Nave mais distante da Terra vai mapear bolha protetora do Sistema Solar
Ao redor do nosso sistema solar existe um enigmático escudo cósmico natural chamado heliosfera — e uma nova missão pretende ajudar os astrônomos a compreendê-lo melhor.
Nave mais distante da Terra vai
mapear bolha protetora do Sistema Solar
Criada pelo vento solar, um fluxo
constante de partículas carregadas que emanam do Sol, a heliosfera atua como
uma enorme bolha que protege os planetas do nosso sistema solar da radiação
cósmica que permeia a Via Láctea, nossa galáxia.
Além do campo magnético protetor
da Terra, a heliosfera tem um papel fundamental para tornar a vida possível em
nosso planeta — e talvez tenha sido crucial para a existência de vida em outros
planetas, como Marte.
Mais de meia dúzia de missões já
contribuíram para a compreensão da heliosfera pelos astrônomos, e duas sondas
ainda em operação, as Voyager, coletaram dados importantes após deixarem a
heliosfera para explorar o espaço interestelar.
A nova missão Imap (Sonda de
Mapeamento e Aceleração Interestelar, em português) foi projetada para
investigar como o Sol forma seu vento solar e como esse vento solar interage
com o espaço interestelar na fronteira da heliosfera, que começa a uma distância
três vezes maior que a distância entre a Terra e Plutão, segundo a Nasa.
Os 10 instrumentos da nave
espacial também preencherão lacunas no mapa existente da heliosfera, montado a
partir de dados coletados por missões anteriores, e ajudarão a explicar melhor
como a heliosfera protege nosso sistema solar dos raios cósmicos prejudiciais,
as partículas mais energéticas do universo.
Junto com outras duas missões de
clima espacial, com lançamento previsto para quarta-feira (24) no mesmo
foguete, o Imap ajudará os cientistas a prever melhor quando as tempestades
solares liberadas pelo Sol podem afetar nosso planeta. Quando direcionada à
Terra, a radiação intensa dessas tempestades, também conhecidas como clima
espacial, pode representar riscos para astronautas na Estação Espacial
Internacional, além de interferir em comunicações, rede elétrica, navegação e
operações de rádio e satélite.
"Este próximo conjunto de
missões é a última caronagem cósmica", disse o Joe Westlake, diretor da
Divisão de Heliofísica da Nasa, durante uma coletiva de imprensa no domingo
(21). "Elas fornecerão uma visão sem precedentes do clima espacial. Todos
os humanos na Terra, assim como praticamente todos os sistemas envolvidos na
exploração espacial e nas necessidades humanas, são afetados pelo clima
espacial."
Mapeando a heliosfera
A heliosfera foi teorizada pela
primeira vez por vários cientistas que investigavam o conceito de raios
cósmicos e vento solar no final da década de 1950, segundo a Nasa.
Os cientistas acreditavam que o
Sol fornecia uma rede de campos magnéticos e ventos solares que criava uma
fronteira ao redor da Terra e do resto do sistema solar.
A Mariner 2, primeira missão
bem-sucedida a outro planeta que realizou um sobrevoo de Vênus em 1962, foi
também a primeira a medir o vento solar, comprovando sua existência. Medições
diretas realizadas pelas missões Pioneer 10 e 11 na década de 1970, assim como
as sondas Voyager, forneceram evidências adicionais da heliosfera.
Os cientistas estão ansiosos para
conhecer como são as fronteiras da heliosfera, algo que as sondas Voyager já
ofereceram vislumbres tentadores no passado. Elas são as únicas duas
espaçonaves a atravessar a heliosfera.
A Voyager 1 alcançou a fronteira
da heliosfera em 2012, enquanto a Voyager 2, mais lenta, cruzou esse limite em
2018, fornecendo registros em duas localizações específicas. As informações
coletadas por essas sondas estão ajudando os cientistas a compreender a forma
da heliosfera, semelhante a um cometa.
O satélite Ibex (Explorador da
Fronteira Interestelar) vem mapeando a heliosfera desde seu lançamento em 2008.
Porém, o Imappode explorar e mapear as fronteiras da heliosfera como nunca
antes, pois possui instrumentos com imageamento mais rápido e capazes de uma
resolução 30 vezes maior.
Uma vez que alcance uma órbita a
cerca de 1,6 milhão de quilômetros da Terra, o Imap também capturará
observações do vento solar em tempo real e medirá partículas que viajam do Sol,
estudará a fronteira da heliosfera entre 9,7 bilhões e 14,5 bilhões de quilômetros
de distância, e até mesmo coletará dados do espaço interestelar.
Predominantemente, o Imap medirá
átomos neutros energéticos, chamados ENAs, ou partículas sem carga que se
formam quando um íon energético carregado colide com um átomo neutro de
movimento lento. O processo que forma essas partículas, encontradas onde quer
que haja plasma, ou gás carregado, no espaço, também ocorre por toda a
heliosfera e ao longo de sua fronteira.
O Imap dependerá do rastreamento
dessas partículas para criar um mapa mais completo da heliosfera, segundo a
Nasa.
Segundo a Nasa, as partículas
viajam em linha reta, sem serem afetadas por campos magnéticos por não
possuírem carga, permitindo que o Imap colete ENAs próximo à Terra e rastreie
suas origens, como as fronteiras invisíveis da heliosfera.
"O Imap vai produzir imagens
incrivelmente detalhadas que evoluirão ao longo do tempo dessa região de
interação", afirmou David McComas, investigador principal do Imap e
astrofísico da Universidade de Princeton. "Será possível entender como é a
blindagem, como ela funciona e qual sua aparência."
McComas acrescentou que nosso
sistema solar não é o único a ter algo como uma heliosfera, e que astrosferas
brilhantes já foram observadas ao redor de outras estrelas.
Monitoramento do clima
espacial
O lançamento do IMAP estava
previsto para esta quarta-feira (24) às 8h15 (horário da costa leste dos EUA),
junto com o Observatório Carruthers da Geocorona da Nasa e o SWFO-L1 (Space
Weather Follow On-Lagrange 1) da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica,
a bordo de um foguete SpaceX Falcon 9 no Centro Espacial Kennedy da Nasa, na
Flórida. A Nasa transmitiu o lançamento ao vivo pelo YouTube.
O Observatório Carruthers da
Geocorona é um pequeno satélite dedicado à observação da exosfera, a camada
atmosférica mais externa da Terra. A missão Carruthers capturará imagens do
brilho ultravioleta tênue da região, chamado geocorona, para ajudar a responder
questões sobre a forma, tamanho e densidade da exosfera.
A missão recebeu o nome do George
Carruthers, que desenvolveu uma câmera ultravioleta como primeiro observatório
lunar, instalada durante a missão Apollo 16. A câmera, que ainda permanece na
região das terras altas de Descartes na Lua, fotografou a Terra em luz
ultravioleta e capturou a primeira imagem da exosfera em 1972.
A missão Carruthers medirá as
mudanças e os efeitos do clima espacial quando este atingir a Terra,
considerando que a exosfera marca uma fronteira de transição entre a Terra e o
espaço.
Já a missão SWFO-L1 funcionará
como um detector de tempestades solares, fornecendo alertas antecipados para
proteger astronautas em órbita baixa da Terra e satélites que fornecem
comunicações críticas no planeta.
É uma ferramenta que se tornará
ainda mais necessária conforme os astronautas se aventuram mais profundamente
no espaço.
"Acredito que estamos
melhorando... mas uma previsão realmente sólida ainda é algo que estamos
buscando", disse Mark Clampin, vice-administrador associado interino da
Diretoria de Missão Científica da Nasa, durante uma coletiva de imprensa sobre
a próxima missão Artemis II ao redor da Lua. "E obviamente as missões que
estamos lançando agora nos darão uma compreensão muito melhor não apenas de uma
parte do problema, mas do problema como um todo, desde o que está acontecendo
no Sol até como isso se propaga a partir dele, e se isso se torna um problema
real ou não."
O telescópio coronógrafo compacto
do satélite monitorará a atividade solar e medirá o vento solar, fornecendo um
fluxo constante de dados para o Centro de Previsão do Clima Espacial da NOAA.
As imagens de tempestades solares captadas pelo satélite podem ser enviadas ao
centro em 30 minutos, enquanto outras missões atuais, como o Observatório Solar
e Heliosférico da Nasa e da Agência Espacial Europeia, lançado em 1995, podem
levar até oito horas.
"Os dados essenciais do
SWFO-L1 são nossa linha vital para manter as luzes acesas, os aviões voando e
os satélites seguros, garantindo que a América esteja preparada para o que o
Sol enviar em nossa direção", disse Clinton Wallace, diretor do Centro de
Previsão do Clima Espacial da NOAA.
Msn.com

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