
Observamos que estes tempos de
viagem exigem que o núcleo interno da Terra seja cerca de 10% menos denso do
que o ferro puro e que o núcleo externo líquido seja mais denso do que o núcleo
interno sólido. Apenas algumas propriedades químicas conhecidas do núcleo podem
explicar estas características.
Mas mesmo entre uma pequena
seleção de possíveis constituintes, as temperaturas potenciais de fusão variam
em centenas de graus — deixando-nos sem saber nada sobre as propriedades
precisas do núcleo.
Novos limites
Em nossa nova pesquisa,
utilizamos a física mineral para estudar como o núcleo pode ter começado a se
solidificar, descobrindo uma nova maneira de compreender a química do núcleo. E
essa abordagem parece ser ainda mais específica do que a sismologia e os
meteoritos.
Pesquisas que simulam como os
átomos em metais líquidos se unem para formar sólidos descobriram que algumas
ligas requerem um “super-resfriamento” mais intenso do que outras.
Super-resfriamento é quando um líquido é resfriado abaixo de sua temperatura de
fusão. Quanto mais intenso for o super-resfriamento, mais frequentemente os
átomos se unirão para formar sólidos, fazendo com que o líquido congele mais
rapidamente. Uma garrafa de água no congelador pode ser super-resfriada a -5 °C
por horas antes de congelar, enquanto o granizo se forma em minutos quando as
gotículas de água são resfriadas a -30 °C nas nuvens.
Ao explorar todas as temperaturas
de fusão possíveis do núcleo, descobrimos que o máximo de super-resfriamento
que o núcleo poderia ter sofrido é de cerca de 420 °C abaixo da temperatura de
fusão — qualquer coisa além disso e o núcleo interno seria maior do que a
sismologia constata. Mas o ferro puro requer um super-resfriamento impossível
de ~1000 °C para se solidificar. Se resfriado tanto assim, todo o núcleo teria
virado sólido, contrariando as observações sismológicas.
Adicionar silício e enxofre, que
tanto os meteoritos quanto a sismologia sugerem que poderiam estar presentes no
núcleo, só piora esse problema – exigindo ainda mais super-resfriamento.
Nossa nova pesquisa explora o
efeito da presença de carbono no núcleo. Se 2,4% da massa do núcleo fosse
carbono, seria necessário um super-resfriamento de cerca de 420 °C para começar
a solidificar o núcleo interno. Esta é a primeira vez que se demonstra que a
solidificação do núcleo é possível. Se o teor de carbono do núcleo fosse de
3,8%, seria necessário apenas um super-resfriamento de 266 °C. Isso ainda é
muito, mas muito mais plausível.
Esta nova descoberta mostra que,
embora a sismologia possa limitar a química possível do núcleo a várias
combinações diferentes de elementos, muitas delas não conseguem explicar a
presença do núcleo interno sólido no centro do planeta.
O núcleo não pode ser composto
apenas por ferro e carbono, porque as propriedades sísmicas do núcleo requerem
pelo menos mais um elemento. A nossa investigação sugere que é mais provável
que contenha um pouco de oxigênio e, possivelmente, também silício.
Isso representa um passo
significativo para entender do que o núcleo é feito, como ele começou a
resfriar e como moldou nosso planeta de dentro para fora.
Msn.com

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