A matéria escura e a energia escura podem ser apenas uma ilusão cósmica
Os astrónomos pensam, há décadas, que a matéria escura e a energia escura constituem a maior parte do Universo. No entanto, um novo estudo sugere que poderão não existir de todo. Em vez disso, o que nos parece ser matéria e energia escuras pode ser simplesmente o efeito das forças naturais do Universo enfraquecendo lentamente à medida que este envelhece.
Imagem da galáxia NGC 7038,
obtida pelo Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA. Esta galáxia espiral está
situada a 220 milhões de anos-luz da Terra na direção da constelação austral do
Índio. Crédito: ESA/Hubble e NASA, D. Jones; reconhecimento - G. Anand, L.
Shatz
Liderado por Rajendra Gupta,
professor no Departamento de Física da Universidade de Otava, o estudo afirma
que se as forças básicas da natureza (como a gravidade) mudarem lentamente ao
longo do tempo e no espaço, podem explicar os estranhos fenómenos que
observamos, tais como a forma como as galáxias evoluem e giram e como o
Universo se expande.
Desafiando conceitos
estabelecidos
"As forças do Universo
enfraquecem, em média, à medida que este se expande", explica o professor
Gupta. "Este enfraquecimento faz com que pareça que existe um impulso
misterioso que faz com que o Universo se expanda mais rapidamente (que é
identificado como a energia escura). No entanto, à escala das galáxias e dos
enxames de galáxias, a variação destas forças no espaço gravitacionalmente
limitado resulta numa gravidade extra (que se considera ser devida à matéria
escura). Mas estas coisas podem ser apenas ilusões, resultantes da evolução das
constantes que definem a força das forças".
E acrescenta: "Há dois
fenómenos muito diferentes que devem ser explicados pela matéria escura e pela
energia escura: o primeiro é à escala cosmológica, ou seja, a uma escala
superior a 600 milhões de anos-luz, assumindo que o Universo é homogéneo e
igual em todas as direções. O segundo é à escala astrofísica, ou seja, a uma
escala mais pequena o Universo é muito irregular e depende da direção. No
modelo padrão, os dois cenários requerem equações diferentes para explicar as
observações usando matéria escura e energia escura. O nosso é o único que as
explica com a mesma equação e sem necessidade de matéria ou energia
escuras".
"O que é realmente excitante
é que esta nova abordagem permite-nos explicar o que vemos no céu: a rotação
das galáxias, o agrupamento de galáxias e até a forma como a luz se curva em
torno de objetos massivos, sem termos de imaginar que há algo escondido lá
fora. Tudo isto é apenas o resultado da variação das constantes da natureza à
medida que o Universo envelhece e se torna irregular".
Novo modelo aplicado à
escala astrofísica
No ano passado, o professor Gupta
pôs em causa a existência da matéria escura no Universo no seu estudo à escala
cosmológica. Neste trabalho à escala astrofísica, questionou os modelos
teóricos atuais para as curvas de rotação das galáxias.
No novo modelo, o parâmetro
frequentemente designado por α emerge do facto de se permitir a evolução das
constantes de acoplamento. Com efeito, α comporta-se como uma
"componente" extra nas equações gravitacionais que produz efeitos
semelhantes aos que os astrónomos atribuem à matéria escura e à energia escura;
Em escalas cosmológicas, α é
tratado como uma constante (por exemplo, determinado pelo ajuste de dados de
supernovas). Mas localmente (à escala astrofísica), numa galáxia, dado que a
distribuição da matéria comum (buracos negros, estrelas, planetas, gás, etc.)
varia drasticamente, α varia, fazendo com que o efeito gravitacional extra
dependa da localização dessa matéria. Assim, a nova teoria prevê que, em
regiões onde existe muita matéria comum, o efeito gravitacional extra é menor,
e onde a densidade de matéria detetável é baixa, é maior;
De facto, em vez de adicionar
halos de matéria escura à volta das galáxias, a atração gravitacional extra vem
de α no novo modelo. Reproduz as "curvas de rotação planas"
observadas (estrelas que se movem mais depressa do que o esperado nas partes
exteriores das galáxias).
Implicações para a
astronomia
O professor Gupta pensa que esta
ideia pode resolver alguns dos maiores quebra-cabeças da astronomia.
"Durante anos, lutámos para explicar como é que as galáxias do Universo
primitivo se formaram tão rapidamente e se tornaram tão massivas", afirma.
"Com o nosso modelo, não é necessário assumir quaisquer partículas
exóticas ou quebrar as regras da física. A linha temporal do Universo
simplesmente estica-se, quase duplicando a idade do Universo e abrindo caminho
para tudo o que observamos".
Efetivamente, a linha temporal
alargada para a formação de estrelas e galáxias torna muito mais fácil explicar
como é que estruturas grandes e complexas como galáxias e buracos negros podem
ter aparecido tão cedo no Universo.
Esta teoria pode mudar
completamente a forma como pensamos sobre o Universo. Dá mesmo a entender que a
procura de partículas de matéria escura, algo em que os cientistas gastaram
anos e milhares de milhões de dólares, poderá afinal não ser necessária. Mesmo
que as partículas exóticas sejam encontradas experimentalmente, teriam de
constituir cerca de seis vezes a massa da matéria comum.
"Por vezes, a explicação
mais simples é a melhor. Talvez os maiores segredos do Universo sejam apenas
partidas pregadas pelas constantes evolutivas da natureza", conclui o
Professor Gupta.
Astronomia OnLine

Comentários
Postar um comentário
Se você achou interessante essa postagem deixe seu comentario!